Título: Seguranças e indígenas em confronto
Autor: Borba, Julia
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2011, Cidades, p. 21

Funcionários da construtora Emplavi e um grupo de índios entraram em conflito na manhã de ontem no Noroeste. O bairro, que está em fase de construção, abriga famílias de várias tribos desde a década 1980. No entanto, como até hoje não há definição sobre o perímetro exato que deve ser protegido para preservar os quase 40 indígenas, os embates são constantes. Desde segunda-feira, o clima está mais tenso. A empresa, que comprou uma projeção na futura Quadra 108, Bloco J, começou a erguer cercas e derrubar árvores. Como o local ainda está sob avaliação da justiça, os índios não aceitaram e decidiram impedir os trabalhos.

O diálogo foi ficando cada vez mais ríspido até que, após uma reunião entre índios e um grupo de quase 100 estudantes defensores da causa, ficou decidido que as marcações do terreno seriam arrancadas e eles mesmos iniciariam o replantio das árvores. A equipe de segurança da construtora reagiu diante da ação. Houve agressão e feridos. Nem mesmo as mulheres que estavam participando do movimento foram poupadas, segundo o assistente social Leonardo Ortega, 26 anos. "Nós queremos proteger a permanência dos índios, mas os seguranças estão armados, carregam cassetetes. Garotas foram seguradas pelo pescoço, usaram um caminhão-pipa para jogar água na gente. A polícia só chegou aqui uma hora e meia depois que chamamos. Ontem, eles nem vieram", acusou.

De acordo com os policiais, o chamado foi atendido com presteza. Diogo, chefe da empresa de vigilância que não quis informar o sobrenome, garantiu que fez de tudo para evitar a violência. "Nós quase pedimos pelo amor de Deus para não haver briga, mas eles foram arrancando tudo. Nós estamos aqui para defender o patrimônio", ressaltou.

Um dos líderes do movimento e estudante de letras, Diogo Ramalho, 27 anos, disse que houve três tentativas de acordo para deixar o terreno como está até uma decisão da Justiça, mas, segundo ele, a empresa não respeitou. Durante toda a tarde, índios, jovens e trabalhadores da construtora estiveram no local para garantir que nada seria feito ¿ nem reerguer nem destruir.

A Polícia Federal intermediou o diálogo entre os advogados dos índios e da Emplavi para que chegassem a um acordo. Novamente, foi decidido que o terreno vai permanecer como está até que a juíza da 2ª Vara Federal, encarregada por analisar a situação, decida. O advogado da construtora, Nader Franco, conta que o impasse pode estar muito perto do fim. "Ela nos garantiu que pensaria durante esta noite e terminaria o seu parecer. Amanhã (hoje), devemos ter novidades", completa.

Enquanto isso, os jovens que defendem os índios prometeram continuar atentos aos próximos movimentos e impedir qualquer quebra no acordo. A equipe de segurança da construtora, por sua vez, deve continuar no local para fazer a guarda dos equipamentos que já estão no terreno. "Estou preocupado. Como não ficar? Tiraram todas as árvores, já tinha até pé de pequi com fruto. É muito triste", lamenta o pajé Tapuya Funiô.