Correio braziliense, n. 19.283, 12/03/2016. Política, p. 5

Sob pressão, PT recua de manifestação

GDF mantém advertência de que a sigla não poderia concorrer com atos programados para amanhã.Haverá revista policial

JULIA CHAIB

 

Depois de uma queda de braço de quase uma semana com o Governo do Distrito Federal, o PT decidiu cancelar a manifestação favorável a Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, agendada para amanhã. O partido confirmou ato para o dia 31 e ainda avalia ir às ruas no dia 18. O evento de amanhã estava marcado para começar 1h depois do início da marcha pró-impeachment — ambos seriam separados por 1,5km.  A polícia revistará manifestantes e interromperá o trânsito.

Na quinta-feira, a Secretaria de Segurança Pública enviou ofício ao presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, ressaltando a possibilidade de conflitos e a ilegalidade da manifestação. O petista decidiu manter o ato e informou o órgão sobre a pretensão. Na noite de ontem, a Secretaria divulgou outra nota em que manteve o posicionamento. “A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social mantém a recomendação feita ao Partido dos Trabalhadores de que não realize a manifestação convocada para a Torre de TV no próximo dia 13. Embasada em critérios técnicos, a SSP sugere que o partido busque outro local ou data para a realização de seu evento, ocasião em que será oferecido todo o suporte de segurança pública necessário”, afirma.

O presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, chegou a resistir, afirmando que não há, na Constituição, nenhuma previsão de distância mínima para os atos, mas acabou recuando no fim do dia, diante de uma suposta ameaça do GDF de impedir o acesso de militantes ao partido. “O comandante da Polícia Militar nos informou da decisão do governador Rodrigo Rollemberg de determinar à polícia que impedisse o acesso dos manifestantes mobilizados pelo PT até a Torre de TV. Mesmo entendendo que não há nenhuma ilegalidade na realização do ato, decidimos pelo seu cancelamento, para não expor os manifestantes a situação de insegurança e aos riscos inerentes à ausência de policiamento”, comunicou Policarpo. O comandante da PM, Marco Antonio Nunes, negou ter feito qualquer tipo de veto ao ato petista.

 

Apelo nacional

O Diretório Nacional do PT aconselhou militantes a não fazerem atos neste domingo. Ainda assim, protestos autointitulados a favor da democracia e contra o golpe ocorrerão no Rio Grande do Sul e Curitiba durante o dia de amanhã. Advogado e coordenador jurídico do Movimento Brasil Contra a Corrupção, Aldo Ferreira diz esperar mais de 100 mil pessoas nos atos deste domingo em Brasília. Segundo ele, este foi o número alcançado em março do ano passado.  “Nossa expectativa é a melhor possível. O clima político do Brasil está extremamente favorável para o protesto. A população vai porque está cansada, passou do limite”, comentou.

A possibilidade de conflitos no domingo deixará em alerta as forças policiais. A partir de 0h de domingo, a Esplanada será fechada nos dois sentidos. A Polícia Militar fará a revista dos manifestantes com detectores de metais. O controle será feitos nos pontos de acesso, que partem da Rodoviária e também em trechos do trajeto. As pessoas não poderão portar objetos cortantes, fogos de artifício, hastes para bandeiras e mascaras.

A Secretaria também recomenda que as pessoas não estacionem em locais proibidos, identifiquem crianças, não bebam álcool e não deixem a mostra objetos de valor, como celulares. A movimentação na Esplanada será acompanhada em tempo real no Centro de Comando e Controle Regional (CICCR), que funcionará até a dispersão dos manifestantes. Atuarão de forma integrada agentes dos Bombeiros, Polícias Civil e Militar, Detran e responsáveis pela SSP-DF.

 

1,5km

Distância que separaria os atos pró e contra o impeachment

 

Tempo fechado durante vigília

São Paulo  — A chuva atrapalhou o protesto promovido por petistas contra o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem. Apenas algumas dezenas de pessoas se encontraram diante de um carro de som em frente à Catedral da Sé, no centro da capital paulista. Filiado ao PT desde 1986, o bancário João Cardoso foi à manifestação para defende que o ex-presidente é vítima de perseguição. “Mesmo que ele tivesse o sítio de Atibaia e o apartamento do Guarujá, qual o problema? Foi deputado e presidente. Eu, que sou bancário, tenho casa própria e carro. Então a polícia tem de me prender também”, afirmou. Próximo à Sé, no Largo São Francisco, o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo andava despreocupado sob um guarda-chuva, saindo da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, da qual é professor. Ele criticou o pedido de prisão pelo MP paulista. “Ela foi eleita. Deve ficar até o fim do mandato”, disse.

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Trio reúne evangélicos

 

Um trio elétrico vai reunir o pastor Silas Malafaia e os deputados federais Marco Feliciano (PSC-SP) e Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) nas manifestações de amanhã em Brasília. “Todos evangélicos”, destaca o comunicado divulgado pela assessoria de imprensa de Cavalcante.

“Para completar o time, também estará presente o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ)”, continua o comunicado, que afirma que o acesso ao trio “será liberado aos jornalistas” que confirmarem presença. O intuito, de acordo com Cavalcante, é oferecer “proteção” aos profissionais de imprensa e uma “visão privilegiada” das manifestações.

Ainda de acordo com o deputado, o trio elétrico, que ficará estacionado próximo ao Congresso Nacional, foi organizado pelo site Revoltados Online, mas o financiamento do automóvel contou com a contribuição “particular” dele e dos outros deputados convidados. O pastor Silas Malafaia deve falar em nome dos parlamentares.

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