O globo, n. 30197, 26/04/2016. País, p. 6

Os rostos da Lava- Jato pintados a óleo

Artista plástico Gabriel Giucci abre exposição de retratos inspirados em alvos da operação

Diante do cenário de tensão, era natural que os jogos de poder entre políticos e empresários, bem como os próprios, chegassem ao universo artístico. Aos 29 anos, o artista Gabriel Giucci decidiu transformar em retratos a óleo as figuras públicas recorrentes no noticiário político atual. Inspirado pela Operação Lava- Jato, dedicou os últimos dois meses a pintar personagens que, desde meados de 2015, são parte da investigação. Entre eles, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), e o ex- ministro petista José Dirceu.

REPRODUÇÃO

Ao todo, 12 personagens na mira da Lava- Jato, políticos e empresários, compõem a exposição “Desvio”, que Giucci abre nesta quinta- feira para convidados ( sexta para o público), na galeria Portas Vilaseca, no Leblon, Zona Sul do Rio. Giucci buscou em sites jornalísticos seus personagens. DECADÊNCIA POLÍTICA Então, criou um vasto banco de dados a partir do qual pôde selecionar, por exemplo, o senador Fernando Collor de Mello ( PTC- AL) numa gargalhada, “o espectro do impeachment”, segundo Giucci. Ou Renan Calheiros ( PMDB- AL), num bocejo, o “abismo político do país atualmente”.

— O que faz a pintura ser boa não é exatamente a figura, mas a qualidade plástica que ela gera — afirma o artista. — O que importa é mais do que o personagem, mas as relações de poder, a troca de interesses que compõem aquela expressão facial, tanto que não dei nome aos trabalhos.

Para Giucci, “nada é mais revelador sobre o espírito de determinada época do que os rostos que a ela pertencem”. De Nova York, onde vive há três anos, acompanha as notícias da Lava Jato. Em abril do ano passado, fez os dois primeiros retratos: Graça Foster e Nestor Cerveró, cujas telas não estarão na exposição, por terem tamanhos maiores e características pictóricas distintas das criadas agora em 2016. Depois deles, o artista ficou um ano sem pintar. Tinha questionamentos sobre o que o levava a retratar aqueles rostos. Foi apenas no final de 2015, quando a operação tomou de vez os noticiários, que retomou a ideia do projeto.

— Não se trata de denegrir ou enaltecer o retratado. A Lava- Jato foi o ponto de partida dessa série, mas o panorama de decadência política passou a ser muito mais importante do que a operação em si.