O Estado de São Paulo, n. 44745, 20/04/2016. Política, p. A8

Dilma cogita denunciar ‘golpe’ na ONU

Presidente discutiu com auxiliares possibilidade de usar tribuna da Organização das Nações Unidas para criticar processo de impeachment
Por: Tânia Monteiro / Gustavo Porto

 

Tânia Monteiro

Gustavo Porto / BRASÍLIA

 

Como estratégia de defesa contra o processo de impeachment no Senado, a presidente Dilma Rousseff discutiu ontem com auxiliares a possibilidade de utilizar a tribuna da Organização das Nações Unidas (ONU) para denunciar o que chama de “golpe” contra seu mandato, durante a cerimônia de assinatura do Acordo de Paris sobre Mudança Climática, na sexta- feira, em Nova York.

Na semana passada, a viagem dependia da não aprovação do processo de impeachment na Câmara. Com a derrota, a viagem foi suspensa, mas agora, com a estratégia de difundir a mensagem de ruptura institucional, a presidente voltou a discutir o assunto no Planalto, sem ainda uma decisão definitiva.

O chamado “escalão avançado” com seguranças e diplomatas que prepara a visita da chefe de Estado deve chegar a Nova York hoje. A ida da comitiva de Dilma, no entanto, não significa que a viagem está definida. A ideia é que a presidente embarque amanhã e volte no sábado.

Em caso afirmativo, quem assume o cargo é o seu vice- presidente Michel Temer, a quem Dilma tem acusado de “traidor”, “golpista” e “conspirador”.

Além de Nova York, a agenda de Dilma com eventos populares será retomada na próxima semana com uma viagem prevista a Salvador (BA). A viagem deve ocorrer na segunda-feira ou terça- feira da próxima semana para uma cerimônia de entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida.

 

Estrangeiros. O plano de defesa da presidente inclui conceder entrevista a correspondentes estrangeiros. Dilma retomou ontem, em entrevista a jornalistas estrangeiros, as críticas ao processo de impeachment contra ela. “Estou sendo vítima de um processo baseado em uma flagrante injustiça e fraude jurídica e política e, ao mesmo tempo, de um golpe.

O Brasil tem um veio golpista adormecido”, afirmou.

Dilma disse ter certeza de que não houve um único presidente depois da redemocratização do Brasil que não enfrentou processo de impeachment no Congresso e lembrou que ela não pode ser julgada pela crise econômica do País. “Me culpam como se eu fosse responsável pelo fim do superciclo da commodities, como se no resto do mundo essas dificuldade não fossem em escala maior.” Dilma voltou também a criticar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e reservou um longo tempo para tentar explicar as chamadas pedaladas fiscais, base do pedido de impeachment. Segundo ela, o impeachment é por questões contábeis e não pelo mau uso do dinheiro público.