O Estado de São Paulo, n. 44701, 07/03/2016. Política, p. A5
'Só saio algemado', disse ex-presidente, segundo delegado
Ricardo Brandt
Fausto Macedo
Julia Affonso
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que só sairia algemado de seu apartamento, em São Bernardo do Campo, ao receber a Polícia Federal na manhã de sexta-feira, quando foi deflagrada a Operação Aletheia, 24.ª fase da Lava Jato. “Foi dito por ele (Lula) que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse ainda que, se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali”, relatou o delegado da PF Luciano Flores de Lima, em documento entregue ontem ao juiz Sérgio Moro.
O magistrado determinou a condução coercitiva de Lula para depor em investigação sobre suposto recebimento de propina de empresas que atuavam em cartel na Petrobrás e lavagem de dinheiro, por meio de ocultação de patrimônio.
“Às 6:00 do dia 4 de março de 2016 a equipe chefiada por este subscritor bateu à porta da residência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi aberta pelo próprio. De pronto damos ciência de que estamos de posse de mandado de busca e apreensão para cumprir naquela residência, sendo autorizada a entrada de todos em seu apartamento”, informa o delegado.
“Na sequência informei ao ex-presidente Lula que deveríamos sair o mais rápido possível daquele local, em razão da necessidade de colhermos suas declarações, a fim de que sua saída do prédio fosse feita antes da chegada de eventuais repórteres e/ou pessoas que pudessem fotografar ou filmar tal deslocamento.”
Segundo o delegado, Lula reagiu da seguinte forma: “Naquele momento, foi dito por ele que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse ainda que, se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali”. Lima disse ter explicado que o Salão Presidencial do Aeroporto de Congonhas havia sido preparado para o depoimento.
Após falar por telefone com seu advogado e compadre, Roberto Teixeira, Lula “disse que iria trocar de roupa e que nos acompanharia para prestar as declarações”.
O depoimento teve início às 8h e durou três horas. Nesse período, segundo Lima, parlamentares tentaram forçar o acesso à sala onde Lula estava.
“Após a assinatura do termo, foi permitida a entrada no local de diversos parlamentares federais que batiam na porta e chegaram a forçar para entrar naquele recinto, durante a audiência.”
Resposta. Ontem, a defesa de Lula divulgou nota em que critica a condução coercitiva do petista e contesta nota divulgada na véspera por procuradores da Lava Jato. Para os advogados do ex-presidente, o texto foi uma “desesperada tentativa de legitimar a arbitrária condução coercitiva do ex-presidente”.
Condução
“Naquele momento, foi dito por ele (Lula) que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse que, se eu quisesse colher as declarações, teria de ser ali”
Luciano Flores de Lima
DELEGADO DA POLÍCIA FEDERAL