O Estado de São Paulo, n. 44743, 18/04/2016. Política, p. A11

Senadores já articulam eleição antecipada

PEC eleitoral será discutida amanhã pelo PT; parlamentares admitem dificuldade da proposta
Por: Fabio Fabrini

 

Fábio Fabrini / BRASÍLIA

 

Um grupo de seis senadores vai propor hoje eleições antecipadas para presidente e vice-presidente do Brasil. A ideia é aprovar uma proposta de emenda à Constituição (PEC) no Congresso para que a escolha ocorra em outubro, com o pleito para definir novos prefeitos e vereadores. A proposta também será discutida amanhã pelo diretório do PT.

A iniciativa parte de Randolfe Rodrigues (Rede), João Capiberibe (PSB-AP), Lídice da Mata (PSB-BA), Paulo Paim (PT-RS), Cristovam Buarque (PPS-DF) e Walter Pinheiro (ex-PT-BA, agora sem partido). Os quatro primeiros se manifestaram contra a abertura do impeachment no Senado, que implicaria o afastamento de Dilma por 180 dias, enquanto Cristovam Buarque é a favor e Pinheiro não se posicionou. No grupo, contudo, há consenso de que qualquer desfecho do processo não resolverá a crise, tornando-a mais grave.

O PT debate a possibilidade de coletar assinaturas em campanha nacional pela tramitação da PEC eleitoral. A estratégia, chamada de “contragolpe”, é conseguir amplo apoio popular à proposta, pressionando o Congresso a votá-la. Pesquisas de opinião mostram que a rejeição ao vice-presidente, Michel Temer, é tão grande quanto a rejeição a Dilma, o que, em tese, ajudaria o movimento.

Em conversa com jornalistas, a própria presidente admitiu “respeitar” uma solução que passe pelo voto popular.

 

Consenso. Cristovam Buarque afirma que a solução não envolve apenas a aprovação de uma PEC, mas a concordância de Dilma e de Temer para evitar que a questão vire um impasse no Judiciário. “Mesmo que tenhamos dois terços da Câmara e dois terços do Senado (placar necessário para mudanças na Constituição), se eles entrarem no Supremo, pode ser que a Corte considere que ferimos uma cláusula pétrea”, explica. “Por isso, reconheço que a nossa proposta tem muita dificuldade.”

O grupo de congressistas, no entanto, vê possibilidade de um movimento nacional pelas eleições “pegar” diante das dificuldades que se apresentam tanto para a continuidade de um governo Dilma quanto para o início de uma gestão Temer.

A partir de hoje, o PT e seus aliados, incluindo parte dos movimentos sociais, devem iniciar uma investida para desgastar politicamente Temer e seu grupo, que enfrentariam, nessa perspectiva, forte oposição num eventual governo. Por outro lado, os obstáculos de Dilma serão imensos mesmo que, ao fim, ela consiga preservar a faixa presidencial, com sua base de apoio esfacelada e vários segmentos da sociedade alinhados por sua saída.

“Tenho a impressão de que estamos votando para escolher qual é o caminho que vamos seguir para o abismo, se é com Dilma ou com Temer”, comenta Buarque. “Nenhum dos dois lados tem condições de conduzir o País a uma situação melhor. Sem a legitimidade das urnas, eu não acredito.”

Em Fortaleza, antes mesmo de começar a votação do processo de impeachment, o ex-ministro da Educação Cid Gomes (PDT) defendeu, em seu perfil nas redes sociais, eleições gerais.

“Um monumental espetáculo de mediocridade nos discursos dos líderes - imagine os liderados - partidários. Um bom remédio para o Brasil seria o impedimento dos deputados”, comentou Cid no Facebook. Em seguida, o ex-ministro disparou: “São em sua grande maioria achacadores! Sanguessugas do País.” / COLABOROU CARMEN POMPEU, ESPECIAL PARA O ESTADO

 

Ataques

“Tenho a impressão de que estamos votando para escolher qual é o caminho que vamos seguir para o abismo, se é com Dilma ou com Temer”

Cristovam Buarque

SENADOR (PPS/DF)

 

“Um bom remédio para o Brasil seria o impedimento dos deputados”

Cid Gomes

EX-MINISTRO DA EDUCAÇÃO (PDT)