O globo, n. 30.167, 11/03/2016. País, p. 11

Entidades repudiam agressões à imprensa

Abert, ANJ e Abraji cobram do governo ações para evitar violência contra profissionais durante manifestações

Por: RENATA MARIZ

 

- BRASÍLIA- Em meio ao clima de radicalização política, com episódios de agressão a profissionais de imprensa, entidades representantes do setor de comunicação cobraram ontem do governo federal que oriente as polícias militares e civis a garantir a segurança dos profissionais, sobretudo nas próximas manifestações de rua. Integrantes da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão ( Abert) e da Associação Nacional de Jornais ( ANJ), entre outras, se reuniram com o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Edinho Silva, no Palácio do Planalto.

As entidades lembraram de agressões ocorridas na última sexta- feira, durante a cobertura do depoimento do expresidente Lula. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo ( Abraji) divulgou nota de repúdio contra ataques praticados nos últimos dois dias por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ( MST), que invadiram a sede do Grupo Jaime Câmara, em Goiânia, para protestar contra a TV Globo, na última terça- feira, e ontem fizeram uma equipe de reportagem refém no Paraná.

 

MEDIDAS ENÉRGICAS

Daniel Slaviero, presidente da Abert, defendeu medidas enérgicas do governo diante do cenário de acirramento e de violência contra a imprensa.

— Temos pedido que o governo federal tome todas as providências cabíveis, no âmbito da União, através do Ministério da Justiça, mas também no âmbito dos estados, que têm a função primordial da segurança nesses eventos ( manifestações) que ocorreram e que ocorrerão nos próximos dias — afirmou Slaviero. — Está havendo uma inversão de valores. Um microfone, uma câmera, uma máquina fotográfica e até mesmo um celular estão sendo considerados pelos policiais uma arma, e esses policiais têm agredido, em grande maioria, os profissionais da imprensa.

A Abert, a Associação Brasileira de Rádio e Televisão ( Abratel), a Associação Nacional de Editores de Revistas ( Aner) e a ANJ também divulgaram nota conjunta com o apoio do escritório da Unesco no Brasil. “É equivocado o pensamento daqueles que creem que os veículos de comunicação são protagonistas do processo político. A imprensa cumpre seu papel constitucional de cobrir e reportar os fatos de interesse da sociedade. É lamentável, portanto, que as empresas cheguem ao ponto de ser obrigadas a colocar em prática esquemas especiais de proteção a repórteres, jornalistas, cinegrafistas, fotógrafos e técnicos. As agressões, danificações de equipamentos ou qualquer ato de vandalismo são formas de intimidar e cercear o trabalho dos veículos de comunicação”, diz a nota.

As entidades “reiteram o seu compromisso diário com a sociedade brasileira de cobrir todo e qualquer fato com isenção, de modo a assegurar ao cidadão o pleno acesso à informação e à pluralidade de ideias e de pensamento.”

Após a reunião, Edinho condenou a violência, independentemente de sua origem, e reafirmou o compromisso do governo com a liberdade de imprensa.

— A violência não é boa em hipótese alguma, nem a violência daqueles que defendem nem a dos que criticam o governo. A violência tem que ser coibida o tempo todo, independente de quem deu origem ao ato — afirmou o ministro, evitando responder se os movimentos pró- governo estão acirrando os conflitos.

Edinho evitou apontar o cenário político como o único responsável pelo clima de “intolerância”, mas ressaltou a responsabilidade das “lideranças governamentais” e dos veículos de comunicação na tarefa de coibir abusos e denunciá- los:

— Se nós procurarmos um único fator, não vamos encontrar a origem do crescimento da intolerância. Agora, é inegável que no ambiente que estamos vivendo a intolerância cresce.

De acordo com as entidades, só em 2016 já ocorreram 57 casos de agressões, intimidações, ameaças e outras violências contra profissionais da imprensa ou empresas no país — praticamente metade dos 116 ataques registrados ao longo de 2015, quando houve oito mortes de jornalistas relacionadas ao exercício da profissão. Os números, segundo a Abert, põem o Brasil como o quinto país mais perigoso para a prática do jornalismo.

Em nota, a Abraji classificou como “inaceitável” episódios de violência contra o profissionais, lembrando que, apenas nos últimos dois dias, integrantes do MST invadiram o prédio em Goiânia onde funcionam uma afiliada da TV Globo, a Rádio CBN e dois jornais. Eles barraram a entrada e saída dos funcionários e picharam as instalações.

Na quarta- feira, a repórter Patricia Sonsin e o repórter cinematográfico Davi Ferreira, da afiliada da Band em Cascavel ( PR), foram ameaçados e retidos por integrantes do MST quando tentavam fazer reportagem sobre a ocupação de fazendas em Tarobá ( PR). Os profissionais foram obrigados a acompanhar o grupo até o acampamento, sob o risco de terem os equipamentos quebrados.

“Sem prejuízo da liberdade de manifestação política, é inaceitável o uso da violência para tentar intimidar e constranger o trabalho de repórteres que cumprem o dever de informar à sociedade e, por isso, devem ser respeitados. A Abraji espera que os responsáveis sejam identificados e punidos”, diz a nota.

 

 

“Um microfone, uma câmera, uma máquina fotográfica e até mesmo um celular estão sendo considerados pelos policiais uma arma”

Daniel Slaviero

Presidente da Abert