O Estado de São Paulo, n. 44701, 07/03/2016. Política, p. A6

Temer pede ‘harmonia entre poderes’ para País sair da crise

José Maria Tomazela

O vice-presidente Michel Temer (PMDB) alertou para o risco de um conflito social e pediu harmonia entre os poderes para o País sair da crise. Em discurso no interior de São Paulo, ontem, ele disse considerar inadmissível que um país como o Brasil tenha milhões de trabalhadores desempregados.“Isso vai gerar logo uma conflitância social que será extremamente prejudicial ao País. Ao invés de apartamentos, separações e divisões, o que precisamos é de uma somatória da sociedade brasileira para tirar o país da crise.”

O alerta foi feito num momento em que lideranças do PT convocam militância e movimentos sociais para defender o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, obrigado a prestar depoimento à Justiça Federal sob condução coercitiva na sexta-feira passada. Depois de cancelar todas as agendas públicas desde a 24.ª fase da Operação Lava Jato, Temer participou das comemorações dos 174 anos de Tietê, sua terra natal.

O vice-presidente evitou a imprensa na entrada e na saída do evento, numa escola pública, mas aproveitou o discurso para dar uma mensagem sobre a crise nacional. “O que o País mais precisa é de unidade, reunificação, é de um pensamento constante de união para sair da crise”, declarou o vice.

Temer defendeu a harmonia entre poderes como necessária para que a sociedade sinta a presença do governo e se sinta pacificada. “Vejo muita desarmonia entre o Legislativo e o Executivo e, às vezes, o Judiciário. Essa harmonia entre os poderes da República é coisa fundamental.

Não somos os donos do poder, somos escolhidos para exercer o poder.” Segundo ele, quando a Constituição diz que os poderes são independentes e harmônicos, isso é uma determinação. “Toda vez que há uma desarmonia, o que está havendo é uma inconstitucionalidade, uma desobediência à vontade da Constituição.”

O prefeito de Tietê, Manoel Davi de Carvalho (PSD), afirmou que Temer se mostrou “incomodado” com a condução coercitiva de Lula, “mas em nenhum momento fez crítica à ação da Justiça.”

 

‘Desobediência’

“Toda vez que há desarmonia, o que está havendo é uma inconstitucionalidade, uma desobediência à vontade da Constituição”

Michel Temer

 

VICE-PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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Para Marina, operação reforça afastamento

 

Isadora Peron

 

A ex-ministra Marina Silva afirmou ontem que os novos desdobramentos da Operação Lava Jato fortalecem a tese do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ela disse, no entanto, que a Rede Sustentabilidade vai continuar defendendo a cassação do mandato da petista e do vice, Michel Temer, via Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Desde o início nós estamos dizendo que o melhor caminho é o das investigações no TSE, mas impeachment não é golpe. Se antes não tínhamos ainda fortes indícios, agora temos”, declarou após participar de um congresso para escolher a nova executiva da Rede, em Brasília.

Para ela, se a campanha de reeleição de Dilma em 2014 foi irrigada por recursos desviados pelo esquema de corrupção que atuava na Petrobrás, caberá à Justiça Eleitoral tomar uma decisão e convocar novas eleições. “Se isso ficar comprovado, a Justiça que dê o seu veredicto e devolva à sociedade brasileira a prerrogativa de corrigir o erro que cometeu involuntariamente”, disse.

Marina voltou a criticar a possibilidade de Temer assumir a Presidência no lugar de Dilma se houver o impeachment, já que políticos do PMDB também são investigados na Lava Jato. “O impeachment cumpre a formalidade, mas não cumpre a finalidade, porque o PT e o PMDB são faces da mesma moeda, o partido da presidente está implicado (no escândalo de corrupção da Petrobrás), o partido do vice está implicado, seria como trocar seis por meia dúzia.”

Marina voltou a manifestar apoio à 24.ª fase da Lava Jato, deflagrada na sexta-feira passada, que teve como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Nenhum de nós está acima da lei. Assegurado o amplo e legítimo direito de defesa, acredito que a Justiça tem que continuar a fazer o seu trabalho.”

A ex-ministra, que foi filiada ao PT por décadas, disse lamentar a situação pela qual passa o seu antigo partido e afirmou ter ficado perplexa quando soube que Lula foi alvo de um mandado de condução coercitiva.

 

Marina foi anunciada ontem como a nova porta-voz da legenda. O cargo é equivalente à presidência de outros partidos.