O globo, n. 30.163, 07/03/2016. País, p. 5

A infestação por bairros

Índices são altos na Tijuca e na Zona Oeste; casos de dengue na cidade aumentam 442%.

Por: Fábio Teixeira

 

Tijuca, Santa Cruz e Campo Grande estão com índice de infestação do Aedes aegypti superior a 1%, percentual considerado tolerável pela OMS. A média do Rio é 0,9%, segundo levantamento da prefeitura. Em relação aos dois primeiros meses de 2015, os casos de dengue aumentaram 442% este ano na cidade. O medo no município do Rio se traduz em um percentual: 0,9%. Esta é a taxa de infestação obtida pelo mais recente Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti ( LIRAa), realizado entre os dias 18 e 24 de fevereiro em imóveis de dez regiões. O indicador da quantidade de focos encontrados em prédios e outras construções está apenas 0,1% abaixo do número considerado tolerável pela Organização Mundial da Saúde ( OMS) para a presença de focos do mosquito, que é transmissor de dengue, zika e chicungunha. Em outubro do ano passado, quando foi divulgado o LIRAa anterior, o índice ficou em 1%. Apesar da leve melhora na média da cidade, três grandes bairros estão com taxas de infestação acima do limite estipulado pela OMS: Campo Grande, Santa Cruz e Tijuca.

Considerado, por pesquisadores, fundamental para a elaboração de estratégias de combate ao

Aedes, o LIRAa não vinha sendo feito no Rio, já que o Ministério da Saúde solicitou aos municípios concentração de esforços em outras ações contra o mosquito. Mas a prefeitura voltou a realizá- lo, apesar de o processo de registrar locais com larvas exigir mais tempo de trabalho das equipes que visitam os imóveis da cidade.

A chamada Área Programática ( AP) 5.2, que abrange Campo Grande, Santíssimo, Senador Vasconcelos, Inhoaíba, Cosmos, Guaratiba, Barra da Guaratiba e Pedra de Guaratiba, é a que apresenta o maior índice de infestação predial: 1,5%. Em relação ao levantamento de outubro, houve um aumento de 0,2%. Também na Zona Oeste, a região de Santa Cruz, Sepetiba e Paciência ( AP 5.3) está com nível de infestação de 1,2%. No último levantamento, o índice na região era de 0,6%, o que a classificava como área com taxa tolerável. A Grande Tijuca ( AP 2.2), que abrange Maracanã, Vila Isabel, Andaraí e Grajaú, é outra que apresenta um índice acima da média: 1,2%. Nela, não houve variação em relação ao LIRAa anterior.

SECRETÁRIO VÊ SITUAÇÃO DENTRO DA NORMALIDADE

O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, acha a média de 0,9% na cidade um bom resultado, considerando a série histórica do Rio. Mas, segundo ele, a prefeitura está preocupada com as áreas nas quais o LIRAa indicou taxas maiores de infestação do Aedes aegypti:

— A cidade se encontra com taxa muito abaixo da média histórica. Tivemos um ano ( 2009) com 4%, por exemplo. Mas em Campo Grande e Santa Cruz realmente não temos um número adequado. O índice também está alto na Tijuca, especialmente em áreas de favelas.

A taxa de infestação se reflete nos números de casos confirmados de dengue nas regiões onde o LIRAa apontou maior quantidade de focos do mosquito. Nos dois primeiros meses deste ano, foram 176 em Campo Grande, contra 63 no mesmo período do ano passado. Em Santa Cruz o salto foi ainda mais expressivo: de 19, em janeiro e fevereiro de 2015, para 94, este ano. Na Grande Tijuca, o aumento foi de 69 para 77. Na cidade inteira, o número de casos foi de 480 para 2.605, o que corresponde a um aumento de 442%. No entanto, a estatística não assusta o secretário municipal de Saúde.

— Está longe de ser uma explosão de casos — disse Soranz. — Só em janeiro de 2013, por exemplo, chegamos a ter mais de 3.900.

O secretário afirmou que sua maior preocupação é a grande quantidade de focos do Aedes em “depósitos fixos”, como ralos e piscinas, que representam 26,9% dos pontos de proliferação do mosquito identificados.

No LIRAa anterior, Madureira foi o bairro com mais alta taxa de infestação: 1,4%. No novo relatório, seu índice é 0,8%, ou seja, houve uma queda de 0,6%. Soranz informou que as mesmas medidas tomadas para reduzir os focos de Aedes em Madureira serão colocadas em prática em Campo Grande, na Tijuca e em Santa Cruz:

— Agora, vamos nos concentrar nesses locais. Já aumentamos o número de visitas.

Na Zona Sul, o índice de infestação caiu ligeiramente, de 0,6% para 0,5%. Mas o número de casos confirmados de dengue subiu, numa comparação entre os dois primeiros meses de 2015 e deste ano, de 68 para 172.