Correio braziliense, n. 19284, 13/03/2016. Política, p. 4

PMDB DÁ AVISO PRÉVIO AO PLANALTO

CRISE NA REPÚBLICA » Partido ameaça, mas deixa decisão sobre saída do governo e entrega de cargos para daqui a 30 dias, tempo necessário para avaliar a força dos protestos
Por: HÉDIO FERREIRA JÚNIOR

HÉDIO FERREIRA JÚNIOR

Especial para o Correio

 

O PMDB começou a cumprir ontem um “aviso prévio” de manter-se no governo por mais 30 dias até que o diretório nacional — comandado pelo vice-presidente da República, Michel Temer — decida se pula fora do barco comandado pela presidente Dilma Rousseff. Até lá, nenhum cargo ministerial deverá ser aceito pelo partido, o que deixa a ida do deputado federal Mauro Lopes (MG) para a Secretaria da Aviação Civil em suspenso. A decisão foi tomada durante convenção nacional, em Brasília.

Ao adiar a tomada de decisão sobre a debandada do governo, o partido quer, na verdade, aguardar as manifestações de hoje, previstas nas principais capitais do país, para sentir o termômetro das ruas e a resposta da sociedade aos últimos fatos da crise política. Em seu discurso no encontro, Temer optou pela neutralidade, sem bater nem afagar o governo do qual faz parte. Cobrado por correligionários para que assumisse uma posição mais contundente sobre a saída do governo, refutou.

“Não é hora de dividir os brasileiros, de acirrar os ânimos, de levantar muros. A hora é de construir pontes”, disse, sem citar a presidente Dilma, as manifestações sociais ou mesmo sobre o lançamento de candidatura própria pelo partido, assunto recorrente em discursos anteriores.

O PMDB comanda atualmente seis pastas: a da Saúde, com Marcelo Castro; a de Ciência, Tecnologia e Inovação, com Celso Pansera; a de Minas e Energia, com Eduardo Braga; a do Turismo, com Henrique Eduardo Alves; a da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, com Kátia Abreu; e a Secretaria de Portos da Presidência da República, com Helder Barbalho.

Até a chegada de Temer, do ex-presidente José Sarney, de ministros do partido e dos presidentes do Senado,Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), quem assistia à reunião com centenas de militantes poderia imaginar estar diante de um partido de oposição. Os caciques da legenda chegaram juntos ao auditório do encontro. Os pedidos de “saída já” e “fora, PT” e a defesa contundente do abandono imediato do governo eram defendidos aos gritos, tanto por quem estava na tribuna quanto pelos que apenas assistiam.

“Um dos malefícios do nosso partido — que precisa ser controlado — é o apego aos cargos”, declarou Geddel Vieira Filho, ex-vice-presidente da Caixa e, há pouco tempo um dos principais articuladores do PMDB por espaço no governo, especialmente quando ministro da Integração Nacional. “Esse governo vai cair. O que temos que decidir é onde queremos estar no momento em que isso acontecer”, gritava o deputado federal Carlos Marun (MS).

Recém-filiado ao PMDB, a ex-petista Marta Suplicy disparou contra o antigo partido e contra, a até pouco tempo aliada, Dilma Rousseff. “O PMDB leva o Brasil a dizer não a um governo corrupto. Dilma é uma presidente isolada, que não consegue governar o país. (...) O impeachment da presidente vem tarde.”

 

Análise dos riscos

Deputado estadual no Rio Grande do Sul, Ibsen Pinheiro acha que o fôlego dos 30 dias para que o partido se posicione tem seus riscos. O negativo seria a provocação de um racha ainda maior na legenda entre os grupos pró e contra a permanência no governo. A positiva é sentir como a população irá se manifestar nos próximos dias.

O quase ministro Mauro Lopes desdenhou da ementa aprovada na convenção que suspende sua ida à Secretaria de Aviação Civil. “Isso quem decide é o diretório, não é a votação de um auditório. Vou conversar com o Michel na próxima semana para ver o que será feito”, avisou.

A indicação de Lopes para ministro da Aviação Civil foi fruto de uma negociação do Palácio do Planalto com a bancada de Minas na Câmara dos Deputados. Diante de um acordo feito no início do ano passado, os mineiros tinham a prerrogativa de indicar o líder do partido na Casa este ano. O governo, no entanto, contava com a recondução de Leonardo Picciani (RJ) na função. Aliado, o parlamentar é avaliado como fundamental para ajudar a conter o processo de impeachment aberto contra Dilma na Câmara.

 

Eleição confirmada

A convenção nacional do PMDB reuniu ontem centenas de lideranças nacionais e regionais que reconduziram Michel Temer à presidência nacional do partido. Sob algumas vaias e aplausos, o ex-presidente da República e senador José Sarney (AP) foi aclamado presidente de honra do partido. A chapa da qual ele faz parte foi apoiada por 96% dos 583 votos computados na convenção. Foram eleitos 119 integrantes do diretório nacional e 40 suplentes. Desse grupo, 17 membros foram designados para a formação da executiva do partido, encabeçada por Temer.

 

Frase

“O PMDB leva o Brasil a dizer não a um governo corrupto. Dilma é uma presidente isolada, que não consegue governar o país. (...) O impeachment da presidente vem tarde”

Marta Suplicy (PMDB-SP), senadora