MARCELLA FERNANDES
FLAVIA AYER
MARIANA NASCIMENTO
Especial para o Correio
Brasília e Belo Horizonte — Um dia após a operação da Polícia Federal que obrigou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a prestar depoimento, manifestantes foram às ruas em São Bernardo do Campo (SP) em defesa do petista. Pelo país, também foram registradas manifestações em apoio ao protesto marcado para o próximo dia 13, quando será defendido impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ambos os lados se mobilizam diante da 24ª da Operação Lava-Jato, deflagrada na última sexta-feira, que apura o envolvimento de Lula em esquemas de corrupção.
Pela manhã, cerca de 300 pessoas de sindicatos ligados ao PT participaram de ato em frente à casa de Lula em São Bernardo do Campo (SP). Vestidos de vermelho e empunhando faixas e cartazes, eles permaneceram até a chegada de Dilma, no início da tarde. Já a porta da garagem do Instituto Lula, no Ipiranga, zona sul da capital paulista, amanheceu pichada com as seguintes mensagens contra o ex-presidente: “Luladrão”, “basta de corrupção” e “sua hora chegou, corrupto”. A pichação foi coberta por um desenho feito pelo grafiteiro Tody One, de acordo com nota divulgada pelo Instituto.
Na noite de sexta-feira, protesto em Sorocaba (SP) teve episódios de violência. Militantes e políticos ligados ao PT e ao PSDB entraram em confronto. O ex-vereador tucano e ex-petista Arnô Pereira levou um soco na boca. Ele acusou o vereador petista e presidente do diretório municipal do partido, Izídio de Brito, pela agressão. Brito nega. Durante a manifestação, petistas tentaram impedir tucanos de distribuírem adesivos com o desenho de duas mãos algemadas, uma delas sem o dedo mínimo, em uma alusão ao ex-presidente.
Guerra de claques
No Distrito Federal, moradores de Águas Claras fizeram um buzinaço pela manhã de ontem em apoio ao ato do próximo dia 13, contra o PT. Por outro lado, lideranças do PT, PCdoB e de movimentos sociais com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento Sem-Terra (MST), que integram a Frente Brasil Popular, se reuniram no auditório da Câmara Legislativa do Distrito Federal para reforçar a mobilização em defesa do Lula e do mandato de Dilma. Há protestos agendados para os próximos dias até 31 de março, quando se espera que o ex-presidente participe de um ato na capital.
“O que está em jogo é a tentativa da direita de enfraquecer o partido para que, em 2018, Lula não esteja em condições de concorrer à Presidência e seja implementado um novo projeto de governo. Não vamos deixar isso acontecer”, afirmou o presidente do PT no Distrito Federal, Roberto Policarpo, que classificou a operação da Polícia Federal como “a maior arbitrariedade” da corporação.
Durante a reunião, foram feitas algumas críticas à gestão Dilma, como as medidas econômicas consideradas afrontas aos direitos trabalhistas. “Queremos um plano de recuperação econômica voltado aos trabalhadores. Vamos exigir também que a presidente pare de falar sobre a reforma da Previdência, algo que só vai ferir direitos dos trabalhadores”, afirmou o deputado distrital Chico Vigilante (PT). Foram criticados ainda projetos de lei em discussão no Congresso que reduzem a participação da Petrobras na exploração de petróleo.
Em Belo Horizonte, entidades sociais e partidos como PT e PCdoB iniciaram uma vigília democrática contra o golpe”. “Não vamos baixar a cabeça. Não vamos aceitar esse crime contra a democracia brasileira. Aqui, não vai ter golpe”, afirmou a presidente da CUT em Minas Gerais, Beatriz Cerqueira. Já organizadores das manifestações pró-impeachment esperam aumento na adesão aos protestos do próximo domingo. “Acho que vai passar de 35 mil a 40 mil pessoas”, disse o líder nacional do Patriotas, Syllas Valadão.
Frase
“O que está em jogo é a tentativa da direita de enfraquecer o partido para que, em 2018, Lula não esteja em condições de concorrer à Presidência”
Roberto Policarpo, presidente do PT no DF