O Estado de São Paulo, n. 44743, 18/04/2016. Política, p. A17

Brasília teve oração e abraço coletivo

Votação foi acompanhada por 53 mil pessoas no lado pró-impeachment da Esplanada dos Ministérios; grupos prometem pressionar Senado
Por: Eduardo Rodrigues / Victor Martins / Valmar Hupsel Filho / Pedro Venceslau

 

BRASÍLIA

 

Quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) declarou o voto 342 a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a multidão explodiu no lado sul da Esplanada dos Ministérios, onde durante todo o dia manifestantes contrários ao governo se concentraram para acompanhar a votação na Câmara dos Deputados. Com o resultado garantido, as pessoas deram abraços coletivos, acenderam sinalizadores de fumaça e praticamente ignoraram o restante dos parlamentares que ainda votariam.

Os manifestantes pró-impeachment assistiram à votação em clima de torcida organizada. Desde o começo do dia, o “Mapa do Impeachment” e o “Muro da Vergonha” foram os dois pontos de encontro que mais atraíram os manifestantes pró-impeachment que chegavam ao lado sul da Esplanada.

No auge da manifestação, por volta das 20h, o grupo pró-impeachment somava 53 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. O número foi bem menor do que os 300 mil esperados pelos organizadores, mas superou com folga os 20 mil pró-governo que se reuniram do lado norte da Esplanada.

Manifestantes tiravam selfies com plaquinhas com os dizeres “Tchau, querida”. A cada voto “sim”, exibido em telões instalados na rua, os manifestantes gritavam, apertavam buzinas e batiam tambores. Os votos de “não” eram acompanhados de vaias. Quando era anunciada uma abstenção os manifestantes chamavam o deputado de “vendido”.

Com a proclamação do resultado o clima foi de festa, animada pela bateria de uma escola de samba do Distrito Federal. Rapidamente a multidão começou a se dispersar e um dos trios elétricos ainda conseguiu reter parte dos manifestantes para execução do Hino Nacional e um último e reduzido grupo encerrou a manifestação com uma oração.

Antes de deixar a Esplanada, parte dos manifestantes distribuiu rosas brancas aos Policiais Militares e bombeiros.

 

Pressão. Uma vez acolhida a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente, a pressão de grupos organizadores de manifestos de rua pró-impeachment se voltará para o Senado, responsável pela abertura ou arquivamento do processo. O foco será o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável pela condução do processo, além de senadores que se declaram indecisos ou contra o impedimento.

“Agora a pressão é total em cima de Renan”, disse um dos coordenadores nacionais do Movimento Brasil Livre (MBL) Renan Santos. A intenção é fazer com que o peemedebista conduza o processo com celeridade para que a votação aconteça perto de 11 de maio.

A pressão, segundo Santos, será de baixo para cima, a partir de Alagoas, Estado natal do presidente do Senado. Prefeitos da base de apoio de Renan e de seu filho, o governador de Alagoas, Renan Filho, serão provocados por integrantes do movimento a engrossar a pressão por um processo rápido. “Kim (Kataguiri, outro coordenador nacional do movimento) vai a Alagoas para pressionar”, disse.

Dileta Correia Silva, coordenadora do Movimento de Resistência Popular, grupo que está acampado em Brasília, garantiu que a concentração permanecerá até que o processo de impeachment seja admitido pelo plenário do Senado.

 

Dados. Além disso, os grupos pró-impeachment pretendem transferir para os senadores as mesmas ações que fizeram com os deputados. Aqueles contra o impeachment e os indecisos deverão ter nomes, telefones e e-mails divulgados nas páginas dos grupos pró-impeachment na internet e a seus seguidores via grupos de WhatsApp.

O porta-voz do Vem pra Rua, Júlio Lins, disse que a pressão, agora, será para que Renan Calheiros conduza o processo em duas sessões. “Ele disse que quer fazer em dez, mas vamos pressionar para ser em duas.”/ EDUARDO RODRIGUES, VICTOR MARTINS, VALMAR HUPSEL FILHO e PEDRO VENCESLAU