O globo, n. 30.157, 01/03/2016. País, p. 7

Ação contra microcefalia

Instituto Estadual do Cérebro começa hoje a atender grávidas e bebês com a má- formação

Por: Rafael Galdo

 

Unidade de excelência na rede de saúde do Rio, o Instituto Estadual do Cérebro ( IEC) Paulo Niemeyer concentrará o atendimento a crianças com microcefalia expostas ao vírus zika, além de grávidas que estejam esperando bebês com má- formação cerebral. O anúncio foi feito ontem pelo secretário estadual de Saúde, Luiz Antônio Teixeira Júnior, juntamente com o diretor médico do instituto, Paulo Niemeyer Filho. Segundo o secretário, há hoje no Rio pelo menos 48 mães gerando crianças com a síndrome, e cerca de 200 bebês já nasceram com a doença. Todos esses pacientes começam a ser atendidos hoje no IEC. E a expectativa é que, daqui em diante, 50 crianças por mês iniciem o acompanhamento na unidade.

— Sabemos que a epidemia que hoje atinge a América Latina e o Caribe pode se espalhar pelo mundo. Queremos criar aqui um modelo de atendimento à microcefalia. Tentaremos entender a expectativa de futuro dessas crianças e identificar que rede de proteção social será necessária montar para atender o bebê e sua família — disse Luiz Antônio.

Segundo o protocolo estabelecido pela secretaria, gestantes com diagnóstico confirmado de zika, seja na rede pública ou privada de saúde, poderão fazer ultrassonografias no Rio Imagem ( do estado). Confirmada a gravidez de um bebê com microcefalia, as mães serão encaminhadas para o IEC, onde farão uma ressonância magnética fetal, com objetivo de identificar que tipos de comprometimentos a criança terá.

Os bebês passarão por consultas multidisciplinares — com pediatras, neuropediatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicoterapeutas, entre outros — e exames de alta complexidade. Neurologista, Paulo Niemeyer lembra que cerca de 40% dos pacientes com microcefalia têm epilepsia, por exemplo. Dependendo do nível de má- formação do cérebro, ressalta o médico, pode haver dificuldades até para a sucção do leite materno. E a grande maioria pode precisar de reabilitação física. Para isso, o estado planeja fazer convênios com instituições como a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação ( ABBR).

— Cada uma das crianças passará por pelo menos dez atendimentos de profissionais diferentes. Elas sairão daqui com um direcionamento quanto ao que cada uma precisa. A partir desses casos, faremos um estudo para tentar entender melhor a doença e como lidar com ela daqui para frente — disse Paulo Niemeyer, explicando o que a ressonância poderá identificar nos fetos de grávidas que estiverem esperando bebês com microcefalia. —É o único exame que pode mostrar o cérebro com detalhes, apontando que regiões não se desenvolveram ou foram comprometidas.

 

TELEFONE E APLICATIVO PARA TIRAR DÚVIDAS

Os pacientes, no entanto, não procurarão o IEC diretamente. A secretaria explica que fará uma busca por mães e crianças a serem atendidas no instituto, com base num monitoramento a cargo da Subsecretaria de Vigilância em Saúde, que, desde junho do ano passado, monitora os casos de microcefalia. O encaminhamento para o hospital será feito por meio da regulação interna da secretaria. Além de contato pelo site do órgão, em breve será possível tirar dúvidas sobre como obter o atendimento por meio de um serviço telefônico e de um aplicativo.

De acordo com Paulo Niemeyer, a estrutura para receber esses casos será a já existente no instituto. Por enquanto, não será necessária a contratação de mais profissionais — o que vai ser reavaliado, caso aumente a demanda. Em princípio, diz ele, algumas crianças precisarão de um acompanhamento maior, dependendo do nível de comprometimento cerebral causado pela doença.

A Secretaria de Saúde e o Instituto Estadual do Cérebro também estão decidindo um protocolo para atendimento de pacientes com Guillain- Barré, síndrome que tem sido associada ao zika. Em parceria com o Ministério da Saúde, será escolhido o hospital de referência para atendimento à doença. A divulgação da unidade e do protocolo deve ser feita em até dez dias.

 

“Nós queremos criar aqui um modelo de atendimento à microcefalia”
Luiz Antônio Teixeira Júnior
Secretário estadual de Saúde