Título: Quebra de banco arrasa mercados
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2011, Economia, p. 10

Dirigentes europeus socorrem instituição franco-belga e tentam evitar o estouro de nova crise bancária. Bolsas caem até 2,9%

Aconteceu o que mais se temia: o sistema financeiro europeu começou a balançar. O estopim do que ensaia ser uma nova crise bancária de proporções catastróficas está no banco franco-belga Dexia e na sua carteira de crédito podre, estimada em 100 bilhões de euros ¿ dos quais 21 bilhões são papéis emitidos por países ameaçados de insolvência, casos de Grécia, Portugal, Itália e Espanha. Em vias de quebrar, a instituição, uma das mais tradicionais do mercado belga, só não arrastou a Zona do Euro para o buraco porque seus principais acionistas, os governos da Bélgica e da França, intervieram pesadamente, ontem, para evitar o pior.

Analistas calculam que o Dexia é o primeiro de muitos bancos europeus que vão ter problemas. "Parece que esse tipo de notícia tende a se repetir. As instituições europeias estão muito concentradas em papéis soberanos", ponderou o analista Jorge Knauer, da Prosper Corretora. Diante do risco de uma crise sistêmica, as principais bolsas da Europa derreteram no pregão de ontem. A maior perda foi em Frankfurt, que recuou 2,98%, mas houve quedas expressivas também em Paris (2,61%), Londres ( 2,58%) e em Madri (1,54%). As ações do Dexia chegaram a despencar 37,68%, reduzindo a perda, no fechamento, para 22,46%. Nos Estados Unidos, porém, os mercados resistiram e os índices fecharam em alta de 1,44 % (Dow Jones) e 2,95% (Nasdaq). No mercado de câmbio, o dólar se valorizou 0,18% ante o euro e terminou o dia cotado a US$ 1,324 num claro reflexo da aversão ao risco.

No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) recuou 0,21% e fechou aos 50.686 pontos, menor nível desde 8 de agosto. O dólar teve um dia de correção depois da alta expressiva registrada no dia anterior, quando quase atingiu R$ 1,92. O Banco Central interveio pesadamente e despejou no mercado mais de US$ 1,6 bilhão, medida que fez a cotação recuar 1,24%, para R$ 1,868.

Para tentar evitar que o pânico se alastre na Europa, os governos da França e da Bélgica divulgaram nota garantindo a segurança dos credores e depositantes do Dexia. "Tanto França quanto Bélgica estão dispostas a fornecer uma garantia para os financiamentos, qualquer que seja a forma estabelecida", garantiu o ministro das Finanças belga, Didier Reynders.

Incerteza A possibilidade de contágio de outros bancos, além disso, levou os ministros de Finanças da Zona do Euro a acelerar a criação de um programa de recapitalização do sistema financeiro europeu, cada vez mais contaminado pela crise das dívidas soberanas. "O capital dos bancos deve ser reforçado para prover margens mais seguras e reduzir a incerteza", disse o comissário de Relações Econômicas da União Europeia, Olli Rehn.

Esta não foi a primeira vez que o Dexia esteve à beira da falência. Em 2008, logo após a quebra do norte-americano Lehman Brothers, a instituição recebeu uma ajuda de 6 bilhões de euros. Desta vez, embora assegurem que não deixarão o pior acontecer, os governos da França e da Bélgica negaram a possibilidade de fazer uma nova injeção de recursos.

Depois de uma reunião de seis horas com os acionistas, o conselho de administração do Dexia encarregou o administrador delegado Pierre Mariani, uma espécie de interventor, de preparar as medidas necessárias para isolar o problema. Uma alternativa é desmembrar o banco em dois, concentrando os ativos podres em uma instituição que seria assumida pelos governos da França e da Bélgica. Uma segunda solução pode ser a venda dos principais ativos do banco.

Itália rebaixada A agência de classificação de risco Moody"s anunciou ontem a redução da nota da dívida pública italiana de Aa2 para A2, diante dos riscos de financiamento de longo prazo, da queda de confiança dos investidores e do fraco crescimento do país. A Moody"s atribuiu ainda uma perspectiva negativa aos papéis, o que significa que poderá rebaixar ainda mais a classificação dos títulos no futuro. Para as emissões de bônus de curto prazo, foi mantida nota Prima-1. Em 19 de setembro, outra agência de classificação de risco, a Standard and Poor"s, já havia reduzido a nota italiana de A+ para A, diante de perspectivas de crescimento muito baixas da economia local.