O Estado de São Paulo, n. 44743, 18/04/2016. Opinião, p. A3

A ameaça petista

 

O Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu no início dos anos 80 pretendendo ser o abrigo do pensamento dito progressista, o santuário da ética na política, o modelo de participação democrática de todos os setores da sociedade na política e na administração pública. Era essa a sua promessa, traduzida pela liderança carismática do ex-metalúrgico e líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.

Três décadas depois, o partido portador da grande nova revela por inteiro sua verdadeira natureza - autoritária e venal -, tornando-se um dos maiores obstáculos para o pleno funcionamento da democracia, justamente no momento em que as instituições nacionais passam por um grande teste de resistência em meio ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A ameaça petista de incendiar o País - e de transformar o Palácio da Alvorada em uma cidadela para defender Dilma de um “golpe”, que nada mais é do que a decisão soberana de um Congresso legitimamente eleito - é expressão clara do espírito golpista de seus líderes.

Nenhum observador mais atento da vida nacional pode se dizer surpreso. O PT sempre demonstrou muita dificuldade em aceitar as regras do jogo democrático quando esteve na oposição. Recusou-se a dialogar com todos os governos, sabotou todos os esforços para estabilizar a economia e dificultou ao máximo a aprovação das necessárias reformas constitucionais para modernizar o Estado, tudo com o objetivo de criar uma atmosfera de confronto - sob a qual, calculou, teria mais chances eleitorais. É na confusão moral que costuma vicejar o tipo de política praticado pelo PT.

Uma vez no governo, o partido da ética, herói da democracia, não se constrangeu em incentivar a promiscuidade e a corrupção para facilitar seu trabalho de controlar o Congresso. Afinal, o PT nunca demonstrou legítima disposição para dividir o poder e fazer concessões em relação a propostas de governo, algo que está na base de qualquer democracia saudável, pela simples razão de que jamais pretendeu fazer concessões.

Certo de ser o portador da verdade histórica, que, por definição, inviabiliza qualquer negociação, o PT tratou a democracia como um obstáculo, a ser superado na base do simples toma lá dá cá, encabrestando as instituições. O partido de Lula, José Dirceu et caterva jamais teve aliados; sempre teve cúmplices.

Praticamente devolvido agora à condição de opositor, o PT demonstra mais uma vez que não aprendeu nada - ao contrário, trata de reafirmar de forma clara a sua natureza autoritária. Justamente no momento em que o País clama por serenidade, para que a transição que se completará nas próximas semanas se dê da maneira mais civilizada possível, eis que os petistas ameaçam o País com a violência que resume sua índole.

Infelizmente, podemos esperar muita intranquilidade nos próximos tempos, estimulada pela tigrada. Há ameaças de greves e manifestações diárias, cujo potencial disruptivo não é desprezível. Vários dos irresponsáveis chefes de grupelhos disfarçados de “movimentos sociais”, que ganharam poder sob o lulopetismo, já expressaram sua disposição de fazer “guerra” - essa é a palavra que usaram, e não se deve ter esperança de que se trate de mera força de expressão, pois essa turma já provou muitas vezes do que é capaz.

Além disso, a expectativa é de que haja muitos problemas no Congresso, que já conhece bem o modo petista de fazer oposição. Votações cruciais para arrancar o País da grave crise em que os desastrosos governos petistas o meteram deverão ser a oportunidade que o PT espera para tentar desforrar a derrota no impeachment. Para o lulopetismo, quanto pior, melhor.

Assim, ficará claro de uma vez por todas que o PT jamais quis ajudar a construir um país moderno, decente e forte. Sua única preocupação sempre foi a de polir a biografia de Lula, construindo para seu líder messiânico a imagem de inatacável protetor dos pobres e preparando o terreno para sua perpetuação no poder, à moda dos caudilhos que marcaram tristemente a história latino-americana.