JULIA CHAIB

O acirramento do debate político trouxe um domingo repleto de manifestações a favor e contra o governo Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em pelo menos x capitais, foram registrados protestos. O alto grau de tensão teve até a participação de um ministro. Em Brasília, o titular da Casa Civil, Jaques Wagner, bateu-boca com clientes de um restaurante.

O ex-governador da Bahia foi hostilizado ontem depois de almoçar em um estabelecimento da Asa Sul. O petista havia passado cerca de uma hora no local e, ao se levantar, uma cliente sentada em uma mesa ao fundo do restaurante gritou: “Fora, PT”. Outras pessoas sentadas à mesma mesa acompanharam a manifestação e entoaram o coro de “Fora!”, “Ladrões!”. O ministro virou-se, visivelmente irritado, e respondeu: “Vocês não estudaram? Vagabundos, mal-educados, fascistas”.

O bate-boca foi rápido. Durou menos de um minuto. O ministro estava próximo da saída do restaurante e ensaiou voltar para continuar a discussão. A mulher do petista e o gerente do local, porém, o seguraram e o desencorajaram a prosseguir o debate. A confusão gerou mal-estar no local. Após a saída do ministro, uma outra cliente foi bater boca com o grupo sentado na mesa que hostilizou o ministro e os chamou de “militares”. Diversos clientes se levantaram para ir embora.

Sem querer se identificar, o marido da cliente que pediu a saída do PT disse que é empresário, sente diariamente os efeitos da crise e por isso tem o direito de protestar contra o partido. “Me sinto na necessidade de me manifestar para ele não pensar que está tudo uma maravilha, enquanto eles estão cercados no Planalto. Me sinto no direito de me manifestar, sim”, disse o homem, que tem 52 anos. Ao Correio, o ministro Jaques Wagner disse que “é preciso ter educação democrática. Saber conviver com as diferenças sem discriminar ou ofender gratuitamente”.

Pelo Brasil

No Rio de Janeiro, cerca de 100 partidários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo a filha dele, Lurian Cordeiro Lula da Silva, protestaram contra a Rede Globo em frente à sede da emissora, no Jardim Botânico. Lurian se recusou a falar e acenou com o dedo do meio. “Aqui para vocês, eu não falo com mídia golpista.” Em Paraty, no litoral fluminense, um grupo de ativistas fez um ato em frente à casa de praia da família Marinho, proprietária da Rede Globo.

Além de cartazes e faixas, os manifestantes trouxeram uma réplica de jararaca, em referência à declaração de Lula após ser levado de forma coercitiva para depor à Polícia Federal. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca está viva”, disse o ex-presidente em entrevista coletiva na sede do diretório do PT em São Paulo na sexta (4). O presidente do PT no Rio de Janeiro, Washington Quaquá, afirmou que Lula foi “sequestrado” pelo juiz Sérgio Moro, que autorizou a ação da PF.

Os manifestantes ainda pediram reação da presidente Dilma Rousseff contra “a tentativa de golpe” e engrossaram o coro pela saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Entre os que passavam de carro pelo local do protesto, houve quem manifestasse apoio e balançasse bandeiras do PT, enquanto outros fizeram sinal de desaprovação.

Convocação

Em São Paulo, manifestantes pró-impeachment promoveram uma carreata para chamar a atenção da população para o ato marcado para o próximo domingo em centenas de cidades brasileiras pela saída da presidente. A carreata teve início por volta das 15h40, saindo da praça Charles Muller, Zona Oeste da capital paulista, e seguiu em direção ao Parque do Ibirapuera. Cerca de 60 carros decorados com bandeiras do Brasil e bonecos retratando Lula como presidiário participaram do movimento.

Os motoristas percorrem o trajeto buzinando e com os pisca-alertas dos carros ligados. “Nossa intenção é aproveitar a aglomeração de gente no parque para encerrar a carreata com uma panfletagem chamando para o ato de domingo. Mas se continuar chovendo, faremos menos rua e mais carros mesmo”, disse o empresário Renan Santos, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, organizador da manifestação.

Frase

“Vocês não estudaram? Vagabundos, mal-educado, fascista”

Jaques Wagner, ministro da Casa Civil