Gustavo Porto

Tânia Monteiro

Vera Rosa / BRASÍLIA

Em um duro discurso, direcionado ao vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas sem citá-los nominalmente, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que “existem dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada”.

Numa cerimônia com representantes da educação, no Palácio do Planalto – transformado em tribuna contra o impeachment – Dilma se referiu a Cunha e a Temer como chefe e vice- chefe do “gabinete do golpe”, que tentam montar uma fraude para interromper, no Congresso, o mandato dela.

As críticas de Dilma foram feitas quando ela citou o vazamento, na segunda-feira, de áudio no qual Temer fala como se o processo de admissibilidade do impeachment já tivesse sido aprovado na Câmara, em votação prevista para domingo. Temer assumiu o áudio e atribuiu o vazamento a um equívoco.

“Vivemos tempos estranhos e preocupantes; tempos de golpe, de farsa e de traição . (...) Utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração”, afirmou Dilma. “Conspiram abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidente legitimamente eleita”, emendou ela, sob os gritos de “Fora Temer” e “Dilma, rainha; Temer, nadinha”. Para a presidente, as calúnias contra ela ocorrem enquanto “leiloam posições no gabinete do golpe, no governo dos ‘sem voto’”. Foi uma referência às negociações feitas pelo grupo de Temer para a formação de um novo governo, caso ela seja afastada.

O vazamento do áudio foi, de acordo com a presidente, uma “disfarce”para o golpe.“Subestimaram a inteligência dos brasileiros e brasileiras.” No áudio, de acordo com a presidente,“ Um dos chefes da conspiração”( Temer) assume a condição de presidente da República, “gesto que revela a traição a mim e, ainda, à democracia e explicita que esse chefe conspirador também não tem compromissos com o povo”. Ela acrescentou que a acusam de usar expedientes escusos,“ me olhando pelo espelho deles”. Dilma disse que Temer atropela ritos em curso no Congresso “em completo desrespeito ao Legislativo”.

‘Arrogância’. A presidente ironizou ainda o fato de Temer dizer, na gravação, que pensa em manter as conquistas sociais do governo dela e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre elas o Bolsa Família. “Como se conquistas sociais se pensasse, ou não, em manter”, desabafou. “É uma atitude de arrogância e desprezo pelo povo. Se ainda havia uma dúvida que há um golpe de estado em andamento, não há mais”.

Dilma disse não saber exatamente quem é o “chefe ou o vice-chefe do gabinete do golpe” e que estão “tentando montar uma fraude para interromper no Congresso” o mandato dela. Mas a presidente, sempre sem citá-los nominalmente, se referiu a Cunha como a “mão, não tão invisível assim, que conduz desvios de poder e abusos inimagináveis no processo de impeachment” e a Temer como o “outro (que) esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse”.

Para a presidente, o relatório aprovado anteontem na comissão da Câmara é frágil e o processo contra ela é comandado pelos que pretendem rasgar os mais de 54 milhões votos que obteve em 2014 e ainda os dos que não votaram nela e respeitaram o processo democrático. “Os golpistas tentarão de tudo, nos intimidar, nos tirar das ruas. Vazamentos ilegais e acusações sem provas podem acontecer”, afirmou. “Mas fiquem atentos, não aceitem provocações, não somos do ódio, somos da paz”.

Cargos. Dilma tem feito pelo menos dois discursos por semana contra os ataques que vem sofrendo. Na noite de ontem, ela se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com ministros do PT, no Palácio da Alvorada, para discutir os próximos passos da estratégia contra o impeachment. A ideia é liberar ainda mais cargos de segundo e terceiro escalões nos próximos três dias.

Farsa

“Ontem (anteontem) utilizaram a farsa do vazamento para difundir a ordem unida da conspiração

“Conspiram abertamente, à luz do dia, para desestabilizar uma presidente legitimamente eleita”

Dilma Rousseff

PRESIDENTE DA REPÚBLICA