O globo, n. 30.158, 02/03/2016. País, p. 5

Em prisão domiciliar, Delcídio enfim deixa presidência de comissão

Renúncia era pedida por seu partido, o PT, para evitar constrangimentos

Por: Júnia Gama

 

- BRASÍLIA- Mais de dez dias após deixar a prisão e sob intensa pressão do seu partido, o senador Delcídio Amaral ( PT- MS) comunicou ontem sua renúncia à presidência da cobiçada Comissão de Assuntos Econômicos ( CAE). O comunicado foi lido no plenário por um colega, o senador José Medeiros ( PPS- MT), já que Delcídio está de licença médica por 15 dias e, até o momento, não apareceu no Senado.

A renúncia à CAE atende ao pleito do PT para que o senador não crie constrangimentos ao partido e mantenha postura o mais discreta possível para evitar ser abandonado no Conselho de Ética e ter o mandato cassado. A cúpula petista ameaçou ainda transformar sua suspensão em expulsão caso trouxesse problemas para a sigla.

Na semana passada, em gesto de solidariedade a Delcídio, os integrantes do Conselho de Ética aceitaram a destituição do relator do processo contra o petista, que resultará em atraso de semanas na análise do caso. Alegando que o relator antes sorteado, Ataides de Oliveira ( PSDB- TO), não teria isenção, Delcídio pediu sua substituição, que foi aprovada sem resistência dos partidos. O presidente do conselho, senador João Alberto ( PMDB- MA), terá que sortear um novo relator em sessão prevista para hoje.

Dias antes, em conversa com senadores do PT na casa de um amigo, onde ele está recolhido em prisão domiciliar, Delcídio deixou claro que não aceitará ter seu mandato cassado. E o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), defendeu um rito sem pressa, e que o conselho só julgue Delcídio depois que seu processo for aberto pelo Supremo Tribunal Federal. Nos últimos dias, Delcídio tem ligado e mandado cartas para os senadores fazendo sua defesa perante o conselho. Ele insiste que foi vítima de uma “armação” orquestrada por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, ex- diretor da Petrobras, envolvido com o esquema de corrupção na estatal.

— Só não vou aceitar ir para Curitiba — disse Delcídio aos senadores Humberto Costa ( PT- PE) e Paulo Rocha ( PTPA), em referência à Justiça Federal do Paraná, onde o juiz Sérgio Moro já emitiu diversas sentenças de condenação no âmbito da operação Lava- Jato.

Na ocasião, Delcídio disse que não pretende criar problemas em relação à presidência da CAE, nem qualquer outro constrangimento ao PT, mas enfatizou que não irá tolerar perder o mandato e, consequentemente, o foro privilegiado.

A senadora Gleisi Hoffmann ( PT- PR), também investigada na Lava- Jato, é o nome indicado pelo partido para assumir a presidência da CAE.

Na nota de renúncia, Delcídio alega que irá se concentrar na defesa no Conselho de Ética e na recuperação de sua saúde:

“Considerando a necessidade de preparar meu retorno à base eleitoral que represento, concentrarme na defesa junto ao Conselho de Ética e ao restabelecimento pleno da minha saúde, deixo a Presidência da Comissão de Assuntos Econômicos, no Senado Federal. Sendo o que se apresenta para o momento, renovo os meus protestos de elevada estima e consideração” diz o texto lido em plenário.

 

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