O globo, n. 30.166, 10/03/2016. País, p. 5
Em busca de blindagem contra investigações, Lula vai a Brasília
Por: JÚNIA GAMA, SIMONE IGLESIAS, CRISTIANE JUNGBLUT,EVANDRO ÉBOLI EDUARDO BARRETO
-BRASÍLIA- Em busca de blindagem contra as investigações da Operação Lava- Jato, o ex- presidente Lula manteve ontem negociações com a presidente Dilma Rousseff e ministros. Ao fim de sucessivas reuniões no Palácio da Alvorada — e também na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), onde compareceram cerca de 20 senadores aliados —, o Palácio do Planalto abriu as portas para que ele se torne o mais novo integrante do governo.
Com status de ministro, Lula obteria foro privilegiado e se livraria do juiz federal Sérgio Moro, que está à frente das investigações da Lava- Jato na primeira instância da Justiça, e de um eventual mandado de prisão. Sua entrada no governo seria ainda uma forma de a administração petista tentar superar a crise política e econômica.
No entanto, interlocutores do ex- presidente afirmam que ele resiste à ideia por dois motivos: o temor de parecer covarde ao fugir de uma possível prisão e a necessidade de ter autonomia total como ministro, o que poderia parecer uma “renúncia branca” de Dilma. Isso, dizem auxiliares da presidente, ela não se mostra disposta a aceitar.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, a nomeação de Lula para um ministério é uma “unanimidade” e depende somente de sua concordância. Lula apenas escolheria a pasta a comandar para exercer duas importantes funções: organizar uma frente contra o impeachment e ajudar na aprovação de medidas que recuperem a economia.
PARA PLANALTO, LULA DIRÁ
“SIM” A denúncia contra Lula apresentada ontem pelo Ministério Público de São Paulo foi mal recebida pelo Planalto e fez aumentar a chance de Lula aceitar o cargo de ministro. A avaliação no Planalto é que a denúncia “foi muito política”, principalmente por ocorrer a quatro dias dos protestos. No governo, é dado como certo que Lula vai dizer “sim”.
Ministros, senadores e deputados petistas têm feito apelos para que Lula seja indicado ministro. Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, defendeu a proposta:
— Quem não quer Pelé jogando no seu time?
No entanto, há no PT dúvidas se essa seria a melhor opção para Lula e o partido.
— É melhor Lula ser preso e fazermos barulho, vigília na cadeia, do que ele ser acusado de covarde. E, para salvar a economia, Dilma teria que dar carta branca para Lula tomar decisões. Acho que ela não topa — afirmou o deputado Reginaldo Lopes ( PT- MG).
Crítico do governo Dilma, o senador Lindbergh Farias ( PTRJ), que esteve com Lula de manhã na casa de Renan, disse que o ex- presidente não descarta assumir um ministério:
— Concordo que ele vá para o governo, desde que o governo mude. Entrar para continuar como está aí é virar sócio de uma experiência fracassada. Pode ser uma boa opção para ele ter um julgamento isento no Supremo, porque a Justiça do Paraná está cometendo ilegalidades para condená- lo artificialmente. Mas é algo que tem de ser bem analisado.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), propôs que Lula assuma o papel de coordenador político, mas fora do governo:
— Seria uma coordenação macro, com o objetivo de unir os componentes da aliança.
Durante todo o dia, diversas opções de ministérios para Lula foram avaliadas. Além de Fazenda, Casa Civil, Secretaria de Governo e Relações Exteriores, falou- se na possibilidade de elevar o status do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Assim, Lula teria a estrutura necessária para negociar com a sociedade civil, o empresariado e o Congresso.
Segundo auxiliares palacianos, Lula tem dito a Dilma que ainda não se decidiu porque considera polêmico assumir um ministério e enfrentar o desgaste de ser acusado de usar a máquina pública para escapar da Lava- Jato. Mas, no governo, a avaliação é que haverá desgaste tanto se ele entrar no governo quanto se for preso.
PRESSA PARA A DECISÃO
Há um sentimento de urgência sobre a decisão, devido ao temor de que um mandado de prisão contra Lula seja expedido em breve. No Planalto, temese que isso aconteça esta semana, antes das manifestações de domingo. Por isso, cresceram as pressões para que ele integre o governo.
Preocupado com o que chamou de ilegalidades na LavaJato, o deputado Wadih Damous ( PT- RJ) disse que estuda apresentar um projeto de lei que restabeleça o foro privilegiado a ex- presidentes.
Já a oposição reagiu à possibilidade de Lula se tornar ministro de Dilma.
— Nenhum homem público está acima da lei. Se isso se consagrar e ele assumir o ministério, acho preocupante no que diz respeito às investigações — disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG).
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Por: Cristiane Jungblut
Investigados na Operação Lava- Jato, o expresidente Lula e o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDBAL), comandaram ontem reuniões em que se disseram dispostos a costurar um pacto com a oposição, numa tentativa de superar a atual crise e salvar o governo de Dilma Rousseff. Renan — um dos senadores citados pelo ex- líder do governo no Senado Delcídio Amaral, que negocia uma delação premiada — propôs que sejam procurados os expresidentes Fernando Henrique e José Sarney.
Ao final do encontro, na frente dos fotógrafos, Renan entregou a Lula um exemplar da Constituição.
— Ele ( Lula) falou da necessidade de costurarmos a união nacional, que não tinha dificuldade de conversar com qualquer personalidade da oposição. Ele quer ajudar, quer colaborar com saídas — disse Renan. — Ele disse que quer ajudar o Brasil, o governo e que, para fazer isso, não precisa ser nomeado ministro.
O presidente do Senado afirmou que os dois não trataram do impeachment da presidente Dilma.
— Não tratamos de impeachment. Falamos da crise econômica e política. ( Cristiane Jungblut)
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Por: TIAGO DANTAS
- SÃO PAULO- O Sindicato dos Advogados de São Paulo enviou ontem uma representação contra o juiz Sérgio Moro ao Conselho Nacional de Justiça ( CNJ), atendendo a pedido feito pelo advogado Roberto Teixeira, que defende o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A iniciativa gerou resposta da Associação dos Magistrados Brasileiros ( AMB), que classificou o ato como “inadmissível”.
O presidente do sindicato, Aldimar Assis, disse que encaminhou ao CNJ um pedido de apuração de conduta do juiz, porque Teixeira reclamou que estava tendo suas prerrogativas profissionais violadas. Segundo Assis, no despacho que autorizou as buscas e apreensões da última sextafeira, Moro insinuou que Teixeira poderia ter “forjado assinaturas” em contratos assinados no seu escritório.
Ao falar sobre a compra do sítio de Atibaia ( SP) por Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios de filhos de Lula, Moro diz que Teixeira é “pessoa notoriamente” próxima a Lula e afirma que a coleta de assinaturas para fechar o negócio foi feita no escritório dele.
A AMB afirmou que o CNJ não é instância recursal e que a medida do sindicato paulista evidencia uma forma de “intimidação dos juízes”. Ainda segundo o texto, a magistratura “não se furtará diante de ações e manobras que venham a tentar paralisar o trabalho dos juízes no combate à corrupção”.