Correio braziliense, n. 19279, 08/03/2016. Política, p. 2

MANIFESTAÇÕES LEVAM TENSÃO AO PLANALTO

CRISE NA REPÚBLICA » Oposição e governistas marcam atos para o mesmo dia, no domingo. Risco de confrontos provoca alerta entre os dois lados. Militares negam que haja planejamento de esquema especial para a data
Por: PAULO DE TARSO LYRA E NAIRA TRINDADE

PAULO DE TARSO LYRA

NAIRA TRINDADE

 

A insistência do PT e dos movimentos sociais em organizar manifestações no próximo 13 de março para “disputar palmo a palmo” as ruas com os manifestantes pró-impeachment colocou o Planalto e lideranças do próprio partido em sinal de alerta. O acirramento nos ânimos a partir da condução coercitiva do ex-presidente Lula e das frases proferidas pelo próprio petista de que “a jararaca está viva” reforçaram o temor de que as cenas de violência protagonizadas por militantes de lado a lado em São Bernardo e no aeroporto de Congonhas na última sexta-feira ganhem contornos incontroláveis.

Para não alarmar a população e esfriar os ânimos dos manifestantes, os órgãos de segurança estaduais mantém o discurso da tranquilidade. Em Brasília, não há um esquema especial montado que seja diferente do preparado em manifestações anteriores, como o bloqueio de vias e garantias nos pontos de embarque e desembarque das pessoas.

Em São Paulo, o secretário de segurança pública, Alexandre de Moraes, disse que os grupos antagônicos não podem se concentrar no mesmo lugar. E que, na avaliação dele, como a manifestação pró-impeachment foi marcada antes, ela terá prioridade das forças policiais. Fontes das Forças Armadas confirmam que, até o momento, além do monitoramento da temperatura dos discursos nas redes sociais, não há um esquema especial montado para o domingo. A avaliação é de que as forças policiais têm todas as condições de garantir a ordem e a segurança públicas.

 

Congresso

Não há dúvidas de que a situação tomou proporções de risco assustadoras. No Congresso, os líderes do PT na Câmara e no Senado — Afonso Florence (BA) e Paulo Rocha (PA), respectivamente — tentam diminuir a fervura da militância. Enquanto Rocha defendia ao Correio que os petistas de bom senso não deveriam sequer sair às ruas no domingo, mantendo o cronograma de manifestações para os dias 8, 18 e 31 de março, os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) batiam boca, dedos em riste no plenário.

“Em lugar de falar mal do ex-presidente Lula, o senhor deveria defender a investigação do trensalão tucano e do sumiço da merenda escolar”, disse o petista, acrescentado que o país tinha um engavetador na Procuradoria-Geral da República à época da presidência do tucano Fernando Henrique Cardoso. “O senhor faz um discurso caluniador que não enxerga os fatos”, devolveu Nunes Ferreira. “Esse moleque fanático sobe à tribuna para ficar falando esse monte de merda”, exasperou-se Aloysio, ao deixar o plenário, indignado.

 

Planalto

A presidente Dilma Rousseff e o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, reuniram-se ontem no início da tarde para discutir os riscos do próximo domingo e as maneiras para o governo sair da paralisia na qual se meteu. Wagner também foi escalado para conversar com lideranças peemedebistas. O partido aliado realiza convenção no sábado e o governo teme um desembarque, que aumentaria a instabilidade do Executivo.

Dilma, no entanto, contribuiu ontem para acirrar os ânimos, ao reforçar que houve exageros na última sexta. “Não havia necessidade de levar o Lula para depor sob vara”, protestou a petista, acrescentando: “a oposição está dividindo o país”, protestou.

O PT está dividido.  “Temos que fazer as nossas próprias manifestações. Atos como os realizados na frente da Rede Globo no fim de semana não nos ajudam”, disse Paulo Rocha, lembrando os casos de violência e vandalismo contra a emissora. O deputado distrital Chico Vigilante avisou que o PT brasiliense fará um grande ato na Torre de TV, no domingo, mesmo horário em que os manifestantes pró-impeachment estiverem na Esplanada. “Sempre fomos acusados de violência, sempre apanhamos da oposição, sem fazer nada. Vamos, agora, disputar palmo a palmo as ruas com eles”, disse Vigilante, garantindo, no entanto, que a orientação é evitar confrontos físicos.

 

Oposição

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), criticou ontem a ideia do PT convocar mobilizações para o mesmo dia dos oposicionistas. “Tenho certeza de que os movimentos que apoiam o PT poderão fazer a mesma coisa, no tempo certo, num outro momento e, obviamente, espero que as lideranças lúcidas entendam que aquilo que atinge hoje o PT não pode ser transferido para a população e a sociedade brasileira”, afirmou ele, convocando os brasileiros para domingo para mostrar a sua indignação e a constatação de que a presidente Dilma perdeu as mínimas condições de governar o Brasil”, afirmou.

 

Colaboraram Leonardo Cavalcanti e Bertha Maakaroun

 

Nas ruas

Até o momento, oposicionistas e defensores da presidente Dilma Rousseff duelaram nas ruas sempre em datas diferentes. Neste domingo, será a primeira vez que os organizadores dos dois lados marcam atos para o mesmo momento.

 

Favoráveis ao impeachment

15 de março

Participantes segundo a PM – 2,4 milhões

Participantes segundo os organizadores – 3 milhões

 

12 de abril

Participantes segundo a PM – 701 mil

Participantes segundo os organizadores – 1,5 milhão

 

16 de agosto

Participantes segundo a PM – 879 mil

Participantes segundo os organizadores – 2 milhões

 

13 de dezembro

Participantes segundo a PM – 83 mil

Participantes segundo os organizadores – 407 mil

 

Contra o impeachment

13 de março

Participantes segundo a PM – 33 mil

Participantes segundo os organizadores – 175 mil

 

7 de abril

Participantes segundo a PM – 6 mil

Participantes segundo os organizadores – 14 mil

 

15 de abril

Participantes segundo a PM – 32 mil

Participantes segundo os organizadores – 150 mil

 

20 de agosto

Participantes segundo a PM – 73  mil

Participantes segundo os organizadores – 190 mil

 

16 de dezembro

Participantes segundo a PM – 98 mil

Participantes segundo os organizadores – 292 mil