Título: Carente de ensino e trabalho
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2011, Economia no DF, p. 27

Em São Sebastião, quase metade dos 71.779 moradores não concluiu o ensino fundamental e a renda média per capita é inferior ao salário mínimo. A baixa qualificação impede que as pessoas ocupem bons empregos

São Sebastião tem características típicas de uma região carente. A renda domiciliar per capita de seus habitantes, R$ 501, é inferior a um salário mínimo (R$ 545). Um percentual elevado dos moradores, 42,7% dos 71.779 habitantes, não concluiu o ensino fundamental. Apesar disso, a antiga área rural oferece qualidade de vida satisfatória à população. A abrangência dos serviços de água, esgoto e asfaltamento se aproxima de 100%. O perfil da região administrativa, vizinha do rico Lago Sul e dos condomínios do Jardim Botânico, foi divulgado ontem pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal (Codeplan), em mais uma edição da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (Pdad).

As ocupações que mais empregam os habitantes da cidade formam um cenário de poucas alternativas e revelam a necessidade de políticas públicas para melhorar a escolaridade e os rendimentos. O comércio contrata 25,8% dos moradores. O serviço doméstico vem em segundo lugar, com 12,7%, e a construção civil, em terceiro, com 11,8% do total de trabalhadores.

Para o vendedor Júnio Cézar Monteiro, 28 anos, o emprego em uma loja de peças de automóvel no centro da cidade é a opção para obter renda enquanto ele não tem condições de pagar a mensalidade de uma faculdade. O mineiro de Bonfinópolis, que se mudou para o Distrito Federal em 1993 e vive em São Sebastião desde 2002, sonha fazer o curso de direito. "Terminei o ensino médio. Se tudo der certo, vou conseguir no ano que vem", conta ele, que se apega à fé para acreditar que tudo dará certo.

Júnio é católico, como 69,1% da população de São Sebastião. Carrega uma medalhinha de Nossa Senhora Aparecida no pescoço e frequenta a missa. Para Iraci Peixoto, gerente de Pesquisas Socioeconômicas da Codeplan, o dado surpreende. "Em outras regiões de baixa renda, predominou a religião evangélica", explica.

A empregada doméstica Vilma Aparecida Cardoso dos Santos, 32 anos, também garante o sustento por meio de uma ocupação que não considera a ideal. "Não é o trabalho dos meus sonhos. Preferia fazer outra coisa, por causa do preconceito das pessoas", comenta. Ela trabalha na Asa Sul. Mãe de dois filhos, é a única responsável pela renda familiar. A Pdad revelou que 26,11% das mulheres de São Sebastião têm a mesma condição, são chefes de domicílio.

A administradora da cidade, Janine Rodrigues Barbosa, garante que já foram dados passos no sentido de fornecer mais alternativas para a educação. "Oferecemos uma área para implantação de um câmpus do IFB (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília)", afirmou.

A presidente da Codeplan, Ivelise Longhi, considerou os dados relativos a São Sebastião positivos, apesar dos problemas que a cidade apresenta. "A gente vê com satisfação uma cidade tão jovem estar tão bem em termos de infraestrutura básica. Além disso, a maioria das casas, 99,2%, é de alvenaria", diz.

Radiografia Renda e trabalho R$ 501 - é a renda domiciliar per capita da população 25,8% - estão empregados no comércio 12,7% - trabalham no serviço doméstico 33,9% - atuam na própria cidade 35,1% - trabalham no Plano Piloto Escolaridade 42,7% - da população não concluiu o ensino fundamental 2,4% - têm nível superior

Bens e serviços 40,3% - têm carro 30,8% - têm acesso à internet

Infraestrutura 98,4% - de abastecimento de água 97,4% - de esgoto sanitário 100% - de iluminação pública 97,9% - de ruas asfaltadas

Eu acho...

A segurança preocupa. Acontecem assaltos, principalmente no comércio. A saúde também tem que melhorar. Se tivermos algum problema de saúde mais grave, temos que correr para o Hospital Regional do Paranoá. Já precisei levar familiares e esperamos horas por atendimento. Aparecida Daniela Gomes Lourenço, 25 anos, comerciante

Para mim, é uma cidade boa, mas devia oferecer mais oportunidades de emprego. Não tem muita alternativa a não ser trabalhar no Plano Piloto. Deviam abrir cursos profissionalizantes gratuitos. Luiz Fernando da Costa, 19 anos, autônomo