Picciani diz que controle de portaria foi falseado e obtido de forma ilegal

O deputado Jorge Picciani ( PMDB), presidente da Alerj, contestou ontem as informações publicadas na série “Encontros marcados”, do GLOBO. Em carta enviada ao jornal, ele diz que as reportagens se basearam numa “premissa falsa: a suposta lista de entrada que registra, entre janeiro de 2014 e junho de 2015, 7.854 visitas ao escritório da Agrobilara”, da família Picciani, na Barra. O presidente da Alerj diz que a relação foi falseada e que foi “obtida de forma ilegal, por tratar- se de um bem particular, decerto por meio de corrupção praticada pelo jornal ou por terceiros” e “que não poderia ter sido considerada uma fonte confiável”.

Picciani diz que seria impossível ter recebido todas essas visitas e que, no período mencionado, dadas as agendas que tinha à época, não esteve “no escritório mais que 70 vezes”. Ele lembra que, de janeiro a junho de 2014, coordenou a pré- campanha de Pezão ao governo do estado, tendo por isso uma série de compromissos externos. A partir de julho de 2014, passou a cuidar da própria campanha e das dos seus filhos, “acumulando, ainda, a coordenação do movimento Aezão, de apoio à candidatura de Aécio Neves/ Pezão no Rio, até 27 de outubro”.

Depois de eleito, Picciani diz que passou a cuidar de “tratativas” para se eleger presidente da Alerj. A seguir, passou a ter uma agenda ainda mais intensa, “indo não mais do que umas duas vezes por semana à Agrobilara”. “Portanto, contando sábados, domingos e feriados, não estive mais que 70 dias no escritório da minha empresa. Para atender a todas essas pessoas que essa lista — que, repito, é falsa e criminosa — informa, eu teria que ter atendido uma média de 120 pessoas por dia — o que é humanamente impossível”.

Ainda na carta, ele alega que as pessoas citadas nas reportagens são criadoras tradicionais de gado, que compram não apenas da Monte Verde, empresa da família Picciani, mas de vários outros criadores de todo o Brasil. Ele diz que “os valores pagos por animais e prenhezes ( embriões) da marca Monte Verde não diferem dos da média do mercado dos animais de elite”.

Picciani cita como exemplo o caso de Luiz Roberto de Menezes Soares, que fez, ao longo dos últimos 15 anos, segundo o deputado, 23 compras acima de R$ 100 mil com diferentes criadores do país, totalizando R$ 4,2 milhões. No mesmo período, argumenta Picciani, Soares fez vendas no valor de R$ 5,2 milhões. Entre as 23 compras, apenas uma foi com a Monte Verde ( em 2010, ele adquiriu 50% de um animal por R$ 130 mil). Na carta, o deputado destaca que “o total comprado da Monte Verde (...) foi, portanto, insignificante dentro do volume investido por ele em animais de elite”.

O líder da Alerj também alega que a Mima Agropecuária, de Hugo Aquino, dono da empreiteira União Norte, existe há 35 anos e fez, “entre 2014 e 2016, compras cuja média não difere da paga pelos animais da Monte Verde.” O texto ressalta ainda que os compradores dos animais da Monte Verde lucraram com esses negócios e que a “tese que o jornal tenta vender, de que os fornecedores poderiam estar pagando por favores recebidos por Picciani, não se sustenta”. O deputado alega que o mapa de compras de Abid José Francisco Júnior demonstra que, entre 2013 e 2014, foram adquiridos quatro animais da Monte Verde, num total de R$ 470 mil, pagos em 30 parcelas. Abid José teria vendido, até março de 2016, “só com prenhezes ( embriões) desses animais, um total de R$ 368 mil — e ele continua dono das vacas”.

INVESTIGAÇÃO ARQUIVADA

Em relação à investigação de enriquecimento ilícito arquivada pelo Ministério Público estadual, Picciani diz que o caso teve esse desfecho porque se “demonstrou, com notas fiscais e abundantes provas, a total legalidade do negócio realizado”. A carta diz ainda que “Sérgio Shcolnick ( que teve contratos no Detran em 2003, época em que presidia o órgão Hugo Leal, com quem Picciani não tem e nem nunca teve relação de proximidade) e dois sócios compraram, por R$ 511 mil, em 2004, em parcelas de 30 vezes, uma ‘ barrigada’ ( aspiração de óvulos) da melhor vaca da Monte Verde”. Dessa “barrigada”, nasceram sete animais. Segundo Picciani, três anos depois, Sérgio e seus sócios venderam o plantel “com excepcional lucro em relação ao valor inicial do investimento”. O presidente da Alerj disse que o MP recomendou o arquivamento da investigação porque “analisou com seriedade os fatos e viu que estavam absolutamente dentro da legalidade”.

Na carta, o trocadilho feito pelo jornal de que haveria uma “filial da Fazenda” no escritório da Agrobilara é condenado. Picciani diz que, “nos últimos anos, a Secretaria estadual de Fazenda foi chefiada por nomes da mais ilibada conduta, como Joaquim Levy, Renato Villela, Sérgio Ruy e Júlio Bueno, que podem testemunhar, assim como o ex- governador Cabral e o prefeito Eduardo Paes, se alguma vez interferi em assuntos de Estado para beneficiar quem quer que fosse”.

Picciani afirma que seria “humanamente impossível” ter recebido todas as visitas citadas no período de 18 meses

 

O globo, n. 30192, 05/04/2016. Rio, p. 11