Correio braziliense, n. 19276, 05/03/2016. Política, p. 10

BACTÉRIA CONTRA O VÍRUS DA ZIKA

Fiocruz testa em bairros do Rio de Janeiro procedimento que imuniza os insetos e evita a transmissão de zika,chicungunha e dengue

A Fiocruz anunciou ontem os resultados do projeto que inibe o desenvolvimento e a transmissão da dengue, febre chicungunha e zika vírus ao infectar o mosquito Aedes aegypti com a bactéria Volbaquia. Ao ser infectado com a bactéria, o inseto cria imunidade aos vírus, evitando a transmissão das doenças.


O método foi testado em dois bairros no Rio de Janeiro. O projeto da Fiocruz liberou os mosquitos com a bactéria na Ilha do Governador e em Jurujuba em agosto do ano passado. Quando coletados, em janeiro, 80% dos mosquitos do local estavam infectados. O resultado sugere que o controle se baseia na reprodução natural do inseto. A fêmea infectada repassa a bactéria para os filhotes, que também nascem incapazes de transmitir as doenças.

A Volbaquia é natural em pelo menos 70% dos insetos. Entretanto, não ocorre naturalmente no Aedes aegypti. Por isso, as primeiras infecções do mosquito foram feitas em laboratório. A bactéria é inócua, ou seja, vive dentro das células do hospedeiro. Então, quando o inseto morre, ela morre também. Segundo o projeto, a Volbaquia não oferece risco à saúde humana.

Segundo a Fiocruz, a eficácia do método só será atestada após dois anos de resultados. Segundo a instituição, a expansão e a aplicação da técnica dependem da disponibilização de verba do Ministério da Saúde.

OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ontem que o Brasil vive a “estação alta” de proliferação da zika e apontou que se acumulam evidências da relação entre o vírus e os casos de microcefalia. A entidade convocou uma nova reunião de emergência dos especialistas internacionais para 8 de março, com a possibilidade de que o alerta mundial seja incrementado.

Em entrevista à imprensa internacional em Genebra, o diretor de Operações da OMS para a zika, Bruce Aylward, atualizou os resultados de pesquisas realizadas pelo mundo. “Hoje, temos registrado o vírus em 47 países”, disse Aylward, que admitiu que o surto é um dos “mais desafiadores” que ele já enfrentou.

Mas são as relações entre o vírus e a microcefalia que mais chamam a atenção dos técnicos. “Estamos vendo uma acumulação da relação casual”, disse. Ele confirma que o aumento dos casos no Brasil é “substancial” e que pode ser mais de 10 vezes superior à taxa anual de microcefalia.

Ao mesmo tempo, ele apontou que não existem contraprovas de que outro fator esteja sendo o responsável pelos casos. “As evidências contrárias não estão sendo registradas. Não temos visto outros fatores.”

“Fomos procurar se existem explicações alternativas para a microcefalia. Poderia ser genético, exposição à bebida, drogas e infecções. Em cada local investigado, nada tem sido encontrado para apontar para outras causas. Só nos deixa com essa associação entre o zika e a microcefalia. Mas a questão é saber até que ponto é forte essa associação”, explicou.

Aylward também destacou que não existem indícios de que microcefalia teria sido causado por produtos químicos. “Os pesquisadores estão vendo um número maior de doenças em mães que tiveram filhos com microcefalia”, indicou.

"Fomos procurar se existem explicações alternativas para a microcefalia. Poderia ser genético, exposição à bebida, drogas e infecções. Em cada local investigado, nada tem sido encontrado para apontar para outras causas. Só nos deixa com essa associação entre o zika e a microcefalia”