Correio braziliense, n. 19275, 04/03/2016. Economia, p. 8

PIB TOMBA 3,8% E PAÍS MERGULHA NA DEPRESSÃO

CONJUNTURA » Economia tem a maior retração em 25 anos. Em 2016, queda pode passar de 4%. Para analistas, a recessão será a mais prolongada da história. Sem reforma fiscal e o fim da crise política, Brasil caminha para ter década perdida
Por: Paulo Silva Pinto

 

PAULO SILVA PINTO
ENVIADO ESPECIAL

 

Rio de Janeiro — A economia brasileira atravessa um dos piores momentos da história, atestou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ao anunciar a queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 em relação a 2014. “Em termos reais, voltamos ao mesmo patamar do primeiro trimestre de 2011”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais da instituição, Rebeca de La Rocque Palis. Desde 1990, quando o então presidente Collor de Mello confiscou a caderneta de poupança e a economia caiu 4,3%, o país não via um tombo tão forte. Em 1981, houve retração do mesmo tamanho. Fora esses dois anos, os 3,8% de 2015 são o pior resultado desde o início do século 20. “É um número horroroso. E, neste ano, o problema vai continuar”, disse João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
As perspectivas dos especialistas são de que o PIB caia pelo menos 4% em 2016. Os mais pessimistas, como o economista-chefe da MB Associados, Sergio Valle, dizem que é possível que a contração chegue a 4,9%, caso o país continue convivendo com o caos econômico e uma crise política sem precedentes. A situação é tão dramática que, supondo que nada mais acontecesse no ano, o PIB já teria contração de 2,5%. Mas não é só: a demanda doméstica, que dá o retrato exato do que está ocorrendo internamente no país, desabou 6,5%. O consumo das famílias cedeu 4%, o maior da série histórica do IBGE, e os investimentos, 14,1%, o sinal mais evidente de que a recessão será prolongada.
Na média dos cinco anos de governo Dilma, o PIB acumula crescimento médio de 1%. Trata-se do terceiro pior resultado da história. Só fica à frente do observado na administração Collor de Mello, com retração média anual de 1,3%, e de Floriano Peixoto, com contração de 7,5%. Pelas contas dos especialistas, consideradas as projeções até 2018, o crescimento médio do PIB de Dilma ficará em 0,5% ao ano, desempenho não observado desde 1901. A petista terá ainda outro recorde a ostentar: dois anos seguidos de recessão, fato que só ocorreu em 1930 e 1931. Há quem já preveja queda também em 2017, o que, se ocorrer, completará um triênio inédito de retração. Quando medido em dólar, o PIB retornou aos níveis de 2007, segundo cálculos do Banco Santander.
O que mais assusta os analistas é o fato de não haver luz no fim do túnel. À recessão de 1981 e à de 1990 seguiram-se anos de algum crescimento. Agora, veremos ao menos 24 meses de queda do PIB. “É um quadro dramático”, ressaltou Vagner Alves, da economista da gestora de recursos Franklin Templeton. Ele prevê retração de 4% neste ano e de 1% em 2017, “caso não sejam feitas reformas que levem a algum ajuste das contas públicas”. Alves destacou ainda que o índice de confiança de empresários de serviços está muito baixo, nos menores níveis desde o início da série histórica. O setor, que mais emprega, teve queda de 2,7% no ano passado. A indústria caiu mais: 6,2%. Dos itens que compõem o PIB pela ótica da oferta, só a agricultura teve resultado positivo, de 1,8%. Foi menor, porém, do que os 2,2% de 2014.

Tempos nebulosos
Para o banco Goldman Sachs, o país já está em depressão, caracterizada por oito trimestres de queda, superando 10% no total. Os resultados apresentados pelo IBGE mostram sete reduções em relação aos trimestres anteriores. Só que os primeiros três meses de 2016 também ficarão em terreno negativo, fazendo com que o ciclo se complete. Será uma retração superior à vista nos anos 1980, considerados a década perdida. “São tempos nebulosos. A crise política continua. Assim, não é possível contar com solução para os problemas fiscais que levaram o país para a beira do precipício. O ajuste do ano passado foi insuficiente para levar a trajetória da dívida para um nível sustentável. O governo teria de cortar gastos, mas eles são engessado”, afirmou o economista Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
A falta de confiança é o principal empecilho para a retomada da atividade, explicou José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Investimentos e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “A queda do investimento é espetacular. O governo está completamente perdido, e ninguém vai investir nesta situação. Isso tende a piorar com o vácuo do poder político, o que é desastroso”, disse. Para Sergio Valle, da MB Associados, o melhor para o país agora seria uma mudança de governo. “Ninguém espera um novo presidente brilhante. Mas qualquer coisa será melhor. Nada mais se pode esperar do governo atual, que afundou o país ao longo de cinco anos”, sentenciou. Na contas dele, com Dilma no poder, o PIB deste ano cairá 4,9%. Sem ela, a retração será de 3,8%.

Ajuda externa
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 só não foi pior devido à contribuição do setor externo, que registrou alta de 2,7%. As exportações superaram as importações, que sentiram o peso da recessão e da alta do dólar. Foi a primeira vez, desde 2006, que o setor externo ajudou o PIB. Os especialistas não veem isso como algo espetacular. Eles chamam a atenção, ainda, para o fato de o mercado já antecipar uma possível saída de Dilma Rousseff da Presidência da República por causa de denúncias de corrução. “Mas, por enquanto, isso é mais esperança do que algo concreto”, destacou Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos.