O Estado de São Paulo, n. 44701, 07/03/2016. Política, p. A4

Lula usa cobertura em São Bernardo que foi comprada por primo de Bumlai

Andreza Matais

Adriano Ceolin

Um primo do empresário José Carlos Bumlai, preso na Operação Lava Jato, é o dono de uma cobertura usada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e família no prédio onde o petista mora em São Bernardo do Campo. O imóvel foi alvo de busca e apreensão na 24.ª fase da Operação Lava Jato, após o síndico do prédio indicar aos policiais federais que o imóvel pertenceria ao ex-presidente.

Lula é suspeito de ocultar patrimônio e receber vantagens de empreiteiras envolvidas em esquema de corrupção na Petrobras. Para os investigadores, ele seria o verdadeiro dono de um sítio em Atibaia, registrado em nome de dois empresários sócios de seu filho, e de um tríplex no Guarujá que oficialmente é da OAS.

Documentos obtidos pelo Estado revelam que Lula usa mais um imóvel em nome de outros. A cobertura número 121 do edifício Hill House fica em frente à que pertence ao petista, a 122. Nesse caso, o aposentado Glaucos da Costamarques garante que Lula lhe paga aluguel - ele é primo de Bumlai, cujo nome completo é José Carlos Bumlai da Costa Marques, e disse ter comprado o apartamento em 2011.

Essa segunda cobertura já era usada por Lula desde o primeiro ano na Presidência, em 2003. Até 2007, o PT pagou pelas despesas do imóvel para que ele guardasse o acervo que doou ao partido. No segundo mandato, o governo assumiu os custos sob a justificativa de que era necessário para a segurança do então presidente.

Glaucos nega que a compra do imóvel tenha sido um pedido de Bumlai, amigo de Lula e investigado na Lava Jato por suspeita de contratar empréstimos simulados para beneficiar o PT e de pagar parte da reforma do sítio em Atibaia. Morador de Campo Grande (MS), o primo de Bumlai disse ao Estado que adquiriu a cobertura por sugestão do advogado Roberto Teixeira. A Lava Jato investiga se Teixeira atuou para ajudar Lula a ocultar a propriedade do sítio em Atibaia.

“Eu sou amigo do Roberto Teixeira e ele me falou: ‘Olha, tem um negócio bom aqui. O governo vai parar de alugar (o imóvel) e comprando você consegue uma boa porcentagem se quiser alugar.’”

Glaucos disse que, após uma única visita à cobertura em 2011, aceitou a sugestão e desembolsou cerca de R$ 500 mil pela propriedade. Lula foi mantido como inquilino e paga R$ 4,3 mil por mês, segundo ele, por meio de transferência bancária.

No cartório, a cobertura comprada por Glaucos está registrada em nome de Elenice Silva Campos, que morreu em fevereiro de 2015. Ela vendeu o imóvel que pertencia ao marido e não pagou o imposto que permitiria a transferência do registro. O caso agora está na Justiça. O primo de Bumlai é representado por Teixeira.

 

Autorização. Os policiais federais só conseguiram identificar a existência da segunda cobertura porque o síndico do prédio informou que ela era usada por Lula. Ele teria indicado um terceiro apartamento. Chamou a atenção dos investigadores o fato de a ex-primeira-dama ter autorizado a busca e apreensão nos imóveis que não pertencem ao casal.

Embora alugue a cobertura para Lula há cinco anos, Glaucos disse que, “se falarem no nome dele para Lula, ele não sabe quem é”.

Em 2010, o aposentado emprestou o endereço de uma empresa que estava em seu nome, a Bilmaker 600, para que os filhos de Lula Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, e Luís Claudio Lula da Silva registrassem na Junta Comercial de São Paulo a holding LLCS no mesmo local.

Na época, a Bilmaker era controlada por Glaucos, Otavio Ramos e Fabio Tsukamoto, que eram sócios de Luís Cláudio em outra empresa. Glaucos disse ao Estado que fez o empréstimo do endereço atendendo a um pedido do primo Bumlai.

 

O SEGUNDO APARTAMENTO

● Primo do pecuarista José Carlos Bumlai comprou imóvel vizinho ao do ex-presidente em São Bernardo do Campo

● Há 13 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua família utilizam o apartamento do edifício Hill House, em São Bernardo do Campo, vizinho à cobertura 122, onde o petista vive e do qual é proprietário

● O apartamento 121 foi alugado pela primeira vez para uso de Lula e sua família quando ele assumiu o primeiro mandato, em 2003. Os custos foram bancados pelo PT de 2003 a 2007, inclusive com recursos do fundo partidário

● Entre 2007 e 2010, a Presidência da República pagou o aluguel, sob justificativa de que se tratava de uma necessidade relacionada à segurança do presidente

● Quando Lula deixou a Presidência, a cobertura 121 foi comprada por Glaucos da Costamarques, empresário que vive em Campo Grande (MS) e é primo de José Carlos Bumlai, amigo pessoal de Lula preso pela Lava Jato

● O imóvel ainda está registrado em nome de Elenice Silva Campos, que morreu no ano passado. Glaucos confirmou ao Estado a compra do apartamento 121, negociação na qual foi representado pelo advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula

● Glaucos disse cobrar aluguel de R$ 4,3 mil de Lula, segundo ele pagos por meio de transferência bancária

 

PONTOS-CHAVE

Relação de amizade com o advogado

Década de 1980

Por oito anos, Lula morou com a família em uma casa em São Bernardo que pertencia ao advogado Roberto Teixeira , padrinho de Luís Cláudio, caçula do petista.

 

Compadrio

O caçula de Lula, Luís Cláudio, vive sem pagar aluguel em apartamento que pertence a uma empresa do advogado, nos Jardins, que vale cerca de R$ 1 milhão.

 

Sítio

O ex-presidente frequenta um sítio em Atibaia (SP) com escritura lavrada no escritório de Roberto Teixeira em nome de Jonas Suassuna e Fernando Bittar.

 

Tríplex

 

 

Promotores creem que Lula seja o dono do imóvel, em nome da OAS, no Guarujá. Em 2005, a mulher do petista adquiriu a opção de compra, mas desistiu.