O Estado de São Paulo, n. 44696, 02/03/2016. Política, p. A7

Após manobra, Cunha sofre derrota

Daiene Cardoso

Após quase cinco meses do protocolo da representação do PSOL e da Rede, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados finalmente aprovou o parecer prévio pela continuidade do processo por quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O relatório do deputado Marcos Rogério foi aprovado por 11 votos a 10 contra.

O voto de desempate veio do presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA). “Não posso de forma alguma votar de forma diferente. Minha intenção é investigar”, justificou.

A sessão foi retomada as 23h17 de ontem, após Cunha segurar a sessão do plenário principal até o final da noite. Mesmo tendo concluído a votação de uma Medida Provisória, o peemedebista manteve o plenário praticamente vazio, com apenas 10 parlamentares, se revezando em discurso no tribuna. Ele chegou a prorrogar a sessão por mais uma hora sob a alegação de que havia inscritos para discursar. O objetivo era fazer com que os trabalhos no colegiado não fossem retomados até as 23h59, como prevê o regimento, e ganhar algumas horas para reverter o placar.

O presidente do conselho manteve a sessão da noite de terça para quarta-feira para concluir a votação do parecer do relator Marcos Rogério (PDT-RO). À tarde, a sessão foi suspensa devido ao início da ordem do dia no plenário. Pelo regimento, o início das votações no plenário principal impede a deliberação nas comissões.

O parecer só pode ser votado ontem porque os deputados retiraram os três pedidos de adiamento da votação, mas a sessão foi marcada por gritos e discussões para que os trabalhos fossem concluídos. Os aliados de Cunha passaram as últimas semanas manobrando para impedir as votações no colegiado.

Esse é o segundo parecer submetido à votação. O primeiro aprovado acabou sendo anulado após recurso concedido pelo vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA). A partir da notificação, Cunha terá 10 dias úteis para apresentar a defesa. A fase de instrução deve durar até 45 dias úteis e a apresentação do relatório final mais 10 dias úteis. “Acho que acaba no primeiro semestre, mas nesta Casa (Câmara) tudo pode acontecer”, comentou o presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA).

 

Mudança. Para aprovar o parecer, o relator teve de aceitar mudanças em seu parecer prévio. À pedido do deputado Paulo Azi (DEM-BA), que poderia mudar sua posição e votar à favor de Cunha, Rogério aceitou retirar o trecho de relatório que citava a possibilidade de perda de mandato por recebimento de vantagens indevidas e manteve apenas o trecho que mencionava a omissão de informações relevantes aos parlamentares.

O relator disse que a mudança não enfraquece a ação, uma vez que o trecho retirado poderá voltar ao relatório final se forem anexadas novas provas contra o peemedebista no decorrer do processo. Assim, a parte retirada poderá voltar ao texto no momento de julgar a cassação do mandato. “Não vejo prejuízo ao processo. Havendo circunstâncias novas, mudanças podem haver também”, disse .

O grupo contrário a Cunha acreditava ter pelo menos 11 votos dos 21 votantes para aprovar a admissibilidade do processo. Temendo uma derrota, os aliados de Cunha fizeram uma nova manobra, substituindo um parlamentar titular que faltou à sessão.

 

Julgamento no Supremo

 

O ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki negou ontem pedido do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para adiar o julgamento, previsto para hoje, da denúncia contra ele na Operação Lava Jato.

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Em mensagem, Padilha defende desembarque

Erich Decat

 

Uma troca de mensagens obtida pelo Estado revela o ex-ministro da Aviação Civil e um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, Eliseu Padilha, em intensa articulação pela saída do PMDB do governo após a convenção da legenda agendada para o próximo dia 12.

O evento deverá selar a recondução de Temer ao comando do partido por mais dois anos. Ele ocupa o posto desde 2001.

A troca das mensagens ocorreu no último fim de semana no grupo do aplicativo do WhatsApp intitulado “espaço das filiais”.

Ele é composto por integrantes do PMDB de várias regiões do País e da Fundação Ulysses Guimarães, órgão de estudos do partido. “A meu ver, a Convenção Nacional do PMDB que vai ocorrer no próximo dia 12, pode e deve iniciar o debate sobre quando vamos oficializar a decisão pela candidatura própria à Presidência da República e por consequência quando vamos entregar todos os cargos no governo. Para mim, o tema é simples e da mais absoluta lógica política e ética. Não me passa na cabeça que queiramos iludir aos peemedebistas e/ou ao governo, dizendo uma e fazendo outra coisa.

 

Confirmada a candidatura própria à Presidência da República, imediatamente o partido deverá entregar todos cargos no governo”, defende o ex-ministro.