Correio braziliense, n. 19280, 09/03/2016. Política, p. 4

GOVERNO APELA, MAS PT RESISTE

CRISE NA REPÚBLICA / » Palácio do Planalto pede que o partido oriente militantes e simpatizantes a evitarem manifestações de rua o domingo, mas filiados resistem e devem agendar protestos para lugares diferentes das passeatas pró-impeachment
Por: PAULO DE TARSO LYRA, JULIA CHAIB E PAULO SILVA PINTO

PAULO DE TARSO LYRA

JULIA CHAIB

Ana Maria Campos

 

PAULO SILVA PINTO

Enviado especial

 

Brasília e São Paulo – O risco de confronto nas manifestações do próximo domingo fez com que o Planalto pedisse ao PT e defensores do mandato da presidente Dilma Rousseff que evitem sair às ruas no dia marcado para os protestos dos opositores ao governo. Caso insistam, a orientação é de que as manifestações ocorram em locais separados. Os militantes, no entanto, têm mostrado resistência em ficar em casa. “É um erro do PT e da direção da CUT. Não tem porque não ir às ruas no domingo para evitar que essa direita sanguinária ganhe as coisas no grito”, protestou o deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF). Segundo ele, o protesto está mantido em Brasília, mas em local diferente da manifestação pro-impeachment.

O Correio mostrou ontem que os lideres do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), e do Senado, Paulo Rocha (PA), já tentavam colocar água na fervura da militância. “Queremos fazer um protesto pacífico em contraponto ao que estão fazendo contra o presidente Lula. A orientação é de que, caso haja provocações, não se revide”, disse Florence.

Na sexta-feira, no mesmo instante em que Lula depunha à Operação Lava-Jato, no Aeroporto de Congonhas, a Frente Brasil Popular —formada pela CUT, MST, UNE, Ubes, PCdoB e outros movimentos de moradia popular — definiu que o calendário dos movimentos para 8, 18 e 31 de março.

As direções estaduais da CUT de Porto Alegre, Vitória e Recife já avisaram que vão organizar passeatas para o domingo. O presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, ligou para os dirigentes estaduais e foi claro. “Se quiserem ir às ruas, podem ir. Mas façam manifestações em locais diferentes deles”, cravou.

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, informou que a estratégia da Secretaria de Segurança Pública do DF será a de garantir a segurança da população e do patrimônio público.

Ontem, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, manifestantes ligados aos movimentos sociais foram à Avenida Paulista. “Se o PT e a CUT forem às ruas, vai haver confronto”, disse Lavínia Claro, 31 anos, do Movimento Terra Livre. Ela própria não é muito simpática à presidente, mas é contra o impeachment. “Não dá para defender esse governo que aí está. Mas também não dá para apoiar o golpe”, completou Lavínia. O evento teve confronto entre simpatizantes e críticos ao governo Dilma.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou ontem que manifestações a favor do PT serão proibidas na Paulista no domingo à tarde para evitar violência. “Havia uma solicitação para outra manifestação em sentido contrário e nós dissemos que, no mesmo local, não pode. Esse pleito a favor do impeachment, contra a corrupção, já estava programado havia mais de um mês”, afirmou.

Alckmin defendeu a decisão de impedir que os grupos diferentes se encontrem. “É direito constitucional a liberdade de manifestação, de expressão, e é dever do poder público garantir a tranquilidade de manifestação da população”, afirmou. O  Art. 5º, inciso XVI da Constituição concede o direito de reunião, independentemente de autorização,  desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurelio Mello disse que teme excesso de violência no domingo. “Vamos evitar o pior. Receio um conflito. Receio, inclusive, o surgimento de um cadáver. E a História revela o que leva a esse surgimento”, disse.

O Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse ontem que é necessário mostrar “serenidade” em meio à crise. “Não é papel do presidente do Congresso Nacional botar mais fogo na crise. Mas mais do nunca trabalhar pela serenidade, pelo bom senso, pelo equilíbrio”, disse.