O globo, n. 30.165, 09/03/2016. País, p. 4

Investigado, Lula reage e assume articulação contra impeachment

Ex- presidente chega a Brasília, chama Sarney e atua junto ao PMDB

Por: SIMONE IGLESIAS / ISABEL BRAGA/ LETICIA FERNANDES

 

BRASÍLIA - Com o aumento da pressão no PMDB pelo rompimento com a presidente Dilma Rousseff, cresceu no Palácio do Planalto a preocupação com o processo de impeachment. Ontem pela manhã, em reunião da coordenação política, Dilma avaliou que a situação do governo é “difícil”, porque os partidos aliados poderão acabar se afastando, assim como os peemedebistas, levados pelas manifestações de domingo e pelo desgaste contínuo de sua gestão.

No quadro de tensão e incertezas, o ex- presidente Lula desembarcou em Brasília para assumir a articulação junto ao PMDB e discutir com a presidente mudanças na agenda econômica que tenham impacto imediato. Investigado na Operação Lava- jato, Lula se reuniu ontem à noite com Dilma e alguns ministros, e hoje toma café da manhã na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), com o ex- presidente José Sarney e o comando do PMDB do Senado, mais alinhado com o governo.

— A semana está afetada pelas manifestações de domingo. Preocupação ( com o impeachment) tem e há uma agenda de conversas com a base. É preciso agir no campo institucional — disse um auxiliar da presidente.

 

“FACA NO PESCOÇO”

Lula assumiu a articulação política junto ao PMDB do Senado, que passou a ter papel decisivo no rito do impeachment determinado pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), dias depois de ser levado a depor pela Polícia Federal, que investiga se ele foi ou não beneficiado pelo esquema de corrupção na Petrobras. Ontem, os advogados do ex- presidente apresentaram recurso ao STF, contra decisão da ministra Rosa Weber que validou a 24 ª fase da Lava- Jato.

A convenção do PMDB, marcada para a véspera das manifestações de domingo, reforça o sentimento no governo de que será difícil recompor com o principal aliado. Até ontem, apesar da ação de Lula, não havia no horizonte de Dilma a possibilidade de uma conversa com o vicepresidente, Michel Temer.

Ontem pela manhã, depois da reunião com Dilma, o ministro Ricardo Berzoini ( Secretaria de Governo) reuniu os líderes da base. O ministro teria dito que é importante tirar essa “faca do pescoço” do governo e pediu equilíbrio aos líderes. Segundo relato de um participante, Berzoini afirmou que o governo costuma ter entre 280 e 300 votos, dependendo do tema das votações. A maioria dos líderes se posicionou a favor de enfrentar o quanto antes o processo de afastamento na Casa.

— Esse filme está no pause, bota o play e deixa tocar, a vida tem que continuar — afirmou o deputado Hugo Leal ( PROS- RJ).

Na reunião, o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro ( PB), sugeriu que Dilma convoque o Conselho da República para tratar da crise enfrentada pelo país.

Para discutir o agravamento da crise política e econômica que o governo enfrenta, Lula e Dilma se reuniram, no Palácio da Alvorada, com os ministros Jaques Wagner ( Casa Civil) e Berzoini, além do governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que participou de parte do encontro.

Já a cúpula do PSDB se reunirá amanhã com caciques do PMDB para discutir os possíveis cenários sobre o afastamento da presidente. O encontro será em um jantar na casa do senador Tasso Jereissati ( PSDB- CE). (colaborou Júnia Gama)

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Opinião

 

DÁ CÁ

A CAPACIDADE de o político peemedebista engendrar fórmulas que o mantenham no poder com o mínimo de ônus possível chega ao ápice na convenção nacional do partido, no sábado.

 

BASTA QUE aprovem a moção pela qual o PMDB se declarará independente em relação ao governo Dilma, mas a presidente poderá manter os ministros do partido, desde que na sua “cota pessoal”.

 

FALTARÁ, APENAS, explicar a Dilma o que ela ganhará com esta criativa operação.

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Relator de recurso pede pressa em definição de rito

Julgamento foi marcado pelo Supremo para o próximo dia 16

 

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal ( STF) marcou para o próximo dia 16 o julgamento do recurso apresentado pelo presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), contra o rito definido pela Corte para o processo de impeachment. A data foi agendada ontem, poucas horas depois de um grupo de deputados da oposição ter cobrado celeridade no julgamento do caso, em encontro com o presidente do tribunal, ministro Ricardo Lewandowski. À noite, Lewandowski conversou com o relator do recurso, ministro Luís Roberto Barroso, que não só prometeu liberar o voto para julgamento no início da semana que vem como também pediu pressa para a resolução do impasse.

Lewandowski lembrou aos deputados, que prometem manter a obstrução no plenário da Câmara enquanto o julgamento não terminar, que o STF já definiu o rito para o impeachment, em dezembro. Um rito que, em tese, tem efeito imediato, porém, ainda carece da análise de recurso.

O presidente do STF também afirmou aos parlamentares que questões políticas precisam ser resolvidas no Congresso Nacional, e não no Judiciário. Ontem, Barroso pediu pressa para a definição do rito do impeachment.

— O rito do processo do impeachment não é questão de governo ou de oposição. O país tem pressa em definir isso. Não sou eu, não é o governo, não é a oposição que tem pressa. É o país que tem pressa. Tem que ter regras claras — afirmou o ministro, que também foi o relator do acórdão do julgamento que fixou regras para a tramitação do processo de impeachment no Congresso Nacional. O documento, com todas as decisões tomadas na sessão de dezembro, foi publicado ontem. Agora, será aberto prazo de cinco dias para a apresentação de recursos.

Após ler o acórdão, o ministro Marco Aurélio Mello avaliou que as regras definidas para o processo ficaram claras. Para ele, não devem prosperar contestações apresentadas por Cunha.

— Precisamos aguardar. Mas não consigo conceber que, depois de tanta discussão, tenhamos lançado ao mundo jurídico um pronunciamento obscuro, contraditório e omisso — disse Marco Aurélio, em tom irônico.

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