O Estado de São Paulo, n. 44734, 09/04/2016. Política, p. A4

TUCANOS FECHAM QUESTÃO CONTRA NOVAS ELEIÇÕES E POR APOIO A MICHEL TEMER

Crise. Principais líderes do PSDB se reúnem em São Paulo para defender o vice-presidente de críticas do PT e rechaçar a hipótese de nova disputa presidencial, antes defendida pelo partido, inclusive com ações no TSE, e que hoje é encampada por setores do PMDB
Por: Pedro Venceslau / Elisabeth Lopes / Ana Fernandes

 

Pedro Venceslau

Elisabeth Lopes

Ana Fernandes

 

A uma semana da data estimada para a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, a cúpula do PSDB se reuniu ontem em São Paulo para dar uma demonstração de unidade, sepultar a tese de novas eleições e referendar o apoio a Michel Temer (PMDB) e defender o vice-presidente dos ataques do PT e dos governistas.

O encontro ocorreu em um momento de turbulência interna do partido. O governador Geraldo Alckmin enfrenta um racha sem precedentes em São Paulo devido ao apoio que deu ao empresário João Doria nas prévias da capital e os tucanos divergem sobre a participação em um eventual Ministério de Michel Temer.

O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o ex -presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores Aloysio Nunes e José Serra, os governador Beto Richa (PR) e Pedro Taques (MT), além de parlamentares tucanos, se reuniram no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Durante o encontro, os tucanos decidiram retirar de uma vez por todas a proposta de realizar novas eleições e selar o apoio total à “solução Temer”.

No fim do ano passado, às vésperas do recesso parlamentar, as principais lideranças do PSDB no Congresso anunciaram que a melhor saída para a crise política seria a realização de novas eleições, e não apenas o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Essa ainda é a bandeira da ex-ministra Marina Silva (Rede), um dos nomes mais lembrados pelo eleitor neste momento. Embora os discursos dos tucanos no Congresso já demonstrassem uma nova estratégia retórica, a posição partidária não havia mudado oficialmente até a reunião de ontem na capital paulista. “O PSDB reafirma o seu compromisso absoluto com a interrupção do mandato da presidente Dilma pela via constitucional do impeachment: 100% do partido apoia o afastamento”, afirmou Aécio em entrevista coletiva após a reunião no Palácio dos Bandeirantes. Em seguida, o senador fez uma ponderação: “O PSDB não é beneficiário dessa solução”. Em sua fala, Alckmin ressaltou que o momento é de “unidade” em benefício do povo brasileiro. “O quadro político é de extrema gravidade e precisa ser aliviado. A população brasileira quer mudança. Nós temos lado: o lado da mudança”.

Motivo de divergência interna, o debate sobre a participação do PSDB com cargos em um eventual governo Temer foi adiada para depois da votação do impedimento. Entusiasta de um apoio mais efetivo do PSDB a um novo governo, José Serra não participou da entrevista coletiva após o evento.

Sobre a tese de realizar novas eleições gerais, que hoje é defendida por parte do PMDB e ventilada por setores do governo, o PSDB foi unânime. O secretário geral do partido, deputado Silvio Torres (SP), classificou como “absurda” a proposta. “Não há a menor chance de realizar eleições gerais”, afirmou ele.

Terminada reunião, Aécio seguiu com uma comitiva de deputados para um evento organizado pela Força Sindical, também em São Paulo, que teve com um dos objetivos principais dar apoio ao vice-presidente Michel Temer, que é alvo de um pedido de impeachment na Câmara dos Deputados.

“O impeachment (de Dilma Rousseff) não era a primeira opção de muitos de nós tucanos. Sempre achamos que a realização de novas eleições a partir do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) talvez fosse o caminho que legitimasse de forma mais adequada um novo governo, afirmou Aécio. “Mas hoje há uma convergência em razão da necessidade de essa mudança acontecer rapidamente. Não se sabe o que acontecerá no TSE nem quando. O impeachment está nas nossas mãos”, completou o senador.

Para os líderes da oposição no Congresso, o momento agora é de “defender” Temer dos “ataques” dos petistas.

“O Michel Temer está sendo alvo do PT, que fala abertamente no Congresso em desconstruir e danificar a imagem dele. O vice-presidente, hoje, é quem tem a prerrogativa de manter a ordem constitucional”, diz o deputado Mendonça Filho, líder da oposição na Câmara. (Pedro Venceslau, Elisabeth Lopes e Ana Fernandes)

 

Linha de frente. Entre os governador es Alckmin e Taques, FHC defende o impeachme nt de Dilma Rousseff

 

PONTOS-CHAVE

Partido já contestou mandato

Outubro de 2014

O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) pede ao TSE a recontagem dos votos da eleição presidencial daquele ano. A auditoria conclui que não houve fraude.

 

Dezembro de 2014

O PSDB pede ao TSE a cassação do registro da chapa Dilma-Temer por abuso de poder na campanha. Ao todo, o partido entrou com 4 ações no tribunal.

 

Março de 2016

Antes contrário ao processo de impeachment, o ex-presidente FHC diz ao ‘Estado’ que o impedimento de Dilma Rousseff é a única saída para a crise no País.