Título: Rússia e China vetam punição
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 05/10/2011, Mundo, p. 19

Apesar de conseguir os nove votos necessários no Conselho de Segurança da ONU para aprovar uma resolução condenando o regime da Síria, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais esbarraram na recusa da Rússia e da China, que exerceram o direito de veto, como membros permanentes do organismo. Índia, Brasil e África do Sul, que formam o fórum Ibas e compõem com Moscou e Pequim o bloco dos Brics, se abstiveram na votação, ao lado do Líbano. O tema voltou à instância máxima das Nações Unidas após semanas de negociações entre os 15 países-membros, e uma vez mais fracassou a tentativa de punir o regime do presidente Bashar Al-Assad.

O projeto apresentado ontem foi proposto por Reino Unido, França, Alemanha e Portugal, com apoio americano, e ameaçava com "medidas leves" contra Damasco. O texto foi redigido sem a palavra "sanções" justamente na tentativa de romper o impasse que paralisa o conselho há dois meses. A Rússia, porém, invocou o exemplo da Líbia, onde entende que o Ocidente usou a autorização de usar a força para proteger civis e interferiu em um conflito interno. Também a China justificou o veto pela não ingerência em assuntos domésticos. Em seu discurso, a representante brasileira, embaixadora Maria Luiza Viotti, afirmou que o país se absteve porque "gostaria que se tivesse chegado a um acordo antes de levar o texto a votação".

O documento esboçado pelos representantes europeus dizia, inicialmente, que "condena firmemente as violações graves e sistemáticas dos direitos humanos pelas autoridades sírias" e previa "medidas" se o regime de Al-Assad não pusesse fim à repressão no prazo de 30 dias. O embaixador francês na ONU, Gerard Araud, classificou o veto sino-russo como manifestação de "desprezo pelos interesses legítimos pelos quais se tem lutado na Síria" e lamentou que Moscou tenha rejeitado as "muitas concessões" feitas na negociação do texto.

Mais cedo, Brasil e União Europeia tinham se declarado a favor de que a ONU continue a acompanhar a situação. Um comunicado conjunto, posterior à cúpula bienal Brasil-UE, celebrada em Bruxelas, expressava a "necessidade de pressionar as autoridades sírias para que acabem com a violência e iniciem uma transição pacífica para a democracia". Segundo as Nações Unidas, 2,7 mil civis foram mortos desde o início das revoltas, há seis meses, enquanto o governo de Damasco culpa "gangues armadas apoiadas pelo exterior" pela morte de 700 membros das forças de segurança.

Enquanto as posições na ONU continuam imutáveis, alguns países seguem tomando medidas unilaterais para condenar a violência contra a população. O Ministério das Relações Exteriores do Canadá anunciou ontem sanções às exportações de petróleo e a investimentos no setor.

Deserção O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, cujo país já impôs um embargo de armas à Síria, anunciou planos para estender as sanções depois que visitar um campo de refugiados sírios dentro da Turquia, nos próximos dias. O país deu refúgio ontem a um coronel sírio que desertou e se juntou à revolta contra Al-Assad. Em entrevista à agência de notícias estatal turca Anatolian, o coronel Riad Al-As"ad afirmou que tinha sido alvo de repressão na região de Rastan, perto da cidade de Homs, mas havia escapado para o país vizinho.