Correio braziliense, n. 19285, 14/03/2016. Política, p. 4

MULTIDÃO MARCHA NA PAULISTA

CRISE NA REPÚBLICA » Maior protesto já feito no Brasil contra a presidente Dilma Rousseff levou mais de um milhão de pessoas à Avenida Paulista, em São Paulo: manifestantes pediram prisão para a chefe de governo e para o ex-presidente Lula
Por: PAULO SILVA PINTO

PAULO SILVA PINTO

Enviado Especial

 

São Paulo – A avenida Paulista teve ontem o maior protesto realizado até hoje pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Não foi um feito suficiente para os organizadores, porém, que insistiram em recordes mais contundentes. “Estamos fazendo o maior protesto do mundo até hoje”, dizia o discurso em um dos carros de som.

Para representantes de alguns dos movimentos responsáveis pela manifestação, havia 2,5 milhões de pessoas na avenida. Para a Polícia Militar (PM), 1,4 milhão. E para o instituto Datafolha, o público foi de 500 mil pessoas. Na última manifestação, no ano passado, foram contabilizadas pelo mesmo instituto 200 mil pessoas, o que mostra uma clara evolução de público na manifestação de ontem.

No carro do som do Movimento Brasil Livre (MBL), o locutor não se conformava com a estimativa, divulgada no fim da tarde, antes do fim do evento. “Colocamos antenas em vários pontos da Paulista, uma tecnologia israelense. Chupa Datafolha!”, gritava ao microfone, ainda sem ter um número com que pudesse contestar o cálculo anunciado.

O MBL ficou em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). Em outro carro de som, em frente à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o locutor atacava a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. “Eu não quero que eles saiam do Brasil. Quero que fiquem aqui, fazendo dodô no buraco. Mas em Curitiba, não é na Papuda, não, que é muito confortável”, vociferava.

Políticos que fazem oposição ao governo federal passaram pela manifestação, mas não subiram no palanque. Mesmo com certo cuidado em serem discretos, não escaparam de ataques. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) concedia uma entrevista a uma equipe de tevê em frente à Fiesp quando começou a ser xingada por manifestantes. Teve de entrar no prédio da entidade. Mais tarde, sua assessoria afirmou por meio de nota que apenas um homem gritou “O PMDB é igual ao PT”.

Os senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) foram à manifestação ao lado do companheiro de partido e governador paulista Geraldo Alckmin. Aécio e Alckmin também foram alvo de xingamentos.

Com os políticos em silêncio, eram poucos os nomes conhecidos nos palanques. Um dos mais famosos era o historiador e comentarista Marco Antonio Villa. “Só haverá democracia neste país quando Lula estiver preso em regime fechado. Temos um Congresso horrível, mas é melhor que nada. O Judiciário também. Precisamos deles”, disse.

O auge da concentração de público ocorreu por volta de 16h, duas horas após o início da manifestação, que foi até 19h. O casal Marina Beltrame, empresária, e Cristian Parada, executivo, ambos de 55 anos, saiu do condomínio Alphaville. Compraram camisetas iguais, com um mote em inglês homenageando o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava-Jato: “In Moro we trust” (“em Moro confiamos”).

A manifestação movimentou bastante o comércio formal e informal das adjacências da Paulista. No restaurante Páteo, na rua Pamplona, havia uma longa espera por volta de 17h para conseguir lugar em uma das mesas tomadas por pessoas com camisas amarelas, algumas da Seleção Brasileira. Mas o gerente do estabelecimento, Ricaro Miguel, 25, não estava feliz. “Nunca perdi tanto dinheiro. Muitas gente se aproveita da confusão e sai sem pagar. Vêm aqui protestar contra a corrupção e roubam de quem trabalha”, atacou. Ele estima o prejuízo provocado pelos caloteiros em R$ 1 mil.