O globo, n. 30.157, 01/03/2016. Economia, p. 17

Previdência na berlinda

Gastos com benefícios sociais avançam de 8,3% para 9,3% do PIB em 10 anos

Por: Martha Beck/ Bárbara Nascimento

 

- BRASÍLIA- As transferências de renda e os incentivos dados no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff para tentar turbinar o Produto Interno Bruto ( PIB) foram os principais responsáveis pela alta dos gastos públicos nos últimos dez anos. É o que mostra um estudo inédito elaborado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda ( SPE). O documento destaca que as despesas primárias do governo saltaram de 16,7% para 19,7% do PIB entre 2006 e 2015.

Por trás desse aumento estão os gastos destinados a transferências de renda, incluindo benefícios previdenciários. No total, essas despesas cresceram um ponto percentual do PIB, passando de 8,3% para 9,3% no período. E também os desembolsos com subsídios e desonerações, que aumentaram 2,2 pontos percentuais, de 3,2% para 5,4% do PIB na mesma comparação.

Segundo o secretário de Política Econômica da Fazenda, Manoel Pires, estes números são a prova de que a solução para reequilíbrio das contas públicas brasileiras passa, necessariamente, por uma reforma da Previdência.

 

PREVIDÊNCIA É O QUE MAIS PESA

Ele afirmou ao GLOBO que o governo já atacou o rombo que surgiu no Orçamento federal por causa dos incentivos ao crescimento no primeiro mandato, como os subsídios aos financiamentos do BNDES, a desoneração da folha de pagamento das empresas e o auxílio à Conta de Desenvolvimento Energético ( CDE), fundo usado também para subsidiar conta de luz das famílias de baixa renda.

— Já não há mais repasses para a CDE, houve redução dos gastos com subsídios e foram propostas mudanças no programa de desoneração da folha. Esses gastos se encontram em processo de reversão. Agora, falta discutir a Previdência — disse o secretário, que pretende levar o documento e vários outros estudos da SPE para debate no Fórum que discute a reforma da Previdência.

As despesas com transferências de renda — que respondem por mais de 60% dos gastos primários da União — incluem, além dos benefícios previdenciários, abono salarial, seguro- desemprego, programa de renda mínima para idosos e Bolsa Família. No entanto, a Previdência tem a maior fatia nessa rubrica e aumentou seu peso aumento de 6,9% para 7,4% do PIB entre 2006 e 2015.

Por outro lado, as receitas que financiam essas despesas vêm caindo. A receita líquida total, que estava estável em 19% do PIB até 2013, baixou para 17,6% do PIB em 2015. Para piorar o quadro, o montante que resta depois de deduzidas as transferências da União para estados e municípios encolheu ainda mais: passou de 10,6% em 2006 para 8,3% do PIB ano passado.

“Esse comportamento indica que os recursos disponíveis para o governo federal financiar as demais políticas públicas têm se reduzido proporcionalmente ao PIB nos últimos anos. (...) Assim, o financiamento das políticas públicas se coloca como um desafio relevante para os próximos anos”, diz o estudo da SPE.

Mesmo com esse aperto no caixa, a equipe econômica sabe que conseguir mudar as regras da Previdência é um desafio. A proposta defendida pela Fazenda de fixar uma idade mínima, por exemplo, enfrenta oposição das centrais sindicais e do próprio PT, partido da presidente Dilma Rousseff. Por isso, o ministério já se prepara para fazer algumas sinalizações que tornem a reforma mais palatável.

Uma das ideias é criar um bônus que seria acrescido ao valor da aposentadoria para compensar trabalhadores que ingressaram muito cedo no mercado e que, com a exigência da idade mínima, acabariam tendo de trabalhar um número maior de anos do que aqueles que chegam ao mercado mais tarde, em geral profissionais de maior renda que cursam antes a universidade e cursos de pós- graduação. Pires afirma, porém, que isso deve mudar, pois, no futuro, a tendência com o aumento do grau de escolaridade da população, é que as pessoas entrem no mercado de trabalho cada vez mais tarde. Até lá, o bônus serviria como uma regra de transição

Pires afirma que a regra para aposentadorias em vigor hoje, que combina idade e tempo de contribuição, faz com que as pessoas se aposentem muito jovens, com 58 anos, em média. Considerando apenas a aposentadoria por tempo de contribuição, a idade média é de 54 anos.

A pauta apresentada pelo governo no Fórum da Previdência inclui discussão sobre demografia e idade média das aposentadorias; financiamento da Previdência — receitas, renúncias e recuperação de crédito; diferença de regras entre homens e mulheres; pensões por morte; regimes próprios de Previdência e convergência dos sistemas previdenciários do setor privado ( INSS ) e dos servidores públicos. Na questão do financiamento da Previdência, o governo pretende, por exemplo, aumentar a alíquota do Microempreendedor Individual ( MEI), que está em 5%, e rever outras renúncias, como a dada a entidades filantrópicas.

Para igualar as regras entre homens e mulheres a ideia é reduzir gradualmente a diferença. Hoje, as mulheres podem se aposentar cinco anos mais cedo que os homens. No caso das pensões por morte, o governo quer insistir na redução do pagamento, que hoje corresponde a 100% do valor do benefício. Já para a Previdência rural, a intenção é acabar com isenção nas exportações e tornar mais rigorosas as regras para o segurado especial, que atualmente não contribui para o sistema.

 

As receitas que financiam as despesas vêm caindo. A receita líquida total, que estava estável em 19% do PIB até 2013, baixou para 17,6%, em 2015

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União pode suspender negociação com estados

Governo federal é contra proposta de mudar os juros, que pode ser votada hoje

Por: Martha Beck

 

- BRASÍLIA- O Ministério da Fazenda ameaça suspender todo o processo de renegociação das dívidas dos estados com a União, por causa do projeto de decreto legislativo 315/ 2016, que está na pauta da Câmara dos Deputados para ser votado hoje. De autoria do deputado Esperidião Amin ( PP- SC), a proposta muda a forma como os indexadores são aplicados aos contratos e corrige as dívidas dos estados com base numa conta de juros simples. Para a equipe econômica, esta forma de cálculo é equivocada, pode provocar insegurança jurídica e desequilibrar ainda mais as contas públicas.

O secretário executivo da Fazenda, Dyogo Oliveira, lembrou, ontem, que já existe um decreto que regulamenta a mudança dos indexadores dos contratos, que foi autorizada pela Lei Complementar 148, de 2014. Prevê que as dívidas deixem de ser corrigidas pelo IGP- DI mais 6%, 7,5% ou 9% e passem a ser calculadas com base no IPCA mais 4% ou pela taxa Selic, o que for menor. O problema é que, para a União, a Selic aplicada aos contratos tem sempre de ser composta, quando incidem juros sobre juros. É assim que o Tesouro remunera os investidores que compram títulos públicos. Os estados que apoiam o projeto de Amin, contudo, afirmam que o cálculo da Selic deveria ser simples, o que reduziria muito o valor das dívidas.

Pelos cálculos da Fazenda, a conta com juros simples reduziria o estoque das dívidas com a União em R$ 300 bilhões. Hoje, o montante está em torno de R$ 460 bilhões. No entanto, argumentou o secretário executivo, a regra também teria de ser aplicada sobre o cálculo dos ativos dos próprios estados, como a dívida ativa, e sobre as cobranças feitas em caso de atrasos no pagamento de impostos. Ou seja, os governadores também teriam perdas com essa sistemática.

Segundo Oliveira, a aprovação do decreto legislativo no Congresso vai inviabilizar a mudança dos indexadores, que poderia estar concluída até março de 2016, e também a renegociação que vem sendo feita com a União para alongar o pagamento das dívidas dos estados por mais 20 anos:

— A prevalecer o decreto, nem faz sentido tratar do alongamento de uma dívida que a gente não vai mais saber nem de quanto é. Não haverá nem como discutir o assunto. O projeto tornaria inviável a negociação — afirmou

Ele discutiu o assunto, ontem, com um grupo de secretários de Fazenda responsáveis por negociar com a União as contrapartidas para o alongamento das dívidas. Ao fim do encontro, quatro secretários ( Goiás, Alagoas, Paraná e Espírito Santo) deram uma entrevista ao lado de Oliveira e saíram em defesa da União.

Segundo Oliveira, os estados que se posicionaram a favor da proposta de Amin foram Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que, inclusive, já têm ações judiciais contra a União por causa do cálculo dos juros.

 

Números
 

20 ANOS

DE PRAZO

É em quanto o governo admite alongar as dívidas dos estados

 

4%

MAIS IPCA

Novo indexador de dívidas aceito pela União

    Órgãos relacionados:

    • Câmara dos Deputados
    • Congresso Nacional

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    Investimentos do PAC recuam 14%, para R$ 251 bi em 2015

    Total executado no ano passado representa 24% do previsto pelo programa até 2018

    Por: Danilo Fariello

     

    - BRASÍLIA- O volume de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento ( PAC) continuou em queda no ano passado. Em 2015, o PAC executou R$ 251,7 bilhões, queda de 14% em relação aos R$ 292,7 bilhões de 2014 e bem inferior aos R$ 301 bilhões de 2013. Segundo balanço divulgado ontem, a quantia investida em 2015 equivale a 24,2% do valor de R$ 1,04 trilhão previsto para ser executado pelo PAC até 2018.

    “Mesmo com o atual cenário econômico desfavorável, registrado no país e no mundo e os ajustes promovidos na contenção dos gastos públicos, o PAC continua sendo um importante programa de aplicação sequenciada de recursos em infraestrutura no Brasil desde 2007”, informou o Ministério por meio de nota.

    Do total de R$ 251,7 bilhões executados pelo PAC no ano passado, a maior parcela se refere a financiamentos imobiliários e ao setor público em geral, com R$ 99,9 bilhões em 2015. As estatais, que responderam por 26% do PAC 2 ( 2010- 2014), foram responsáveis por apenas 22% dos investimentos em 2015.

    Entre as obras, o Planejamento registrou a conclusão de 163 quilômetros da ferrovia Transnordestina e a recuperação do aeroporto Santos Dumont. Pelo programa Minha Casa Minha Vida, foram entregues mais de 445 mil unidades habitacionais.