Correio braziliense, n. 19282, 11/03/2016. Política, p. 5

OPOSIÇÃO NEGOCIA O PÓS-DILMA

CRISE NA REPÚBLICA » Ganha força no Congresso Nacional e no próprio PMDB a proposta de adotar sistema parlamentarista, em lugar do presidencialismo
Por: PAULO DE TARSO LYRA

PAULO DE TARSO LYRA

 

A perplexidade do governo, que não consegue encontrar caminhos para debelar a crise, não é exclusividade do Palácio do Planalto. A oposição e o PMDB, legenda que, como de costume, transita nos dois lados da balança do poder, também discutiram na noite de quarta-feira, em um jantar, todas as possibilidades para que o país saia da crise. O único consenso é o de que o governo Dilma acabou. O que fazer a partir dessa contestação é que não está fechado. Uma das alternativas que ganham força é a transformação do sistema de governo de presidencialista em parlamentarista.

O próprio PMDB não é monolítico neste debate. Principal aliado do Planalto, o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), é contra o impeachment da presidente, por achar que não existem, ainda, elementos jurídicos que comprovem o crime de responsabilidade de Dilma Rousseff. Mas defende a aceleração da tramitação do projeto que propõe a troca do sistema de governo de presidencialismo para parlamentarismo.

Líder da bancada, o senador Eunício Oliveira (CE) não é tão governista como Renan, mas mantém o tom de cautela sobre as mudanças políticas. “Não fechamos nada, conversamos sobre cenários. O que eu tenho dito, sempre, é que não podemos perder o Brasil para a crise”, disse Eunício.

Futuro vice-presidente do PMDB, o senador Romero Jucá é o mais contundente defensor de um afastamento em relação à administração petista. “O governo enfrenta muitas dificuldades, não há dúvidas. O mais recente equívoco foi a nomeação desastrada do ministro da Justiça (Wellington César Lima e Silva), que acabou derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”, disse o peemedebista.

 

Questão de tempo

O PMDB vai manter as conversas com a oposição e os líderes do partido devem procurar, nas próximas semanas, o DEM. Um tucano que participou do encontro lembra que é apenas uma questão de tempo para que as diversas tendências do PMDB se unam. “Eles sabem que qualquer solução para esse atual momento passa pelo PMDB. Não vão perder a oportunidade que têm pela frente por disputas internas”, disse o senador tucano.

Existem peemedebistas de peso que acreditam que Dilma cairá antes de junho. “A abertura dos Jogos Olímpicos Rio-2016 já será feita com Temer presidente”, confidenciou um político. Renan é menos enfático e aposta na aprovação do sistema de regime parlamentarista, nos moldes do que ocorre na França, onde, apesar de haver um primeiro-ministro, o presidente não é tão decorativo como em outras repúblicas parlamentaristas.

Presente ao encontro, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) acredita que o debate poderá acabar envolvendo, inclusive, integrantes  da base aliada. “As pessoas perceberam que esse governo acabou, mas têm medo de levar o caixão até a boca da sepultura e acabar caindo na vala. Muita gente já não quer segurar a alça até o fim”, disse o tucano.

O líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), embora ciente de que a proposta do parlamentarismo encontre simpatizantes inclusive entre os petistas, disse que o necessário neste momento não é discutir a forma de governo, mas os caminhos para que a crise política e a econômica sejam aliviadas. “Com esse cenário econômico que estamos vivendo, o parlamentarismo mudaria o quê? Precisamos encontrar maneiras de que o mercado voltar a investir e confiar no país e fazermos uma transição até 2018, quando, aí sim, a oposição poderá apresentar uma proposta para o país”, defendeu Rocha.