Correio braziliense, n. 19282, 11/03/2016. Economia, p. 10

PT desautoriza Barbosa sobre Previdência

CONJUNTURA/ Em reunião com a presença do ex-presidente Lula e de sindicalistas da base de apoio ao governo, cúpula do partido critica a proposta de alterar as regras do sistema previdenciário.Para a equipe econômica,sem as mudanças,país não volta a crescer

 

O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, procurou reforçar ontem a ideia de que o país não voltará a crescer de maneira sustentável se não controlar os gastos públicos, o que passa, necessariamente, pela reforma da Previdência Social. Horas depois, no entanto, Barbosa foi desautorizado por lideranças do PT, entre as quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve ontem a prisão preventiva solicitada ao Judiciário pelo Ministério Público de São Paulo. Lula e o PT vêm criticando a política econômica formulada por Barbosa, especialmente as medidas de ajuste fiscal. Para o partido, em vez de pavimentar o caminho da retomada econômica, elas vão agravar a recessão em que o Brasil está mergulhado.
Pela manhã, em Brasília, durante seminário em comemoração aos 30 anos da criação da Secretaria do Tesouro, o ministro afirmou que, se adiar as mudanças na Previdência, o país será obrigado a buscar, mais tarde, soluções radicais para reequilibrar a economia. “Ainda estamos numa situação em que podemos enfrentar esses problemas de forma previsível e gradual, sem sobressaltos e sem surpresas. Adiar esse enfrentamento, contudo, vai tornar inevitável a adoção de medidas mais drásticas num futuro muito próximo, o que não será bom para ninguém”, advertiu. A intenção do governo é encaminhar um projeto de reforma previdenciária ao Congresso até o fim de abril.

Rombo
No início da tarde, Barbosa foi convocado para uma reunião, que não constava da agenda original distribuída pelo Ministério da Fazenda, com lideranças sindicais e do PT, em São Paulo. Ao chegar ao encontro, promovido pelo Instituto Lula e  realizado em um hotel da capital paulista, o presidente do PT, Rui Falcão, deu o tom da conversa:  “De reforma da Previdência não quero nem ouvir falar”, disse.
A reforma do sistema previdenciário é um tema espinhoso para o PT, que teme arcar com o ônus da proposta, considerada impopular, num momento em que está debilitado pelo envolvimento de diversas lideranças com a corrupção investigada na Operação Lava-Jato e pelo fracasso da política econômica do governo Dilma Rousseff. No fim do mês passado, o partido aprovou documento em que ataca o ajuste fiscal e sugere uma política econômica alternativa. Na visão dos petistas, é preciso adotar medidas imediatas de estímulo à economia, mesmo que seja preciso aumentar o rombo das contas públicas.
No discurso que fez no evento do Tesouro, Barbosa fugiu do tom habitual e deu uma resposta direta às propostas do PT, defendendo a necessidade, urgente, segundo ele, de ajustar as finanças do governo. “O foco das nossas ações neste momento tem que ser no controle do gasto obrigatório, pois é isso o que vai garantir um crescimento duradouro da economia”, destacou, acrescentando que qualquer proposta de organização das despesas precisa envolver a questão da Previdência, que terá deficit superior a R$ 130 bilhões neste ano, segundo as projeções oficiais.
O ministro admitiu que a situação da economia no país é grave. “Passamos por uma situação desafiadora. Tudo indica que o Brasil terá um segundo ano consecutivo de queda no nível de atividade econômica. Isso não acontecia desde os anos 30 do século passado”, observou. Ele não descartou medidas de estímulos à economia a curto prazo, como defendido pelos petistas, mas afirmou que é fundamental resolver o problema do crescimento acelerado da dívida pública, o que exige reformas para controlar o avanço desmesurado das despesas públicas. “Adotar somente medidas de estímulo a curto prazo não resolve os problemas. “Não é hora de extremismos na política econômica e, sim, de volta à normalidade”, disse Barbosa.