Igor Gadelha
Valmar Hupsel Filho / BRASÍLIA
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), anunciou na noite de ontem o desembarque do partido da gestão Dilma Rousseff. A decisão da legenda, apontada como peça fundamental pelo Palácio do Planalto em sua luta para evitar o impeachment da presidente, foi mais um duro revés na estratégia governista e fez crescer a sensação de que uma de nova debandada de apoiadores ocorra de hoje até domingo, quando o impeachment deverá ser votado no plenário da Câmara.
Desde o fim de março, quando o PMDB anunciou sua ruptura com o governo Dilma, a base de apoio da petista vem se esfacelando. Nesta reta final do impeachment na Câmara, o Planalto devera contar apenas com apoios formais dos tradicionais partidos à esquerda do espectro político.
Líderes da oposição comemoraram a decisão e afirmaram que ela praticamente sela o impeachment de Dilma na Câmara. Petistas avaliam que a situação se complicou e que o Planalto terá de trabalhar dobrado nos próximos dias para reverter o quadro.
O anúncio de Nogueira foi feito logo após o dirigente receber das mãos do líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), o resultado da reunião da bancada da Casa. Dos 47 deputados, 31 declararam apoio ao impeachment e 13 foram contrários – três se ausentaram, incluindo o ex-líder Eduardo da Fonte (PE). “É uma decisão que eu não defendia, não vou negar. Mas não vejo outra alternativa do que acatar a decisão da bancada”, afirmou Nogueira.
Antes de fazer o anúncio, o presidente do PP orientou os indicados do partido a entregarem suas cartas de renúncia aos cargos, em especial o ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, e os diretores-gerais do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), cargos cobiçados no Nordeste. No entanto, Nogueira e Ribeiro disseram que o partido não vai “perseguir ou penalizar” quem não seguir a posição majoritária da bancada.
Ex-ministro das Cidades, Ribeiro indicou uma possível mudança de posição pessoal. “Sou líder de uma bancada, tenho que acompanhar”, afirmou. O líder do PP tinha votado contra o parecer da Comissão Especial.
Efeito manada’. Membros da cúpula do PP afirmaram que a decisão pelo desembarque foi motivada pelo que chamam de “efeito manada”da votação anteontem do parecer pró-impeachment na comissão. O documento foi aprovado por 38 votos a 27, com votos contrários de dois dos três deputados do PSD,entre eles o líder, Rogério Rosso (DF). Além disso, o deputado Maurício Quintella (AL) deixou a liderança do PR para votar a favor do impeachment no colegiado.
Segundo o parlamentar, cerca de 25 dos 40 deputados devem acompanhá-lo.
Repercussão. A decisão do PP mudou o discurso até então otimista dos deputados governistas. “Foi sem dúvida muito ruim. De qualquer forma, há uma franja de votos do PP que estará contra o impeachment”, afirmou o deputado Vicente Cândido (PT-SP).
A oposição comemorou a decisão do PP, cujos votos são considerados fundamentais para conseguir os 342 votos mínimos para aprovar o impeachment.“O vira- vira está tão intenso que a sensação é que o barco está afundando e não tem salva-vidas para todos. E agora é correria”, disse o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
Não bastasse o revés de ver o PP debandar do governo, o Planalto também viu o PRB anunciar que suas bancadas, na Câmara e no Senado, votarão integralmente a favor do impeachment de Dilma. O partido tem 22 deputados e um senador, Marcelo Crivella (RJ). O anúncio foi feito ontem pelo presidente do partido, Marcos Pereira.
Ele estava acompanhado dos deputados do PRB e do senador. Segundo Pereira, não haverá punição a dissidentes porque “todos os parlamentares concordaram com a decisão”. “Por unanimidade o partido decidiu votar favorável ao impeachment.
Era um tema que vínhamos sendo questionados pela sociedade desde quando deixamos a base do governo para nos tornarmos independentes no Congresso”, disse. O partido, que controlava o Ministério do Esporte, compôs a base até março, quando decidiu pela independência. O PRB decidiu, segundo Pereira, após analisar o relatório do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) e a defesa do governo. Pesou na decisão os planos para as eleições municipais.
O PRB terá candidatos em oito capitais, entre elas São Paulo, com o deputado Celso Russomanno, e Rio, com o senador Marcelo Crivella. / COLABORARAM PEDRO VENCESLAU e DANIEL CARVALHO
“Não me cabe outra alternativa a não ser acatar a decisão da bancada”
Ciro Nogueira (PI), senador e presidente nacional do PP
Lista. No blog Almoço Grátis também é possível ver a lista de probabilidades para cada deputado indeciso ou que não se manifestou.
Ex-aliado de peso
47 deputados compõem a bancada do PP na Câmara. O partido é o terceiro maior em número de deputados desde a janela partidária, encerrada no mês passado
6 senadores fazem parte da bancada do PP na Casa. É o quinto maior partido no Senado, atrás de PMDB, PT, PSDB e PSB
1 ministério está sob o comando do PP, o da Integração Nacional. O partido passou a compor os governos petistas em 2005, após a crise do mensalão no governo Lula
BASE FRACIONADA
Deixaram a coalização
PMDB
PARTIDO PROGRESSISTA
PRB
A bancada do PMDB na Câmara tem 66 deputados; o PP possui 47 representantes e o PRB, 22 parlamentares.
Estudam sair da base
PSD
PR
O PSD tem 36 deputados e comanda o Ministério das Cidades; o PR tem 40 deputados e está à frente dos Transportes.
Continuam
PT
PCdoB
PDT
PROS
A bancada do PT é composta por 57 deputados; o PDT possui 20 parlamentares na Câmara; o PC do B tem 11 e o PROS, 6.