Correio braziliense, n. 19286, 15/03/2016. Política, p. 3

PARA OPOSIÇÃO, DILMA ACABOU

CRISE NA REPÚBLICA » Decisão do PMDB de anunciar saída do governo e manifestações de domingo impulsionam pedido de impedimento da presidente. Estratégia de peemedebistas e tucanos é tramitar o processo com a maior agilidade possível
Por: PAULO DE TARSO LYRA

PAULO DE TARSO LYRA

 

A oposição e até mesmo de setores do PMDB têm a convicção de que o governo Dilma Rousseff acabou. “Temos uma presidente que só se preocupa em evitar o impeachment e um ex-presidente que só pensa em salvar a própria pele. É a união do roto com a esfarrapada”, criticou o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (PSDB-BA).

O fim de semana, na opinião dos oposicionistas, foi devastador para o governo. Até mesmo o PMDB, que no sábado aprovou um desembarque disfarçado da gestão petista, ficou assustado com o tamanho das manifestações. “Ficou muito ruim para o governo. E ainda temos uma economia que atrapalha ainda mais a situação. O país está sangrando com a crise econômica”, lamentou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE).

Imbassahy foi ainda mais incisivo. “Acabou. Agora só precisamos obedecer aos trâmites constitucionais e aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff”, disse o líder tucano. “O Congresso Nacional vive de expectativas, e a expectativa da população é de que o Congresso instaure a comissão de impeachment e tire o PT do poder. É um ciclo que chega ao fim”, disse o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM).

O pós-Dilma já vem sendo discutido por PMDB e PSDB. O primeiro encontro oficial aconteceu na semana passada, em jantar com lideranças dos dois partidos na residência oficial do Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL). “O que dizer dessa tentativa de golpe que pretende tirar a presidente Dilma e colocar em seu lugar o vice-presidente Michel Temer e o PMDB”?, questionou, no Senado, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

“Essa acusação de que o PMDB e o Michel são golpistas só podem ser creditadas ao atordoamento do governo e do PT diante das manifestações de domingo, cujos resultados foram acachapantes”, rebateu o senador Romero Jucá (RR), que é vice-presidente do partido desde a convenção de sábado e já foi líder dos governos Lula e Dilma.

 

Estratégia

A estratégia em curso, elaborada por parte do PMDB e PSDB, é aprovar o impeachment da presidente no prazo mais curto possível. Já chegou aos ouvidos de Lula que não deverá contar com a fidelidade do PMDB do Senado. Renan não é declaradamente aberto ao impeachment, mas também não demonstra disposição a se agarrar a um governo que estiver afundando.

Caso o impeachment seja aprovado pelo Congresso, o passo seguinte seria dar uma estabilidade política para que Temer assumisse o cargo. O risco de que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também casse o peemedebista, caso seja comprovada que a chapa eleita em 2014, tendo Dilma como candidata à reeleição para presidente e Temer a vice, foi beneficiária de doações ilegais, não assusta os peemedebistas. “Se Dilma sofrer impeachment, não há mais chapa, ele estará a salvo”, disse um peemedebista que defende o desembarque imediato e é aliado de Temer.

Os prazos jurídicos podem contar a favor do PMDB. Mesmo no caso da presidente Dilma, é praticamente impossível que o processo no TSE seja concluído ainda este ano, por conta de todos os possíveis recursos, inclusive ao Supremo Tribunal Federal (STF). O PMDB conta que um possível impeachment da presidente diminua a temperatura da crise política e possibilite a instalação de um governo de transição. “Quem sabe, até mesmo, com a possibilidade de Temer não concorrer à reeleição em 2018, para ter paz em um governo de consenso”, disse o cientista político e professor do Insper Carlos Melo.

A preocupação por encontrar uma saída consensual também deriva do risco de que uma eleição presidencial neste ano, em meio à atual crise política, abra espaço para candidatos aventureiros. O alerta foi aceso pelas próprias manifestações de domingo. Apesar dos ataques terem sido majoritariamente contra o PT, Lula e Dilma, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também foram hostilizados na Avenida Paulista. “Há um desgaste para a classe política, claro. Mas também houve gente que aplaudiu. O que não é possível é ficar com medo de sair às ruas por causa disso”, disse Imbassahy.