O globo, n. 30197, 10/04/2016. País, p. 10

Crise no PT afasta prefeitos, que deixam sigla para disputar reeleição

Paraná, Rio e São Paulo estão entre os estados que mais tiveram baixas

-SÃO PAULO- Com receio de sofrer nas eleições municipais deste ano as consequências da maior crise da história do partido, uma nova leva de prefeitos deixou o PT no último mês. O balanço realizado pelo GLOBO junto a diretórios petistas de 16 estados mostra que a legenda perdeu 72 prefeitos desde 2012. O número representa uma redução de quase 20% do total de 386 chefes de executivo que haviam sido eleitos pela sigla nesses estados na última eleição municipal.

Os estados mais afetados pelas deserções foram o Paraná, Rio, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás. O prazo para troca de legenda para quem planeja se candidatar em outubro terminou na semana passada.

Nos outros dez estados, as direções petistas ainda não terminaram de contabilizar as baixas ou não quiseram informar a movimentação. Em 2012, o PT havia elegido 635 prefeitos em todo o país. O comando nacional do PT ainda não fechou um levantamento total da debandada, mas acredita que as saídas devem ser minimizadas por causa do cenário adverso para a legenda.

— Se considerarmos os ataques que nós estamos sofrendo, tivemos poucas perdas — avalia Florisvaldo Souza, secretário nacional de organização do partido.

Os prefeitos que decidiram abandonar o partido, em geral, devem ser candidatos à reeleição em outubro. Boa parte dos que ficaram não terá que enfrentar as urnas em outubro.

Reservadamente, petistas reconhecem que o desgaste provocado pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e pelas citações ao partido na Operação Lava-Jato levaram à perda de quadros, tanto que o diretório do Paraná, com 19 baixas, foi um dos mais prejudicados.

No Rio, com as novas baixas, o PT ficou apenas com quatro prefeitos. Há quatro anos, a legenda havia elegido 11 chefes de executivos municipais. A principal deserção foi a do prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, que se filiou ao PDT para disputar a reeleição. Também deixou a legenda na última leva de baixas Tarciso Pessoa, prefeito de Paracambi. Das 92 municípios do Rio, o partido mantém o comando de: Maricá, Angra dos Reis, Natividade e Pinheiral.

O presidente do partido no Rio, Washington Quaquá, que também é prefeito de Maricá, acredita que os que saíram já não tinham muita identificação com as bandeiras petistas:

— O PT perdeu o charme eleitoral. Essas pessoas estavam pela benesse eleitoral. Quando o barco começa a chacoalhar na tormenta, nego pula. Fica quem é firme — afirmou.

Quaquá ainda destaca que os que abandonaram a sigla já haviam se distanciado desde 2014, quando apoiaram a reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) em detrimento do candidato do PT, o senador Lindbergh Farias:

— Os que saíram já estavam fora porque fizeram campanha para o Pezão. Já havia um processo de degeneração do PT há muito tempo.

EM SP, MENOS UM TERÇO

Em São Paulo, o PT perdeu um terço dos prefeitos. Com as trocas de partido registradas nos últimos dias, o total de chefes de executivos municipais que abandonaram a legenda chegou a 24, de acordo com a direção estadual. No estado, a maioria das baixas havia acontecido no segundo semestre do ano passado.

Em 2012, o partido tinha eleito 72 prefeitos no maior estado do país. Com as baixas, agora são apenas 48 cidades administradas pela legenda. Ainda de acordo com a direção estadual, apenas um prefeito de cidade grande, Jorge Lapas, de Osasco, abandonou o partido. Lapas, que estava há 11 anos no PT, se filiou ao PDT para disputar a reeleição. Osasco, de 660 mil habitantes, fazia parte do cinturão vermelho, grupo de cidades da Região Metropolitana de São Paulo administradas pelo partido.

— A gente vinha tendo problemas tanto em nível nacional como em nível local — justificou o prefeito.