Correio braziliense, n. 44739, 14/04/2016. Política, p. A11

Moro sonha com o fim da Lava Jato até dezembro

Juiz da Lava Jato diz a interlocutores que prazo é ‘uma expectativa ou um desejo’ e que ficou ‘consternardo’ com intolerância de militâncias
Por: Fausto Macedo / Julia Affonso / Alexandre Hisayasu

 

Fausto Macedo

Julia Affonso

Alexandre Hisayasu

 

A Operação Lava Jato pode ser concluída até dezembro. O juiz Sérgio Moro tem dito a interlocutores que essa é a sua “expectativa”. Considera que a sequência de desdobramentos da investigação conduzida por ele na primeira instância pode provocar um desgaste na opinião pública.

“Terminar até dezembro a parte da primeira instância é uma expectativa ou um desejo”, disse Moro ontem a uma pessoa próxima. Mas ele próprio admite que essa é uma meta “imprevisível”. A cada desdobramento da operação surgem indicativos de outras tramas ilícitas envolvendo outros agentes públicos e políticos - o que força a abertura de novos procedimentos pela Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República.

Apesar das declarações de solidariedade que tem recebido nas redes sociais e em eventos dos quais participa, o juiz da Lava jato tem dito a interlocutores que ficou “consternado” com o que chama de “manifestações de raiva e intolerância” registradas nas últimas semanas.

 

Estopim. Tais manifestações ganharam força sobretudo depois que a Lava Jato conduziu coercitivamente o ex-presidente Lula, no dia 4 de março, para depor nos autos da Operação Aletheia - fase da Lava Jato que investiga o sítio Santa Bárbara, de Atibaia, cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente.

A condução coercitiva do petista foi decretada por Moro que, em sua decisão, destacou que não se tratava de uma antecipação de condenação, mas apenas de uma medida necessária para a investigação. A medida desencadeou uma série de críticas ao juiz do governo, juristas e de movimentos de esquerda do espectro político.

 

Sinergia. Moro também tem insistido na linha de que a Justiça sozinha não pode combater a corrupção. Ele acredita que o momento atual requer que outras instituições, e também a sociedade, se empenhem mais para alcançar mudanças importantes que possam levar a um combate mais eficaz à corrupção e à redução do quadro de impunidade.

O juiz considera que um primeiro passo nessa direção foi dado pelo Supremo Tribunal Federal. Em recente decisão, a Corte admitiu execução de prisão de condenados em ações penais quando a sentença é confirmada por colegiado de segundo grau, o que inflamou o debate entre grupos contrários.

A Lava Jato está em sua 28.ª etapa ostensiva - a primeira foi deflagrada em março de 2014. Desde então, vem sendo mantida média superior a uma operação por mês.

A investigação, que inicialmente mirava em quatro grupos de doleiros, desvendou um esquema complexo de corrupção, propinas e cartel de empreiteiras na Petrobrás.

Com a descoberta sobre supostos pagamentos a deputados, senadores e governadores, a Lava Jato chegou ao Supremo Tribunal Federal, instância máxima que detém poderes para processar políticos com foro privilegiado.

As delações premiadas, quase 50, são o grande aliado da Lava Jato, mas recebem pesadas críticas de advogados e juristas.

Todas as ações penais da Lava Jato na primeira instância estão sob responsabilidade do juiz.

Em uma atuação incomum para os padrões da Justiça brasileira, Moro tem conduzido em ritmo acelerado os processos criminais, impondo pesadas condenações a políticos, doleiros, empreiteiros, operadores de propinas e ex-dirigentes da Petrobrás. Recebe críticas, porém, de que sua condução está partidarizada. Suas decisões têm sido confirmadas pelas instâncias superiores do Judiciário, a partir do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região.