Correio braziliense, n. 19281, 10/03/2016. Política, p. 5

Delcídio cita cinco senadores

CRISE NA REPÚBLICA » Aécio, Renan, Jucá, Lobão e Raupp são incluídos em novo trecho da delação do petista, preso pelos investigadores da Lava-Jato

 

Em mais um desdobramento das revelações da delação feita pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS) à força-tarefa da Operação Lava-Jato, o parlamentar cita ao menos cinco colegas da Casa. O presidente do PSDB e principal nome da oposição, senador Aécio Neves (MG), é um dos mencionados no depoimento. Candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, Aécio divulgou um vídeo nas redes sociais pela manhã afirmando que não se intimidará. À tarde, o tucano reiterou que a suposta menção ao nome dele seria uma tentativa “irresponsável” de vinculá-lo à Lava-Jato.

“Estamos vendo mais uma tentativa de vincular a oposição e claro, sempre meu nome, à Operação Lava-Jato. Outras tentativas já ocorreram e foram arquivadas porque foram desmascaradas, porque eram falsas. Este escândalo tem DNA. Ele é do PT e de seus aliados”, diz Aécio, no vídeo postado nas redes sociais. O tucano já foi citado em delações premiadas dos doleiros Alberto Youssef e de Carlos Alexandre Rocha, o Ceará, que mencionou uma entrega de R$ 300 mil ao senador. Os procedimentos foram arquivados. O fato de ser citado não implica que haverá uma investigação contra ele.

No caso da delação de Delcídio, a citação ao tucano diria respeito à atuação do senador mineiro em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), não detalhada por causa do sigilo na delação, segundo reportagem de ontem de O Globo. “Estaremos prontos para dar respostas a quaisquer indagações que venham. E vamos continuar firmes nas ruas no próximo domingo mostrando que o Brasil merece um futuro melhor do que este que o PT tem nos dado (...) Fica aqui a minha manifestação serena, mas firme. Não vamos nos intimidar”, reforçou Aécio, em entrevista na tarde de ontem.

Delcídio também teria citado o Presidente do SenadoRenan Calheiros (AL), o segundo vice-presidente do Senado, Romero Jucá (RR), o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (MA) e o senador Valdir Raupp (RO). Todos são do PMDB e alvo de investigação da operação. Renan afirmou estar à disposição para colaborar com as investigações. “Nunca cometi impropriedades, tudo que disseram até aqui foi por ‘ouvi dizer’. Não há nenhuma prova e não haverá nenhuma prova”, disse o peemedebista.

 

Dilma

A delação feita por Delcídio, revelada na semana passada pela revista Istoé, ainda não foi homologada pelo ministro-relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. A divulgação de parte do teor do depoimento prestado pelo senador enquanto ele esteve preso em Brasília abalou o mundo político. Na delação, Delcídio diz que a presidente Dilma Rousseff negociou a indicação do ministro do Superior Tribunal de Justiça Marcelo Navarro em troca da soltura de empreiteiros presos na Operação Lava-Jato. Petistas negaram a declaração assim como o ministro Marcelo Navarro, que ganhou o cargo.

Delcídio também afirma que partiu de Lula o pedido para realizar pagamentos a fim de comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. O Instituto Lula negou o cometimento de qualquer irregularidade.

O senador foi preso suspeito de atrapalhar as investigações ao propor vantagens ao ex-diretor da estatal em troca de silêncio. Delcídio foi solto no último dia 19.

 

Cassação

O senador Telmário Mota (PDT-RR), relator do processo por quebra de decoro contra o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) no Conselho de Ética do Senado, recomendou ontem a cassação do mandato do parlamentar. Ao ler o parecer, o vice-líder do governo disse que a defesa do petista não apresentou “argumento fático que permita o arquivamento”. Os senadores votarão o relatório na próxima quarta-feira. Se aceito, o processo contra o petista é aberto em definitivo. A tendência é pela aprovação. Para Telmário, se for homologada pelo STF, a delação complica ainda mais o destino do petista. “O delator para mim tem dois defeitos. Primeiro, ele é réu confesso, depois, ele é frouxo.” Já há três requerimentos no Conselho que pedem a inclusão da delação.