O globo, n. 30.162, 06/03/2016. País, p. 4

Odebrecht foi a que mais doou a instituto e pagou por palestras

Por: Cleide Carvalho

Empresa de Lula recebeu 47% dos seus recursos de investigadas na Lava-Jato.

 

- SÃO PAULO- A Odebrecht foi a empresa que mais contribuiu com doações ao Instituto Lula e pagou por palestras do expresidente entre 2011 e 2014. No total, foram R$ 7,678 milhões, dos quais R$ 4,6 milhões foram destinados ao instituto e R$ 3,013 para pagamentos à LILS Palestras e Eventos, a empresa do ex-presidente. Na sequência estão Camargo Corrêa, com R$ 6,757 milhões; Andrade Gutierrez, com R$ 4,934 milhões; Queiroz Galvão ( R$ 4,216 milhões) e OAS (R$ 3,917 milhões). Todas são investigadas pela Lava-Jato.

Enquanto a Odebrecht foi a que mais pagou por palestras de Lula, a Camargo Corrêa encabeça a lista dos doadores ao Instituto Lula, com R$ 4,750 milhões no período. Segundo documento do Ministério Público Federal, a LILS Palestras faturou R$ 21,080 milhões entre 2011 e 2014. Deste total, 47% foram pagos por empreiteiras investigadas na Lava-Jato — incluindo a UTC, cujo dono, Ricardo Pessoa, é um dos delatores do esquema de corrupção na estatal.

Os procuradores afirmam que Lula recebeu 36% do lucro distribuído pela LILS durante os quatro anos de atividade da empresa. A maior retirada foi feita em 2014, no valor de R$ 5,67 milhões. Paulo Okamotto, presidente do instituto, é sócio minoritário da empresa e sua retirada em 2014 foi de R$ 333 mil.

O Instituto Lula informou que as palestras feitas pelo ex-presidente foram realizadas e que foram emitidas notas fiscais. Acrescentou que pagou os impostos de acordo com a legislação do país e que não há nenhuma ilegalidade no recebimento pelas palestras. O MPF já notificou as empresas que contrataram palestras do ex-presidente a apresentarem comprovantes de realização dos eventos.

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Lula, Freud e o futuro da esquerda

Por: JOSÉ PADILHA

 

Não resta a menor dúvida, para qualquer pessoa minimamente razoável, de que o Partido dos Trabalhadores e seus principais dirigentes — entre eles José Dirceu, Antônio Palocci, João Vaccari e Luiz Inácio Lula da Silva — estruturaram uma organização criminosa com o apoio de outras facções da política brasileira ( facção se aplica melhor à nossa realidade do que partido) com o objetivo precípuo de se perpetuar no poder. Para tal, desviaram recursos de empresas estatais, de bancos públicos e de fundos de pensão, se associaram a grupos de empreiteiros mafiosos, utilizaram laranjas, marqueteiros e doleiros em larga escala, fraudaram o processo eleitoral com recursos provenientes de corrupção e fizeram políticas públicas totalmente irresponsáveis, levando o Brasil à bancarrota. Não resta dúvida também, como disse o capitão Nascimento em Tropa de Elite, que “quem rouba para o sistema também rouba para família”. Isto está claro e transparente — como a luz que incide na cobertura 164 A do único edifício pronto no condomínio Solaris.

No entanto, ainda há quem tente negar a realidade revelada no processo do mensalão e nas provas e testemunhos das operações Lava-Jato e Zelotes. O que nos leva de volta a Sigmund Freud: por qual motivo há tanta relutância por parte da esquerda em encarar a realidade que lhes foi exposta ao longo dos últimos anos? A explicação é dupla. No caso da militância profissional, da UNE, da CUT e do MST, se aplica a máxima de Upton Sinclair, famoso escritor americano: “É difícil fazer com que alguém entenda algo quando o seu salário depende do não entendimento deste algo.”

Mas o que dizer dos intelectuais e artistas que não recebem salários por sua “militância”? No caso deles, não se trata de grana, mas de uma questão psicoanalítica. Investiram as suas vidas e reputações em posições pró Lula e pró PT. Agora, não suportam reconhecer o erro que cometeram por uma questão de autoimagem. Freud e sua filha Anna chamaram este fenômeno de negação. Trata-se de uma defesa contra realidades externas que ameaçam o ego. Saber lidar com a negação me parece ser a questão básica para a sobrevivência da esquerda brasileira hoje. Se os pensadores de esquerda não tiverem a grandeza de reconhecer o erro que cometeram com Lula e com o PT, se comprarem a tentativa de Lula e do PT de incendiar o país para criar um ambiente irracional posto na vigência da razão não há saída, a esquerda brasileira vai afundar com eles. Lula e o PT se tornarão os arautos da destruição do pensamento marxista no Brasil.

 

José Padilha é cineasta. Escreveu e dirigiu os dois filmes Tropa de Elite

 

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