Título: Infiltrados no ninho alheio
Autor: Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2011, Política, p. 6

Cinco governadores tucanos colocam aliados nos quadros regionais do PSD como forma de ampliar o leque de alianças para o pleito de 2012

Governadores tucanos emplacaram aliados de confiança nos diretórios regionais do PSD, transformando o partido de centro em uma espécie de "segunda grife" para a oposição. Em pelo menos cinco estados, as comissões provisórias da nova legenda são comandadas indiretamente pelos tucanos por meio de homens da tropa de choque dos governadores do PSDB. Com o controle das regionais do PSD, os tucanos esperam ter o potencial eleitoral de um partido de centro, mais afinado com o governo no âmbito nacional. A ideia é viabilizar uma aproximação indireta com o Planalto sem precisar abrir mão do perfil oposicionista e, ao mesmo tempo, fortalecer a rede de apoio visando as próximas eleições.

Nos estados, o partido fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ganhou o apelido de "PMDB do B". Assim como o partido do vice-presidente Michel Temer, o PSD mal nasceu e é visto como uma grande federação, de vocação municipalista, que, apesar dos valores numéricos de suas bancadas, funciona melhor como número dois nas coalizões do que como cabeça das chapas.

O PSD paraense, por exemplo, nasceu sob o aval e o apoio do governador Simão Jatene (PSDB). Seu braço direito e secretário de Governo, Sérgio Leão, comandará sigla neófita no estado. Para Jatene, o "PMDB do B" nasceu para brigar com o PMDB de seu rival mais forte, Jader Barbalho. Com a existência do PSD, o governador do Pará não fica refém do PMDB durante a montagem das alianças e, posteriormente, na divisão de cargos. Nas eleições municipais, além de apoiar seus principais correligionários na conquista das prefeituras, terá como aliados os líderes regionais que se filiarem ao PSD em busca de uma legenda de centro, fator predominante para angariar investimentos federais aos municípios depois das eleições.

No Pará, a influência de Jatene sobre o PSD fez com que a nova legenda deixasse de arregimentar mais um parlamentar para sua bancada. Ontem, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) disse não ao convite da sigla. Ele analisou que não faria sentido deixar o PSDB rumo a um partido comandado por tucanos. "Se eu tivesse aceitado ir, o partido ficaria comigo. A condição era essa. Mas eu não sei bem como essas coisas vão avançar. Apesar de o Kassab declarar que é uma legenda independente, a convergência de lideranças de vários partidos ainda vai levar um tempo para consolidar uma estratégia, uma posição política partidária."

Flexa é pré-candidato a prefeito de Belém e o principal objetivo em deixar o PSDB seria evitar o confronto interno com o deputado federal Zenaldo Coutinho pela indicação para disputar a capital do Pará. "Tomei a decisão de permanecer no PSDB e agradeci o convite. Sou pré-candidato a prefeito, já tinha colocado a pretensão dentro do PSDB, lá nós somos dois (pré-candidatos), tem que decidir. Ninguém é candidato de si próprio, tem que ter um grupo."

Coutinho, por sua vez, elogia a "locução forte" entre tucanos e PSD, e argumenta que a proximidade das legendas pode se traduzir em votos. "O PSD é um partido que está sendo construído no estado com muita acessibilidade de ambas as partes. Nós temos um potencial de alianças generalizado. O presidente que assumiu, o Sérgio Leão, é uma grande figura, tem um grande leque de vinculações."

Estratégia Em Goiás, em Tocantins, no Paraná e em Roraima a história se repete (veja quadro). A exemplo da estratégia do governador paraense, Marconi Perillo (PSDB-GO) escalou seu principal secretário para comandar o PSD no estado. Vilmar Rocha, chefe da Casa Civil, é o presidente da sigla em Goiás. Além dele, a cúpula regional do partido de Gilberto Kassab abriga dois integrantes do secretariado.

De acordo com o deputado federal Heuler Cruvinel, que deixou o DEM para se filiar ao PSD em Goiás, o partido nasce para compor a base do governo. "Temos dado (postos de direção do) partido para quem tem cargo ou para quem vem disputar as eleições de 2012. Marconi tem grande simpatia pelo PSD. Estão chamando a legenda de "PMDB do B", pois tem posicionamento muito próximo ao do PMDB", afirma Cruvinel.

Na lista de tucanos que patrocinaram a criação do PSD nos estados, estão Siqueira Campos, de Tocantins; Anchieta Júnior, de Roraima; e Beto Richa, do Paraná. O governador paranaense conseguiu no estado a proeza de se solidarizar com a criação do PSD sem melindrar o DEM, legenda que mais perdeu correligionários para o partido de Kassab.

Troca de legenda Políticos que pretendem concorrer a cargos de vereador ou de prefeito nas eleições de 2012 têm até a sexta-feira para se filiar ou trocar de partido. Como a legislação eleitoral limita a mudança partidária de ocupantes de cargos proporcionais a novas legendas, o PSD é a única saída para os parlamentares insatisfeitos que sonham com o Executivo municipal.