Correio braziliense, n. 19290, 19/03/2016. Política, p. 3

"Voltei a ser o Lulinha paz e amor no governo"

Em discurso na Avenida Paulista,ex-presidente evita ataques à lava-jato e diz que aceitou ser ministro para ajudar Dilma
Por: PAULO DE TARSO LYRA

 

PAULO DE TARSO LYRA

 

O receio de que os atos contrários ao impeachment organizados na Avenida Paulista pudessem transbordar em violência, especialmente por contar com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula, foi rechaçado pela própria estrela da festa. Em um discurso de pouco mais de meia hora, Lula disse que “foi só entrar no governo que voltou a ser o Lulinha paz e amor”. E ele completou: “Não acho que quem não gosta de nós é menos brasileiro. Eu quero que a gente aprenda a conviver de forma civilizada com nossas diferenças. A democracia é a convivência da diversidade”.

Contrariando o discurso contra a Lava-Jato revelado pelas escutas telefônicas, Lula não fez qualquer ataque ao Judiciário ou às interceptações que elevaram o tom da crise a decibéis insuportáveis. Disse que aceitou ser ministro para ajudar Dilma a governar. Falou, em diversos momentos, que não vai ter golpe. E que democracia é “acabar o governo dado pelo voto da maioria do povo brasileiro”, completou.

Lula fez uma comparação entre os manifestantes que lotaram a Paulista ontem com os milhares de manifestantes que invadiram as ruas brasileiras. “Eles vestem roupa amarela e verde para dizer que são mais brasileiros que nós. O sangue deles é vermelho como o nosso. Eles não são mais brasileiros que nós. Eles são um tipo de brasileiro que gostaria de ir para Miami para fazer compras e nós compramos na 25 de março”, disse o ex-presidente.

 

Mobilização

O petista disse que a manifestação na Avenida Paulista é uma demonstração da capacidade de mobilização do povo brasileiro. E exaltou o fato de os protestos terem transcorrido em clima de tranquilidade. “Achei muito engraçado que vários setores disseram que nós éramos violentos. Tem gente que prega violência contra nós 24 horas por dia”, reclamou. O ex-presidente lembrou que perdeu as eleições de 1989, 1994, 1998 para presidente e em 1982, para o governo de São Paulo. “Nunca fui para a rua protestar contra quem ganhou. Eles acreditaram que iam ganhar. Quando Dilma ganhou, eles não aceitaram o resultado e tem 1 ano e 3 meses que estão atrapalhando a presidente Dilma a governar este país.”

Lula afirmou ainda que o seu interesse é ajudar a presidente Dilma a restabelecer a paz, a esperança e a “provar que esse país é maior do que qualquer crise do planeta Terra”. E completou: “Temos de recuperar a alegria de ser brasileiro e não antecipar as eleições tentando dar um golpe em Dilma. Lutamos para recuperar a democracia e derrotar a ditadura. Não vamos aceitar um golpe nesse país”. Ele também pediu aos presentes na Avenida Paulista para levantar a mão que ele tiraria uma foto, na terça-feira, para mostrar à Dilma que “São Paulo não tem só notícia negativa e que não vai ter golpe”.