Correio braziliense, n. 19280, 09/03/2016. Política, p. 3

Depoimento com ironias

CRISE NA REPÚBLICA » Ao prestar esclarecimentos à Lava-Jato, Lula rebateu perguntas com questionamentos sobre o PSDB e disse esperar "retratação"
Por: EDUARDO MILITÃO

EDUARDO MILITÃO

Enviado Especial

 

Curitiba — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi irônico ao responder a algumas perguntas da Polícia Federal no depoimento prestado na manhã de sexta-feira passada no aeroporto de Congonhas, na 24ª fase da Operação Lava-Jato. Investigado por suspeita de receber propina de empreiteiras denunciadas por desvios na Petrobras, o petista foi conduzido coercitivamente para, principalmente, ficar isolado de outros suspeitos, e também depor em local afastado de sua residência e de aglomerações, a fim de se evitar tumultos. Mas isso não evitou discussões ásperas entre militantes a favor e contra o governo do PT.

De acordo com relatos obtidos pelo Correio de fontes que assistiram ou participaram do depoimento, Lula rebateu as perguntas da PF com outros questionamentos, em tom de ironia. Num deles, fez menção aos partidos de oposição,  principalmente o PSDB.

Em outro momento, Lula disse esperar que haja algum tipo de retratação a ele quando, no fiml do processo, “No final, vão ter que me fazer uma declaração de que eu não tenho nenhuma relação com isso aí”, desafiou o ex-presidente, de acordo com o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). De acordo com o vice-líder do PT na Câmara, o petista se referia às instituições que investigam o ex-presidente. O parlamentar foi testemunha do depoimento, que ainda foi acompanhado pelos advogados de Lula, além de delegados da PF e procuradores do Ministério Público.

A PF perguntou a Lula sobre os pagamentos de R$ 1,3 milhão de sua empresa de palestras, Lils, e do instituto à G4 Brasil, firma do filho do petista Fábio Luiz Lula da Silva. “Ele disse que prestou os serviços”, explicou Teixeira. Anteontem, o Instituto Lula disse que a empresa criou sites ou executou projetos em quatro páginas de internet ligadas ao ex-presidente. Na oitiva, Lula usou uma nota da entidade entitulada Os documentos do Guarujá: desmontando a farsa, divulgada em janeiro, a fim de responder questionamentos feitos pelos policiais. Ontem, o Instituto Lula disse ao jornal que não comentaria o caso.

O depoimento do ex-presidente foi gravado por duas câmeras de vídeo simultâneas da PF. Os advogados do petista obtiveram autorização e filmaram a oitiva em um telefone celular. Os arquivos da PF com a íntegra do depoimento estão na 13ª Vara Federal de Curitiba e na força-tarefa da Lava-Jato do Ministério Público Federal. Depois de as imagens serem transcritas, serão tornadas públicas, o que deve acontecer até segunda-feira.

 

Amigos

O ex-presidente argumenta que não é dono de imóveis apontados pelos investigadores como fruto de propina paga por empreiteiras que participariam de cartel na Petrobras. Um sítio em Atibaia (SP), em nome de amigos do petista e frequentado por ele, foi reformado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, pela Odebrecht e pela OAS, que também negociou um apartamento tríplex para Lula no Guarujá (SP). O apartamento não foi passado para o nome da família Lula, que desistiu da compra depois das reformas feitas pela empresa e da divulgação de seu interesse pela residência, que estava reservada para o ex-presidente desde 2011, segundo o MPF.

 

Defesa quer parar investigação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu novamente a suspensão das investigações contra ele no MPF do Paraná e no Ministério Público de São Paulo. Desta vez, a defesa do petista solicitou que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) analise um agravo regimental contra decisão da ministra Rosa Weber, que não aceitou interromper as duas apurações, sobre a “mesma realidade sob perspectivas diferentes”. Os advogados querem que tudo fique suspenso até que os ministros digam quem tem que investigar os imóveis de Lula no Guarujá (SP) e em Atibaia (SP). A defesa de Lula quer que apuração ocorra em São Paulo. (EM)