NÍVEIRA RIBEIRO

A repercussão da ação da Polícia Federal contra o ex-presidente Lula repercutiu com força no exterior. Veículos importantes da imprensa internacional deram destaque ao fato desde a manhã da sexta-feira. À noite, alguns jornais ainda traziam o tema na página principal, como a BBC, emissora pública britânica que, às 21h, mantinha uma foto do petista estampada com destaque, apoiada pela manchete “Lula desafiador em relação ao caso de corrupção no Brasil”.

“Ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva prometeu lutar contra acusações de que estaria envolvido em um enorme esquema de propinas da gigante petroleira Petrobras”, narrou a BBC no texto. “Há muito mais em jogo nessas investigações que somente a reputação pessoal de Lula. O legado e o futuro do projeto dele para o Brasil — que moldou o país pelos últimos 14 anos — também estão sob escrutínio”, publicou o veículo.

“Turbulência”
O The New York Times atestou que a investigação ocorre em um momento de “crescente turbulência política e econômica”. “O escândalo de corrupção colossal em torno da companhia nacional de petróleo envolveu a figura política mais proeminente do Brasil nesta sexta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto a polícia fez buscas na casa dele e o levou sob custódia”. Já o The Wall Street Journal publicou que “a crise política que ameaça atingir o governo da nação e polarizar ainda mais um público raivoso”.

A agência de notícias alemã Deutsche Welle publicou, em inglês e alemão, matérias acerca do ex-presidente. Em um artigo de opinião, o correspondente Jan Walter questionou no título: “O Judiciário brasileiro está finalmente reprimindo a corrupção?”. Lembrando os casos de Fernando Collor de Mello e Paulo Maluf, o repórter afirmou que a investigação de políticos não é comum no país, que possui uma “longa lista” de nomes que foram “acusados mas nunca indiciados, indiciados mas nunca condenados e condenados mas nunca sentenciados”. A Operação Lava-Jato, disse o autor, “está dando um passo na direção certa”.

No jornal espanhol El Pais, a jornalista Raquel Seco disse que Lula protagonizou o “pior capítulo” de crise em mais de uma década de governo petista. “Não é fácil surpreender os brasileiros em tempos de escândalos contínuos de corrupção. No entanto, na sexta-feira, aconteceu o impensável: Luiz Inácio Lula da Silva, que foi o presidente mais popular da democracia do Brasil, (...) recebeu o golpe mais duro de sua carreira”, emendou.

Por volta das 20h, o francês Le Figaro publicou a matéria “Brasil: ex-presidente não teme a Justiça”. No texto, o jornal explica que Lula, ouvido pela polícia acerca do escândalo de corrupção na Petrobras, afirmou em coletiva de imprensa que, apesar de não sentir medo da Justiça, se sentiu como um prisioneiro. “O ícone de esquerda veterano que governou o Brasil de 2003 a 2010 qualificou as buscas em domicílio e a condução à Polícia como um show midiático e um espetáculo pirotécnico, no lugar de um inquérito sério.”

A publicação inglesa The Independent lembrou que Lula “já havia enfrentado interrogatório acerca de transações financeiras de um dos filhos dele” e agora “lida com os procuradores de Justiça de São Paulo sobre a posse de um tríplex de frente para o mar e um sítio”. O Brasil, diz o jornal, foi balançado pelo crescente escândalo da Petrobras, que capturou uma dúzia de pessoas envolvidas em negócios e política e que agora podem também envolver Lula.