O Estado de São Paulo, n. 44738, 13/04/2016. Política, p. A13

OAS pagou R$ 350 mil a paróquia ligada a Gim

Repasse foi feito a pedido de ex-senador, de acordo com o Ministério Público Federal
Por: Fábio Fabrini / Andreza Matais / Fausto Macedo

 

Fábio Fabrini

Andreza Matais / BRASÍLIA

Fausto Macedo

 

O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) indicou a conta bancária de uma igreja, da qual é frequentador, para receber propina da OAS, conforme as investigações da Operação Vitória de Pirro. Em 19 de maio de 2014, a empreiteira transferiu R$ 350 mil para a Paróquia de São Pedro, em Taguatinga, um dos redutos eleitorais do ex-congressista, que concorreria à reeleição, sendo derrotado.

Ontem,  a igreja admitiu o recebimento de recursos não só da OAS, mas de outras construtoras, a título de “doação” para uma festa religiosa. Além de Gim, o ex-governador do DF Agnelo Queiroz (PT-DF) teria intermediado repasse de R$ 300 mil com a Andrade Gutierrez e a Via Engenharia.

Conforme o Ministério Público Federal ( MPF), os R$ 350 mil da OAS foram pagos a pedido de Gim para evitar a convocação de José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, dono da empresa, e de outros empreiteiros nas duas CPIs da Petrobrás que funcionaram paralelamente em 2014.

O ex-senador foi vice- presidente da comissão parlamentar mista, composta por deputados e senadores, e relator da que foi formada apenas por senadores. Ambas foram criadas em maio.

 

‘Alcoólico’. Evidências da negociação de propina constam de mensagens trocadas por Pinheiro com outros empresários.

Numa delas, de 14 de maio, véspera da criação da CPI do Senado, ele escreve a Roberto Zardi, diretor de Relações Institucionais da empreiteira: “Preciso atender uma doação para Paróquia São Pedro”. Em 21 de maio, Zardi informa Pinheiro, referindo-se a Gim como “Alcoólico”: “Doação, confirmado recebimento – alcoólico”. Conforme os procuradores da Lava Jato, a doação foi paga com recursos desviados da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

A conta da paróquia é controlada pelo padre Moacir Anastácio.

Na representação enviada à Justiça, a Lava Jato registrou que, não necessariamente, o clérigo está envolvido em irregularidades.“ Há evidências de que Gim que possa ter destinado os valores em agradecimento ao apoio que o padre atribuía à campanha daquele”, diz o texto.

 

Defesa. Em ofício enviado à Lava Jato e nota divulgada à imprensa, o pároco disse que nunca teve contato com dirigentes da OAS. Em 2014, sustentou, o deputado distrital Washington Gil Mesquita (PSDB) “se ofereceu” para conseguir doadores, “culminando por pedir ajuda” a Gim. Ele informou que a igreja obteve R$ 300 mil da Andrade Gutierrez em 4 de junho daquele ano por “intermediação espontânea” do então governador Agnelo Queiroz. Ele também teria pedido pagamentos à Via Engenharia, mas o padre nãoprecisouovalor.“Esta Paróquia jamais teve acesso aos dirigentes das empresas acima referidas”, reforçou ele.

 

Versões

“Há evidências de que Gim (Argelo) possa ter destinado os valores em agradecimento ao apoio que o padre atribuía à campanha daquele” FORÇA-TAREFA DA LAVA JATO

 

“Esta paróquia jamais teve acesso aos dirigentes das empresas”

Moacir Anastácio

PADRE DA PARÓQUIA SÃO PEDRO