Título: Tensão vai continuar
Autor: Ribas, Silvio; Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 09/10/2011, Economia, p. 15

Diante do impasse que se vê entre os líderes da Europa para resolver tanto a grave situação da Grécia quanto a dos bancos da região, o mundo viverá dias difíceis. "O mercado é rígido na leitura dos fatos e contabiliza riscos. A economia mundial deverá, assim, continuar andando de lado", avalia Thomas Trebat, diretor executivo do Instituto de Estudos para a América Latina, da Universidade de Columbia, em Nova York. Mais que isso, os investidores passam a ser impiedosos com quem já gozou de credibilidade inabalável, tanto países e instituições.

Os inesperados episódios europeus desafiaram, por exemplo, a até então inabalável credibilidade do Fundo Monetário Internacional (FMI) durante tempestades financeiras. "O dilema do organismo, com a cúpula dividida entre propor a sua receita clássica de austeridade e a manutenção dos incentivos à atividade econômica, criou uma crise de identidade", analisa Gilberto Braga, professor do Ibmec-RJ. Para ele, os desfechos das tensões atuais vão levar a uma revisão da cartilha do Fundo, que ignorava o peso do Estado do bem-estar europeu.

"Pela primeira vez, o Fundo têm de lidar com o descalabro de países ricos e os paradoxos decorrentes. Enquanto fiscaliza a aplicação da sua cartilha na Grécia, reconhece que ela pode levar a uma recessão prolongada em todo o continente", confronta Braga. Contudo, o mais recente relatório do organismo sobre as perspectivas da economia mundial alerta para uma "fase perigosa", revisando para baixo o desempenho de todas as economias.