O PT escalou nomes de peso do partido, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para impulsionar manifestações contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff em pelo menos 45 cidades nos 26 estados e no Distrito Federal, ontem. Milhares foram às ruas em resposta à marcha de domingo, que pediu o afastamento da petista. Os atos contaram com a participação de movimentos sociais e sindicais, e partidos de esquerda, como o PT, o PCdoB e o PCO. No maior deles, na capital paulista, os organizadores entendem que reuniram 500 mil pessoas em um espaço de 11 quarteirões da Avenida Paulista. O Datafolha estimou o público em 95 mil, enquanto a Polícia Militar, em 80 mil.
As manifestações foram registradas em 21 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Manaus, Florianópolis, Recife, João Pessoa, Salvador, Aracaju, Natal, Fortaleza, Maceió, Belém, Teresina, Belo Horizonte, Goiânia, São Luís, Palmas, Porto Alegre, Campo Grande e Macapá. Na capital paulista, eles se concentraram no trecho da Avenida Paulista que vai da Rua da Consolação até a Avenida Brigadeiro Luis Antônio.
As pessoas que participaram do ato vestiam, predominantemente, camisas vermelhas e exibiam cartazes com frase de apoio a Dilma e Lula. Muitas seguravam balões vermelhos e balançam bandeiras de movimentos sociais e sindicatos. O ato foi comandado por líderes dos movimentos em cima de um caminhão posicionado em frente ao Parque Trianon. Os discursos focavam em palavras a favor da democracia e contra o que os manifestantes chamam de “golpe”.
Os discursos foram intercalados com músicas de artistas brasileiros, entre eles Chico César. Cercado de seguranças, Lula foi recebido, por volta das 19h, aos gritos de “Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. Também estiveram presentes o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; e o secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha.
O ex-presidente Lula discursou por quase meia-hora. O agora ministro da Casa Civil voltou a utilizar a comparação de classes e frases de efeito como “nunca antes na história deste país”, característica dos seus oito anos à frente do Planalto do Planalto. O petista pediu união e convivência pacífica, além de respeito ao resultado das urnas. (Leia mais na página 3). Em discurso em frente ao Masp, o presidente do PT chamou o ex-presidente Lula de “ministro da esperança”.
Ataques
Já Padilha minimizou o fato de a manifestação ter reunido menor apelo em relação à de domingo. “Não viemos disputar número”, disse. Ele argumentou que a manifestação de domingo contou com a “mobilização da Globo” e metrô de graça — o Metrô (Companhia do Metropolitano de São Paulo) desmentiu a afirmação. Ainda segundo Padilha, a oposição “chocou o ovo da serpente da intolerância”. “A oposição não tem uma liderança para construir um projeto de país.”
O juiz federal Sérgio Moro, que foi tratado como herói nas manifestações contrárias ao governo, desta vez foi visto como vilão. Alguns manifestantes exibiram imagens nas quais chamam Moro de golpista. Uma delas, com o magistrado usando um nariz de palhaço, o chamava de fascista. Vendedores ambulantes que também estiveram no protesto contrário ao governo no domingo lamentaram as vendas mais fracas no ato de hoje na Paulista. Alguns deles informaram que chegaram a abaixar o preço para atrair mais clientes.
Um deles, que preferiu não se manifestar, disse que o público é “mais humilde”. “Aí, por exemplo, a água, que eu vendia a R$ 5 no domingo, hoje eu vendo a R$ 3”, disse. Gilmar também contou que o público de domingo era mais “diferenciado”. Quando o assunto era cerveja, ele só vendia Heineken. Ontem, optou por trazer Skol. O pipoqueiro Yang Kauae, de 21, também lamentou a menor demanda do protesto dessa sexta-feira. Ele estima que, no domingo, faturou cerca de R$ 3 mil. “Hoje (ontem), foram só R$ 200, por enquanto”, disse.
95 mil
Estimativa de público da manifestação na Avenida Paulista, segundo o Datafolha