O globo, n. 30.163, 07/03/2016. País, p. 3

Temperatura em ebulição

Marina critica PT, e oposição vai obstruir votações até a criação da comissão de impeachment

Por: Renata Mariz/ Bárbara Nascimento/ Eduardo Barreto

 

- BRASÍLIA- Governo e oposição iniciam a semana, que antecede as manifestações de rua previstas para o próximo domingo em todo país, pintados para a guerra. Após uma semana de desgaste, com denúncias que colocaram a presidente Dilma Rousseff e o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva no centro do escândalo de corrupção da Petrobras, o governo terá uma semana difícil também no Congresso.

O clima é de confronto. A oposição promete obstruir a pauta até que a comissão do impeachment seja instalada, além de reforçar os ataques ao Planalto, na tentativa de angariar mais adesão ao protesto do dia 13.

Marina Silva, fundadora da Rede, reapareceu ontem em Brasília e atacou a postura do PT, seu ex- partido, de “fazer apologia ao confronto para se defender de acusações”. Disse que o povo brasileiro merece ser reparado por erros do governo.

— É triste, obviamente, ver um partido, que no passado suscitou tantas esperanças na defesa da ética e no combate à corrupção, agora tendo que fazer apologia do conflito, do confronto, para se defender de acusações — afirmou Marina, em referência ao PT e ao comportamento do partido depois da fase mais recente da Operação Lava- Jato, em que Lula foi alvo.

Na expectativa de um encontro de Dilma com Lula — para se discutir uma agenda que tire o governo das cordas numa semana em que o ministro Teori Zavaski deve homologar a delação premiada do senador Delcídio Amaral ( PT- MS)—, a ordem entre os líderes da base também é partir para cima e rebater acusações. Os parlamentares governistas devem acentuar a pressão para que Dilma se aproxime da pauta do PT, principalmente na agenda econômica que flexibilize o aperto fiscal, desamarre gastos em investimentos e aumente oferta de crédito.

 

DEPUTADOS QUEREM INCENTIVAR PROTESTO

A delação de Delcídio e o depoimento de Lula agravam a situação de Dilma, com a volta do impeachment à pauta esta semana. A oposição vai tentar protocolar um pedido de aditamento ao processo de impeachment já em tramitação na Câmara, para incluir as denúncias de Delcídio envolvendo Dilma com o escândalo na Petrobras. E vai obstruir todas as votações na Câmara para pressionar pela instalação da comissão do impeachment.

Os líderes da oposição permaneceram o fim de semana em Brasília para acompanhar de perto os desdobramentos da crise política e prometem garantir número para abrir a sessão hoje nas duas Casas, para pôr fogo no plenário com discursos sobre Lula e a presidente. A previsão é que o Supremo Tribunal Federal ( STF) volte a analisar esta semana a decisão sobre o rito do impeachment na Câmara.

Num clima de tensão que deixa apreensivo não só o núcleo palaciano, o domingo foi de muitos boatos sobre o plantão do ministro Teori Zavaski e de técnicos do STF para finalizar processos de delação que podem desembocar em mais uma leva de denúncias de parlamentares investigados na Lava- Jato, inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL).

A semana é considerada decisiva pelos oposicionistas para ampliar a dimensão das passeatas pró- impeachment marcadas para o próximo domingo. Líder do PSDB na Câmara, o deputado Antonio Imbassahy ( BA), disse que, ao contrário das manifestações passadas, desta vez os parlamentares estão atuando de forma ativa:

— Estamos entrando de corpo e alma, usando a estrutura partidária. Com as redes sociais do partido, dos parlamentares e dos diretórios, vamos conseguir mais apoio — prevê.

Os parlamentares da base também chegarão a Brasília com o mesmo espírito armado, dispostos a questionar uma suposta perseguição ao PT:

— Quem vai com tudo é a gente. Estamos com sangue nos olhos — disse o senador Lindbergh Faria ( PT- RJ).

— No que depender do governo, a Câmara vai funcionar. Vamos vencer tentativas de obstrução — diz José Guimarães ( PT- CE), líder do governo na Câmara.

Não bastasse o desgaste com as denúncias divulgadas semana passada — apontando o conhecimento de Dilma e Lula do esquema de corrupção na Petrobras —, o depoimento do expresidente na Lava- Jato e as dificuldades no Congresso e na economia, a convenção do PMDB marcada para sábado pode agravar o isolamento da presidente.

O encontro do PMDB é um potencial palco para críticas contra a gestão Dilma, reforçando a tese de saída do governo. A expectativa é que o vice- presidente Michel Temer seja reconduzido à presidência do partido na convenção.

— Diante dos fatos da semana, ninguém quer botar a cara para defender Dilma. O terreno na convenção é mais fértil para quem propõe o desembarque do governo e os protestos contra o PT — afirma o deputado Lúcio Vieira Lima ( PMDB- BA).

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Sem citar Dilma, Temer prega harmonia e união

Para vice- presidente, melhora nas relações entre os três poderes pode ajudar o país a sair da crise
 

Sem fazer referência à presidente Dilma Rousseff, o vice- presidente Michel Temer defendeu ontem a pacificação e a harmonia entre os poderes da República. A declaração foi dada durante a festa de aniversário de 174 anos do município de Tietê ( SP), cidade natal de Temer. Em seu discurso, o vice evitou falar sobre a 24 ª fase da Operação Lava- Jato, em que o ex- presidente Lula foi conduzido coercitivamente para depor.

— Todos temos que dar as mãos para o país sair da crise. Não é momento de se pensar no valor governo, nem no valor partido e, sim, no país como um todo. Só assim conseguiremos retomar a confiança dos brasileiros. Judiciário, Executivo e Legislativo precisam caminhar em harmonia. A falta de harmonia entre os três poderes chega a ser uma inconstitucionalidade — afirmou Temer.

Sobre a economia, o vice- presidente ressaltou a necessidade do otimismo e união para o país sair da crise econômica:

— Hoje, o que o país mais precisa é de unidade, de reunificação, um instante em que todos têm que dar as mãos para tirar o país da crise. O desemprego vai gerar uma conflitância ( sic) social. Por isso, temos que unir esforços para retomar o emprego no país

Na sexta- feira, quando aconteceu a 24 ª fase da Lava- Jato, Michel Temer cancelou compromissos do dia para acompanhar de perto os desdobramentos da ação da Polícia Federal. Temer estava em viagem em Campo Grande e tinha eventos marcados em Goiânia e Palmas.

Na cúpula peemedebista, o sentimento é de cautela. Há uma preocupação para que Temer não volte a se expor desnecessariamente, como fez no ano passado, quando fez críticas à presidente Dilma Rousseff e jogou combustível no fogo que consumia a relação do PMDB com o governo.

Há uma avaliação, no entorno de Temer, de que o andamento do processo de impeachment depende, primeiro, de uma decisão do Supremo Tribunal Federal ( STF) sobre a forma como será conduzido no Congresso e, depois, das duas casas legislativas. Por isso, o vice-presidente tenta evitar qualquer movimento prematuro.

Apesar da cautela com que tenta agir, a oposição e a ala oposicionista do PMDB estão animados com os fatos da semana passada, que tiveram, além da condução coercitiva de Lula, as revelações da delação premiada do senador Delcídio Amaral, que envolvem o ex-presidente e Dilma. Oposicionistas têm a expectativa de conversar com o vice sobre o cenário de impeachment a partir desses novos fatos. (Com G1)

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Local de protesto em Brasília terá militares no dia 13

Evento de troca da bandeira na Praça dos Três Poderes foi adiado para o próximo domingo

Por: GERALDA DOCA JAQUELINE FALCÃO

 

- BRASÍLIA E SÃO PAULO- No próximo domingo, quando as ruas do país e a Esplanada dos Ministérios deverão receber milhares de manifestantes pedindo a saída da presidente Dilma Rousseff, o governo tomou uma providência que, na prática, coloca os militares das Forças Armadas na Praça dos Três Poderes. A Aeronáutica adiou o evento de troca da bandeira no local, que acontece sempre no primeiro domingo do mês, para o dia dos protestos.

Militares afirmaram que o aviso sobre a mudança foi feito somente na semana passada. A Aeronáutica nega que a mudança tenha relação com os protestos e alegou que a Força estava mobilizada para a realização da “Corrida da Paz”, realizada em 21 de fevereiro, e não houve tempo para treinar os militares para a troca da bandeira.

Na última sexta- feira, com o aumento da tensão nas ruas em São Paulo por causa do depoimento do ex- presidente Lula na Operação Lava- Jato, o governador Geraldo Alckmin recebeu o telefone de um oficial da Aeronáutica pondo a Força à disposição.

— Eles ligaram se colocando à disposição, mas não teve nenhuma necessidade — afirmou Alckmin.

A Aeronáutica foi surpreendida pela operação cumprida pela Polícia Federal, a mando da Lava- Jato, e não conseguiu fazer a segurança do aeroporto de Congonhas, onde simpatizantes pró e contra Lula se enfrentaram. O Comando da Aeronáutica mostrou- se irritado por não ter sido informado pela PF. O oficial agradeceu Alckmin pelo trabalho feito pela Polícia Militar no local.

Ex- comandante da PM e ex- secretário nacional de Segurança Pública, o coronel José Vicente da Silva Filho explicou que a decisão sobre oferecer reforço de militares a governos estaduais é da Presidência da República.

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DEM questiona viagem de presidente para se solidarizar com Lula

Para partido, Dilma e ministros deveriam ter custeado ida a São Bernardo do Campo

 

- BRASÍLIA- As lideranças do DEM na Câmara e Senado entrarão com requerimento de informação na Presidência da República e uma representação na Procuradoria Geral da República pedindo investigação sobre a viagem da presidente Dilma Rousseff a São Bernardo do Campo, para se solidarizar com o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após seu depoimento na Operação Lava- Jato.

Os líderes pedem investigação sobre o custo do deslocamento da comitiva no boeing presidencial, jatinhos da Força Aérea Brasileira ( FAB) e helicóptero, além do pagamento de diárias para equipe de apoio. E querem que Dilma e ministros devolvam os recursos gastos aos cofres públicos.

De acordo com a assessoria do Palácio do Planalto, a Presidência só vai se manifestar oficialmente depois que as ações forem protocoladas. No entanto, extraoficialmente, informa que, por imposição de segurança, todo deslocamento da presidente precisa ser feito por meio do avião presidencial; se for necessário, também há o uso de helicóptero militar.

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