O globo, n. 30.158, 02/03/2016. País, p. 4

Lago dos cisnes de Lula

Pedalinhos que estão no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, têm nomes iguais aos de dois netos do ex- presidente e foram comprados em loja de São Lourenço por assessor da Presidência

Por: Luiza Souto

 

Os dois pedalinhos que estão no lago do sítio de Atibaia ( SP) frequentado pelo ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm capas com os nomes de dois netos e foram comprados por um assessor especial da Presidência da República. O subtenente Edson Antônio Moura Pinto, de 48 anos, foi quem encomendou e pagou R$ 5,6 mil pelos equipamentos, adquiridos em uma loja de São Lourenço ( MG).

Os brinquedos, em forma de cisne branco, têm capas pretas com os nomes de Pedro, de 5 anos, filho de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha; e Arthur, de 4 anos, filho de Sandro Luís. As imagens foram divulgadas anteontem pelo “Jornal Nacional”.

De acordo com nota fiscal emitida pela loja Ipê Fibras, que vendeu os equipamentos, e divulgada pelo site O Antagonista, os pedalinhos foram comprados pelo subtenente em dezembro de 2013, um ano após o lago ter passado por reforma. Uma cópia da nota foi enviada ao GLOBO pela Ipê Fibras.

— Ele ( Moura) nos achou na internet e nos ligou. Não chegou a vir aqui e também não disse para quem seriam os pedalinhos. Até falei que tinha loja em Atibaia, mas ele preferiu comprar conosco ( em São Lourenço). Ainda dei desconto de R$ 48. Ele deu uma choradinha — explicou o dono da loja, José Reinaldo Ferreira da Silva.

O trabalho do subtenente é dar “apoio a ex- presidentes da República”. No dia seguinte à data de emissão da nota ( 19 de dezembro de 2013), Moura esteve no sítio, onde permaneceu até o dia 22 do mesmo mês. A Presidência pagou R$ 528,70 referentes às diárias dele. Moura não foi localizado para comentar a compra dos pedalinhos.

Por e- mail, o Instituto Lula confirmou que “o referido subtenente ocupa esse cargo, que é o de um assessor pessoal do expresidente para a função que ele ( Lula) indicar”. A instituição informou ainda que o funcionário “pode fazer esse tipo de tarefa, porque a lei estabelece que o papel dos funcionários é de segurança e apoio pessoal”.

O Instituto lembrou ainda que o ex- presidente e sua mulher, Marisa Letícia, “frequentam o sítio, que é de propriedade de amigos da família” e que “os proprietários do sítio constam na escritura e não são empresas offshore no Panamá”. Segundo a nota, os pedalinhos foram adquiridos por Marisa e deixados em Atibaia porque “não faz sentido guardar pedalinhos em um apartamento em São Bernardo do Campo”.

Alvo da Lava- Jato por envolvimento em desvios na Petrobras, a construtora Odebrecht teria realizado obras de reforma no local. O pecuarista preso na La-va-Jato José Carlos Bumlai, amigo de Lula, teria pagado parte da reforma do imóvel, segundo documentos apreendidos pela PF. Desde 2012, Lula e a família viajaram 111 vezes ao local, segundo revelou a revista “Época”. Logo após deixar a Presidência, Lula enviou seus pertences e de seus familiares para o sítio. Entre os itens transportados, havia 200 caixas, sendo 37 com bebidas.

Na segunda- feira, os advogados do ex- presidente Lula e de sua mulher apresentaram por escrito as explicações sobre o sítio de Atibaia, na investigação movida pelo Ministério Público de São Paulo. Segundo eles, o imóvel foi prospectado pelo sindicalista Jacó Bittar em 2010. Bittar tinha a intenção de oferecer a Lula um local em que pudesse guardar os objetos que ganhou durante o período em que permaneceu na Presidência.

Como ficou doente, Bittar teria dado o dinheiro para que seu filho, Fernando Bittar, fechasse o negócio. O valor, no entanto, teria sido insuficiente, o que levou Fernando a chamar Jonas Suassuna para entrar como sócio na propriedade.

No documento, os advogados afirmam que Lula só soube da compra do sítio no dia 13 de janeiro de 2011, dois dias antes de ir pela primeira vez ao local. O imóvel do sítio, assinalam, tinha apenas dois quartos e condições precárias. Desta forma, Bumlai ofereceu a reforma. “Depois, diante de algumas dificuldades técnicas, a obra foi concluída por uma empresa situada a cerca de 50 km do sítio Santa Bárbara”, diz o documento da defesa. O nome da empresa não foi informado.

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Defesa reclama de ‘achincalhamento público’

Ministério Público de São Paulo diz que ex- presidente não será intimado a depor

Por: Renato Onofre

 

-SÃO PAULO- Em petição encaminhada ao Supremo Tribunal Federal ( STF), os advogados de Luiz Inácio Lula da Silva acusam a força- tarefa da Operação Lava-Jato de usar a imprensa para promover o “achincalhamento público” do ex- presidente. Os advogados dizem também que é “descabida e censurável” a afirmação da força- tarefa de que há suspeita que o petista tenha recebido vantagens ilícitas de empreiteiras durante o exercício do mandato presidencial.

“As espantosas afirmações dos ilustres membros do Ministério Público Federal lotados em Curitiba foram feitas menos para o deslinde da questão e mais para a ampla divulgação na mídia, dentro do calendário de achincalhamento público do ex- presidente”, escreveram os advogados de Lula. “É descabida e censurável a afirmação de que haveria suspeita de que o autor pode ter recebido vantagens ilícitas durante o mandato presidencial, pois não há qualquer elemento concreto que possa dar suporte a essa afirmação, senão um exacerbado entusiasmo associado a um pensamento desejoso ( wishful thinking)”, concluem.

A defesa reforça o pedido de suspensão das investigações contra Lula e diz que “só as ditaduras — políticas e midiáticas — gostam de escolher os acusadores” à sua vontade.

Ontem, o promotor Cássio Conserino, que conduz as investigações em São Paulo sobre a suposta ocultação de patrimônio no caso do tríplex do Guarujá, informou que o petista e sua mulher, Marisa Letícia, não serão intimados novamente a depor. Em nota, o promotor informou que, na condição de investigados, eles não são obrigados a prestar esclarecimentos neste momento e que já encaminharam seus posicionamentos por escrito.

Desde o início da semana, a defesa de Lula tenta no STF uma liminar para suspender as investigações comandadas por Conserino e pela Lava- Jato. A defesa alega que os assuntos estão sendo apurados ao mesmo tempo em dois órgãos, o que caracteriza um conflito de atribuições. De acordo com a petição, assinada pelos escritórios Teixeira Martins e Nilo Batista Advogados, a força- tarefa enviou manifestação ao STF sem que a ministra Rosa Weber, relatora do caso, tivesse solicitado. “Esse açodamento revela, sem dúvida alguma, um extremado apego — ou mesmo interesse — por parte dos membros da força- tarefa da Lava- Jato de investigar o autor”, diz o texto. “Membros da Lava-Jato trabalham, claramente, com a força das palavras em detrimento dos fatos com objetivo de ganhar espaço na imprensa e de promover a publicidade opressiva — deixando líderes políticos na posição humilhante de ter constantemente de responder a acusações e de ter a sua agenda política definida por outros”.

Os advogados fizeram menção ao juiz Sérgio Moro no documento. Dizem que a publicidade feita pelos investigadores é uma receita lançada na internet pelo juiz em artigo sobre as Operações Mãos Limpas, de 2004. Nele, Moro faz uma análise de como as revelações pela imprensa italiana “mantiveram o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva”. O artigo já foi alvo de ataques de advogados de réus das investigações.