O globo, n. 30.164, 08/03/2016. País, p. 6

 
Dilma acusa oposição de dividir o país e volta a defender Lula
Presidente diz que ‘ certo tipo de luta política’ afeta a economia

 

- CAXIAS DO SUL ( RS)- A presidente Dilma Rousseff voltou a defender ontem o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva, investigado pela Operação Lava- Jato, e acusou a oposição de dividir o país e de tentar “antecipar as eleições de 2018”.

— A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode, sistematicamente, ficar dividindo o país. Não pode. Sabem por quê? Porque tem certo tipo de luta política que cria um problema sistemático não só para a política, mas, também, para a economia e afeta a criação de emprego, o crescimento das empresas e ninguém fica satisfeito quando começa aquela briga — disse.

Dilma foi mais enfática na defesa de Lula do que no pronunciamento da última sexta- feira, após a condução coercitiva do ex- presidente, quando dedicou mais tempo a se defender das acusações feitas pelo senador Delcídio Amaral ( PT- MS) em delação premiada.

Em seu discurso — que chegou a ser interrompido por gritos de “não vai ter golpe”, durante a entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida em Caxias do Sul ( RS) —, a presidente disse que Lula sempre aceitou prestar depoimento.

— O presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que ninguém, sempre aceitou, convidado para prestar depoimento sempre foi. Então, não tem o menor sentido conduzi- lo sob vara para prestar depoimento, se ele jamais se recusou a ir — afirmou.

O tom mais forte na defesa de Lula, segundo interlocutores do Planalto, se deveu ao encontro que a presidente teve com o petista no último sábado.

— Ela conversou com ele. Ela sentiu o clima. Depois disso, é outra coisa — afirmou um interlocutor do Planalto.

A avaliação do governo foi de que na sexta- feira Dilma não havia se defendido o suficiente das acusações de Delcídio, veiculadas na revista “IstoÉ” no dia anterior. Dilma havia divulgado uma nota rebatendo o senador, mas o pronunciamento foi a primeira oportunidade de verbalizar a defesa do governo.

Ontem, em Caxias do Sul, Dilma fez uma defesa mais contundente de Lula e afirmou que não se deve demonizar pessoas e instituições com opiniões divergentes, mas se deve “exigir respeito”.

 

PREOCUPAÇÃO COM VIOLÊNCIA

A presidente voltou a criticar o que classificou de “vazamentos sistemáticos” de informações sigilosas na Lava- Jato.

— No Brasil, temos assistido a vazamentos sistemáticos e esses vazamentos provam, a partir de um determinado momento, que não são verdadeiros, mas o estrago de jogar lama nos outros já ocorreu.

O governo está preocupado que manifestações programadas para o próximo fim de semana em defesa de Lula sejam criminalizadas. Rui Falcão, presidente do PT, reuniu- se com ministros na manhã de ontem, no Palácio do Planalto, para evitar que a mobilização petista seja prejudicada.

A avaliação no Planalto é que um ato pró- Lula no próximo domingo, mesmo dia em que está marcado um protesto contra o governo, seria arriscado. Isso porque se os atos descambarem para a violência, com milhares nas ruas, o confronto pode ser incontrolável.

— Se os dois grupos se enfrentarem, se alguém sair ferido, vai ser muito complicado e muito triste — define um auxiliar da presidente.

A ideia do PT é trocar de dia, ou manifestarse em local separado.

— O PT não tem esse histórico de violência. Não vai para arrumar confusão. Então há esse temor de ser criminalizado. Claro que as pessoas respondem quando são provocadas. Imagine isso em uma multidão. Não tem controle — afirmou um assessor do Planalto.

Senadores relacionados:

  • Delcídio do Amaral

_______________________________________________________________________________________________________

STF autoriza 3 º inquérito para investigar Cunha

Rito do impeachment terá novos recursos; presidente da Câmara reapresentará embargo

Por: CAROLINA BRÍGIDO E ISABEL BRAGA

 

- BRASÍLIA- O ministro Teori Zavascki, relator da Lava- Jato no Supremo Tribunal Federal ( STF), autorizou a abertura de mais um inquérito para investigar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). É a terceira investigação sobre a suposta participação do parlamentar no esquema de desvios de verbas da Petrobras. Ele é suspeito pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A decisão foi tomada a pedido do procurador- geral da República, Rodrigo Janot. A nova suspeita contra Cunha surgiu a partir da delação premiada de empresários da Carioca Engenharia, que o acusam de ter recebido dinheiro ilegal em contas no exterior. A propina teria vindo do investimento do FGTS no projeto Porto Maravilha, no Rio, do qual a Carioca Engenharia obteve a concessão em consórcio junto com as construtoras Odebrecht e OAS, que já eram investigadas na Lava- Jato.

A liberação do dinheiro era feita supostamente por influência de Fábio Cleto, ex- vice- presidente da Caixa Econômica Federal ligado a Cunha. O delatores disseram em depoimento que foram repassados a contas indicadas por Cunha US$ 3,9 milhões entre 2011 e 2014.

Já o processo do impeachment iniciado por Cunha pode ser destravado a partir dessa semana. Ontem, o Supremo divulgou o acórdão do julgamento que definiu o rito do processo no Congresso. A partir da publicação do acórdão, que ocorrerá hoje, passa a contar o prazo de cinco dias para apresentação de embargos de declaração, um tipo de recurso que serve para esclarecer eventuais omissões ou dúvidas a respeito da decisão.

No mesmo dia, Cunha anunciou que vai reapresentar o embargo de declaração encaminhado no início de fevereiro, para evitar que o STF se recuse a julgá- lo, alegando que foi apresentado fora do prazo permitido. Segundo o parlamentar, o conteúdo do recurso será o mesmo.

Devem se manifestar na ação Advocacia- Geral da União, ProcuradoriaGeral da República, Senado, Presidência da República e PCdoB, que entrou com a ação pedindo que o STF definisse a tramitação do processo de impeachment na Câmara. O plenário do STF só poderá julgar o recurso quando essas manifestações forem reapresentadas.

O principal ponto questionado pelo presidente da Câmara é que o STF não poderia ter interferido no funcionamento do Congresso ao definir regras para a formação da Comissão Especial que analisará o impeachment. O STF declarou que apenas líderes de partidos poderiam indicar integrantes da comissão.

Também ontem, Cunha foi notificado da abertura do processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara, semana passada. Hoje começa a correr o prazo de dez dias para que ele entregue sua defesa escrita.

Órgãos relacionados:

  • Câmara dos Deputados
  • Congresso Nacional
  • Senado Federal

_______________________________________________________________________________________________________

Ministro da Justiça volta ao cargo; STF julga caso amanhã

 

- BRASÍLIA- O presidente do Tribunal Regional Federal ( TRF) da 1 ª Região, desembargador Cândido Ribeiro, derrubou ontem liminar que suspendera a nomeação do novo ministro da Justiça, Wellington César Lima e Silva. A decisão vale até amanhã, quando o Supremo Tribunal Federal ( STF) julga se membros do Ministério Público podem ocupar cargos no Executivo.

A Advocacia- Geral da União recorreu da liminar que suspendera a nomeação, e Cândido Ribeiro a revogou, argumentando que a decisão interfere em ato de governo, com impacto nas condições de governabilidade da presidente da República.

Wellington Cesar pediu ontem exoneração do cargo comissionado de procurador- geral de Justiça adjunto do Ministério Público da Bahia, mas continua como procurador.

Senado Federal - Praça dos Três Poderes - Brasília DF - CEP 70165-900 - Fone: (61)3303-4141